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Coluna | Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

A Bíblia e a Escravidão

Muitas pessoas ficam chocadas ao descobrir inúmeras passagens do Antigo Testamento que demonstram a aprovação divina para a prática da escravidão no território de Israel. O que nós nos esquecemos constantemente é que a Bíblia não foi escrita no Brasi...


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Muitas pessoas ficam chocadas ao descobrir inúmeras passagens do Antigo Testamento que demonstram a aprovação divina para a prática da escravidão no território de Israel. O que nós nos esquecemos constantemente é que a Bíblia não foi escrita no Brasil, nem em português. Além de ter sido escrita há milênios, ela foi produzida numa outra cultura. Se quisermos ver sentido em algumas de suas práticas, não devemos compará-la com nossa cultura ocidental, mas sim com a vida e os costumes dos habitantes do Oriente Médio, na época em que os livros sagrados foram produzidos. Abaixo, você terá um breve resumo da legislação bíblica sobre a escravidão e uma rápida comparação de como outros povos viam essa prática.

Escravidão foi a primeira lei que Deus deu aos israelitas quando eles saíram do Egito (cf. Êx 21:1-11). Na lei mosaica, sequestrar alguém para ser vendido como escravo era um crime punido com pena capital (Êx 21:16). Um escravo hebreu deveria trabalhar apenas seis anos para pagar sua dívida, sendo libertado no sétimo ano, sem pagar nada (Êx 21:2). Além disso, ele deveria receber de seu proprietário alguns animais e alimentos para recomeçar a vida (Dt 15:13, 14). Durante seu período de serviço, o(a) escravo(a) teria um dia de folga semanal, o sábado (Êx 20:10). É interessante notar que na versão dos 10 mandamentos de Deuteronômio 5, é nos dito que o sábado foi dado para que o servo e a serva “descansem como tu”, no caso, o patrão.

Notou alguma diferença entre a escravidão bíblica e aquela mantida em nosso país, há alguns séculos? A diferença também é significativa quando comparamos essas passagens bíblicas com o famoso Código de Hamurabi, rei de Babilônia no 18º século a.C. Se algum escravo fugisse, ele deveria ser morto; enquanto isso, em Israel esse escravo deveria ser protegido (Dt 23:15, 16). Proteger um escravo fugitivo, em Babilônia, era uma grande ofensa, também punida com morte, como evidenciado nas leis 15-20 do referido código. Antes desse rei, que viveu em torno de 1.750 a.C., entre os sumérios, o termo arad (escravo, servo) era considerado como um objeto e era referido através de um pronome usado para descrever coisas (p. ex., o uso do it, em inglês).

Alguém pode questionar o motivo pelo qual Deus não aboliu a escravidão entre os israelitas. Lembre-se de que eles estavam inseridos numa cultura impregnada dessa prática. Mesmo que Deus a abolisse, isso não mudaria a forma como eles pensavam. A título de ilustração, imagine o árduo processo cultural para tornar a Arábia Saudita em uma democracia. Mesmo que essa mudança fosse feita, ainda levaria um bom tempo até que a mentalidade da nação fosse mudada. Deus humanizou essa prática em Israel. Em lugar algum do antigo Oriente Médio encontraremos escravo e senhor em pé de igualdade (cf. Jó 31:13-15).

Criticar a Bíblia afirmando que ela defende a prática da escravidão é desconhecer quase por completo o ambiente histórico no qual ela foi produzida.

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

FÉ RACIONAL

Arqueologia bíblica e filosofia.

Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2007). Trabalhou como Capelão e Professor de Ensino Religioso no Colégio Adventista de Esteio, RS, e como Pastor Distrital em Caxias do Sul e em Porto Alegre, RS. Atualmente está fazendo seu mestrado em Arqueologia do Oriente Médio e Línguas Semíticas na Trinity International University, nos EUA. Marina Garner é Mestrando em Filosofia da Religião na Trinity International University e Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2009). Sua área de pesquisa é Filosofia da Religião.