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Coluna | Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Deus encontra as pessoas onde elas estão

Nesse quarto trimestre (outubro-dezembro), todos os adventistas do sétimo dia ao redor do mundo estarão estudando a doutrina do Santuário, nossa maior contribuição como igreja para a teologia bíblica. O autor é um importante teólogo chamado Martin Pr...


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Nesse quarto trimestre (outubro-dezembro), todos os adventistas do sétimo dia ao redor do mundo estarão estudando a doutrina do Santuário, nossa maior contribuição como igreja para a teologia bíblica. O autor é um importante teólogo chamado Martin Pröbstle, que leciona num seminário adventista na Áustria. Não me contive e comecei a estudar a próxima lição há algumas semanas. Felizmente, uma das minhas matérias no mestrado é sobre templos, na Bíblia e no Antigo Oriente Médio. Quando mostrei nossa lição da Escola Sabatina para meu professor, John Monson, Ph.D. (Harvard University), ele não ficou apenas empolgado mas também quis uma cópia! (um evangélico querendo ler uma literatura adventista; será que o inverso também é possível?)

Por estarmos prestes a estudar um dos mais importantes tópicos das Escrituras, gostaria de compartilhar alguns insights sobre os templos de povos que viviam ao redor de Israel. Apenas relembrando, o santuário israelita era constituído por três partes: pátio, o lugar santo, e o lugar santíssimo. Curiosamente, quando alguém observa as construções religiosas de povos como babilônicos, assírios, hititas, egípcios, fenícios, edomitas, filisteus e até mesmo gregos, uma semelhança nas estruturas é automaticamente percebida. A maioria desses templos também era composta por três partes: um pátio e outros dois compartimentos, sendo que o último deles era que abrigava a estátua da divindade ali adorada, o lugar santíssimo. Veja, por exemplo, essa comparação entre o templo construído por Salomão, que segue basicamente o mesmo modelo do tabernáculo construído nos dias de Moisés e um templo construído na cidade de ‘Ain Dara, na Síria. Ambos foram construídos entre 1000 – 900 a.C.

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Ambos os templos possuíam uma sala principal (lugar santo) e um compartimento “mais sagrado” (lugar santíssimo). O templo de ‘Ain Dara é o paralelo mais forte do templo de Salomão, conforme as descrições que temos em 1 Reis 6 – 7. Gostaria de ter espaço suficiente para comparar a construção de Salomão com os templos dos povos mencionados acima. As semelhanças são inegáveis!

Muitos desses templos foram construídos seguindo as orientações de uma divindade. Por exemplo, o rei Gudea de Lagash, uma cidade não muito distante de Ur dos caldeus, construiu o templo do deus Ningirsu (c. 2100 – 2000 a.C.) de acordo com as ordens desse deus. Já o rei assírio Senaqueribe também construiu um templo em Nínive seguindo as orientações dos astros. O Faraó Tuthmoses III não apenas recebeu a incumbência de construir um templo ao deus egípcio Amon, mas também seguiu um modelo de templo, ou santuário celestial que lhe foi mostrado.  Curiosamente, em Êxodo 25:8-9, lemos: “E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio deles. Façam tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo do tabernáculo e de cada utensílio.”  (NVI)1 Novamente temos aqui uma divindade, Yahweh (ou Javé), ordenando a construção de um santuário e mostrando um modelo celestial para ser reproduzido pelos israelitas.

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Uma das diversas estátuas do rei Gudea, da cidade de Lagash.

Como explicar tantas semelhanças? Seriam os templos bíblicos (o tabernáculo do deserto e o templo de Salomão) simplesmente cópias de templos pagãos que já existiam naquela região? Não creio que essa seja a melhor resposta. É mais simples, na minha opinião, ver que Deus estava utilizando a cultura ao redor para se manifestar para Seu povo. Um importante princípio de interpretação bíblica é: Deus encontra as pessoas onde elas estão. Quando um israelita, por volta de 1400 a.C. (a época em que a Bíblia afirma que o êxodo ocorreu), ouvia a palavra templo (ou santuário), automaticamente ele pensava em um templo com três compartimentos, como falamos anteriormente. Deus se aproveitou da cultura daqueles dias para ensinar Suas preciosas verdades sobre o plano da salvação através daquele santuário.
É possível ver aqui um princípio que todo cristão deveria buscar ao apresentar o evangelho para um colega de trabalho ou familiar. É necessário construir uma ponte entre o mundo da Bíblia e o dia-a-dia daquela pessoa. Seja um executivo, uma dona de casa ou um jovem universitário. Assim como Deus usou a cultura daquele tempo para instruir os israelitas, devemos utilizar a realidade dessas pessoas para que a mensagem seja devidamente compreendida e mais fácil de ser recebida.2

1 Nova Versão Internacional
2 Para ideia de como tornar seus estudos bíblicos mais eficazes, ver Alberto R. Timm, “Estudos Bíblicos com Criatividade”, Revista Adventista, março 2004, pp.  8 – 10. Disponível em www.revistaadventista.com.br.

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

FÉ RACIONAL

Arqueologia bíblica e filosofia.

Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2007). Trabalhou como Capelão e Professor de Ensino Religioso no Colégio Adventista de Esteio, RS, e como Pastor Distrital em Caxias do Sul e em Porto Alegre, RS. Atualmente está fazendo seu mestrado em Arqueologia do Oriente Médio e Línguas Semíticas na Trinity International University, nos EUA. Marina Garner é Mestrando em Filosofia da Religião na Trinity International University e Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2009). Sua área de pesquisa é Filosofia da Religião.