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Coluna | Lía Treves

Workaholics e perfeccionistas

Há limites para tudo. Até para o trabalho


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O trabalho em excesso pode trazer prejuízo à saúde e aos relacionamentos (Foto: Flickr Herval. Imagen extraída de t13.cl)

Reflexão especialmente para nós que somos viciadas em trabalho, que não podemos deixar nada inconcluso; ou para as que são perfeccionistas, presas a todos os detalhes e que não podem ver algo que fique sem ser concluído.

Provavelmente você já ouviu isso em alguma reunião familiar: “Deixe isso para depois. Vamos agora passar um tempo juntos!” E pode ser que você tenha respondido: “Só me falta um e-mail!” E as horas passam até que você nota que ninguém mais a está esperando.

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Recebo mensagens de muitas mulheres que dizem sentir que seu casamento está a ponto de acabar, que os filhos estão seguindo por caminhos errados e perigosos, e que as coisas do dia a dia parecem nunca acabar. Mas quando perguntadas: “Quanto tempo você está dedicando à família?”, respondem: “Não muito, porque tenho de trabalhar.”

Talvez isso se deva à falta de compreensão da seriedade de dedicar um tempo para as coisas verdadeiramente transcendentes e que não podem ser delegadas, como ocorre com o trabalho.

Pesquisando esse tema em alguns livros, deparei-me com esta citação de Ellen White, que me provocou certo mal-estar: “Lembrai-vos de que o homem tem de preservar o talento da inteligência, dado por Deus, conservando a máquina física em harmoniosa ação. É necessário o exercício físico para que se desfrute saúde. Não é o trabalho, mas o excesso dele, sem períodos de descanso, o que faz desfalecer as pessoas, pondo em perigo as forças vitais. Os que se excedem no trabalho logo chegam ao ponto em que trabalham como quem não tem esperança” (Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 375).

Equilíbrio

O trabalho pode se tornar uma substância viciante porque gostamos do que fazemos. Porém, na maioria das vezes nós a usamos como uma desculpa para fugir de outras responsabilidades que consideramos entediantes ou de algum conflito familiar que não sabemos como solucionar ou para nos escondermos da sociedade que parece nos esmagar com tantas mudanças inesperadas. Então, buscamos uma zona de conforto que, para algumas, acaba sendo o trabalho.

Sempre haverá algo para fazer. Nunca concluímos todas as listas de atividades do dia, pois sempre aparece um novo compromisso ou desafio, e caso isso não ocorra, nós o fabricamos. A pessoa que sofre da síndrome do vício em trabalho não considera errado ficar um pouco mais para prosseguir e concluí-lo (ainda que isso nunca aconteça), deixando saúde física, as relações interpessoais e o descanso ao ar livre para o futuro.

De acordo com a psicóloga clínica Glenda Pinto, especialista em Recursos Humanos, as pessoas que não param de trabalhar são consideradas workaholics, ou viciadas em trabalho. “Trata-se de pessoas que não conseguem deixar de trabalhar. Caso parem, ficam ansiosas e se sentem culpadas. Não sabem o que fazer caso não estejam trabalhando. Elas se asseguram de sempre ter algo pendente para poder manter essa atividade de forma constante”, avalia.

Os workaholics, explica Glenda, vão perdendo a estabilidade emocional e se tornam viciados no controle e no poder, numa tentativa de obter êxito. Primordialmente, buscam enganar os assuntos não resolvidos em sua vida. Trata-se de uma manifestação de caráter obsessivo, que encontra no trabalho um objeto de fuga.

A citação de Ellen White prossegue dizendo: “O esforço físico e mental, combinados prudentemente, conservarão o homem todo em condições de ser aceitável a Deus” (Ibidem).

Ou seja, será que nosso trabalho pode ser rejeitado por Deus se for realizado à custa de nossa saúde? Claro que sim. Esse desequilíbrio salva a um, mas condena a outro e Deus não requer isso de nós.

Pausa necessária

Não devemos trabalhar em excesso. É melhor deixar alguma atividade para o dia seguinte a exceder-se e estressar-se, perdendo assim a força para enfrentar o próximo dia, correndo o risco de acabar vivendo entre desconhecidos, ainda que sejam familiares ou descobrindo que o mundo seguiu girando e fomos atropeladas pela idade, sem que pudéssemos desfrutar de um descanso restaurador.

Eclesiastes 9:10 diz: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.

Somos mordomos do precioso dom do tempo e assim não devemos deixar de lado momentos tão preciosos quanto o estar com a família, amigos, para o descanso, para descontrair, para brincar, fazer exercícios, para a boa leitura, para dar um passeio, para ter um bichinho de estimação e tantas outras coisas belas e importantes que Deus deseja que façam parte de nossa vida.

Queridas amigas, sejamos equilibradas em tudo. Deus nos pedirá contas das faculdades atrofiadas devido à nossa negligência. Dediquemos tempo do nosso dia para conversar com os filhos, com o marido; para fazer exercícios ou para fazer uma boa caminhada ao ar livre; para visitar uma amiga que há tempo não vemos; para telefonar para nossos pais e saber como estão; para preparar uma deliciosa refeição para aqueles a quem amamos. Tantas coisas que postergamos devido ao nosso vício.

Aprendamos a delegar, a estabelecer horários equitativos para o trabalho e para as demais atividades. Não sejamos perfeccionistas a ponto de não permitir que ninguém mais faça o que deve ser feito, ou seja, porque eu sei como fazer, como eu gosto, e ninguém mais faz como eu faço.

Oremos para que Deus nos ajude a ser temperantes em nosso trabalho, para que Ele nos ajude a nos organizarmos de tal modo que possamos Lhe dedicar uma parte importante de nosso dia e também aos outros ingredientes que fazem parte da totalidade de nosso ser.

Lía Treves

Lía Treves

Detalhes de Mulher

Um plano detalhado de Deus para mulher cristã de hoje.

Professora de ensino primário, é graduada pela Universidade Adventista del Plata, na Argentina. É casada com o pastor Jorge Rampogna e mãe de duas filhas.