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Coluna | Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Fideísmo: a maior barreira da fé

Alguns meses atrás, ao conversar com um membro da nossa igreja, entramos no assunto do mestrado que estou fazendo: filosofia da religião. Ao perceber que o rapaz não entendia exatamente do que se tratava, de maneira empolgada passei a explicar a ele...


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Alguns meses atrás, ao conversar com um membro da nossa igreja, entramos no assunto do mestrado que estou fazendo: filosofia da religião. Ao perceber que o rapaz não entendia exatamente do que se tratava, de maneira empolgada passei a explicar a ele que a filosofia da religião tratava basicamente da forma como podemos pensar na religião e nas nossas crenças religiosas de maneira racional e, também, nos preparar para responder os questionamentos racionais vindos da parte de pessoas que não creem em Deus. A reação dele não foi tão empolgada como a minha explicação. Contraiu os músculos da testa e da sobrancelha ao mesmo tempo e fez a pergunta que honestamente o estava atormentando durante toda a conversa: “Mas a nossa crença não deveria ser pela fé e pela fé somente? Não é em Hebreus 11 que se diz que a fé é a certeza das coisas que não se veem? Por que necessitamos de evidências racionais?”

Esse questionamento não é isolado. Ao realizar séries de apologética (defesa racional da fé cristã) por algumas cidades do Brasil, alguns membros tinham o mesmo questionamento e criavam automaticamente uma barreira para essa abordagem. Em termos mais técnicos, chamaríamos isso de fideísmo. O que significa isso? Fideísmo vem do latim fides que significa fé. Esta crença baseia-se na ideia de que todos os conceitos religiosos como crença em Deus, fidelidade à Bíblia como palavra revelada de Deus, entre outros, são inalcançáveis à razão e, portanto, devem ser justificados apenas através da fé. Para estes, a apologética é quase instrumento do “inimigo” para que nos apeguemos apenas em nossa capacidade mental de racionalizar e não na fé que devemos ter em vista destas questões!

Acredito que esse tipo de pensamento venha de um conceito falso do que é “fé”. Muitos mantém o conceito de que fé é um salto cego para um abismo divino em que não existe racionalização ou racionalidade. Fé é muito mais do que isso! Significa confiar a vida, as ações, os pensamentos e crenças a algo/alguém. Em termos cristãos trata-se de uma vida depositada nas mãos de Deus. Agora, pare para pensar um pouco comigo. Como alguém obtém fé? A Bíblia dá uma alternativa: “Mas nem todos deram ouvidos ao Evangelho. Pois Isaías disse: Senhor, quem creu a nossa mensagem? Logo a fé vem pelo ouvir, e o ouvir vem pela palavra de Cristo” (Romanos 10:16-17). Ou seja, uma das formas de se obter essa confiança em Deus é ouvir Sua Palavra. Isso não seria uma evidência dos feitos de Deus e de quem Ele é? Isso não é usar a razão para crer? Claro que sim!

O grande problema do fideísmo é que não importa o quanto digamos que não precisamos da razão para crer em Deus, quanto mais se cava, mais aparecem “bases” para a fé, ou seja, provas. Não é possível divorciar a fé de tais bases que o próprio Deus nos proporcionou. Vamos pensar um pouco mais: Por que será que Deus nos deu a capacidade de raciocinar? Será que era para que não a usássemos? Qual o motivo de Deus se revelar nas histórias da Bíblia, ou clamar através da natureza à respeito de Sua existência se não fosse para nos dar bases para a nossa fé?

A apologética é um lindo campo de estudo que demonstra o quanto Deus quer se revelar para mim e pra você. Não existe cegueira espiritual tão forte que não possa ser curada por esse Deus, que de muitas formas pode criar em nós a fé que Ele tanto quer que tenhamos. Basta “abrir os olhos”.

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

FÉ RACIONAL

Arqueologia bíblica e filosofia.

Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2007). Trabalhou como Capelão e Professor de Ensino Religioso no Colégio Adventista de Esteio, RS, e como Pastor Distrital em Caxias do Sul e em Porto Alegre, RS. Atualmente está fazendo seu mestrado em Arqueologia do Oriente Médio e Línguas Semíticas na Trinity International University, nos EUA. Marina Garner é Mestrando em Filosofia da Religião na Trinity International University e Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2009). Sua área de pesquisa é Filosofia da Religião.