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Coluna | Lía Treves

Minha vida é um chiclete

A expressão chiclete tem a ver com o puxa e solta de emoções, especialmente das mulheres. O desafio é lidar com tudo isso e seguir firme na missão.


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Os desafios de mulheres cristãs na missão é grande, especialmente com as mudanças constantes que o ministério impõe. Foto: Shutterstock

Sentada à minha mesa de trabalho, dei-me conta de que era hora de buscar minha filha que estava chegando para me visitar. Corri para o aeroporto. Nesse trajeto, eu refleti sobre a vida "chiclete" da esposa de pastor. Chiclete?

Sim, "chiclete", porque nossa vida se transforma em um puxa e solta de emoções que competem para ocupar um lugar em nosso coração. Precisamos ser verdadeiramente fortes para manter a compostura. Nem todo mundo resiste às lutas e bênçãos do ministério. Deus realmente escolhe mulheres únicas e especiais.

Há momentos em que somos puxadas por sentimentos de apego às pessoas, lugares, rotinas, coisas materiais que deixamos para trás.

Às vezes, somos esmagadas por fortes emoções que resultam de transferências repentinas, mudanças na área de trabalho, manipulação de nossos cronogramas e desafios que nos tiram da zona de conforto.

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Guerra de emoções

Outras vezes, somos "infladas" como um balão por demonstrações de afeto. Tanto da família, como dos amigos e irmãos da igreja; pessoas que não poupam esforços para nos fazer sentir valiosas e importantes, mesmo sabendo que só estamos de passagem.

Há momentos em que sentimos que a vida perde seu sabor. Não encontramos prazer nas coisas, porque não nos encaixamos no novo distrito pastoral ou na nova responsabilidade.

Outras vezes, o paladar se torna picante, mentolado após as discussões e divergências, julgamentos e preconceitos daqueles a quem lideramos. Diversas emoções que ocorrem em conjunto, e você tem de mantê-las todas em seu trilho sem permitir nem sequer um deslize.

Há pouco tempo nós éramos quatro em casa. Nossas meninas eram pequenas e corriam ao nosso redor na esperança de chamar nossa atenção. As emoções lutavam por elas, já que seu bem-estar era nossa prioridade.

Formávamos "balões" de alegria que nos envolviam em passeios familiares, nos programas que organizávamos para a igreja, no clube de desbravadores, na escola bíblica, no pequeno grupo, nas viagens para visitar familiares e amigos.

Nós nos esticávamos para alcançá-las em momentos de tristeza quando tínhamos de deixar amigos, vizinhos e familiares ao nos mudarmos para um novo lugar.

Nós nos encolhíamos quando não podíamos demonstrar preocupação ou tomar decisões difíceis na frente delas; com o objetivo de não as machucar, prejudicando seu crescimento e desenvolvimento emocional.

E nos esticamos até quase nos quebrar por mais de mil quilômetros quando o ninho ficou vazio. Depois da despedida, quando as meninas saíram de casa para estudar em nossas escolas cristãs, um lugar que eu e meu marido consideramos o melhor lugar para seu desenvolvimento harmonioso, e que fez parte de nossa adolescência.

A responsabilidade atual de meu marido o faz viajar muito, e poucos são os dias do mês nos quais ele dorme em casa.

Desafios

Quando acho que estou me acostumando a me alongar à noite e encontrá-lo do outro lado da cama, percebo que o lado dele está frio e vazio.

Quando penso que estou me acostumando a cozinhar para dois, percebo que a comida é deixada na panela e que, mesmo que eu a guarde na geladeira, não vou querer comer a mesma coisa todos os dias durante uma semana. Quando penso que vamos trabalhar juntos pela manhã, percebo que estou entrando no carro do lado errado, porque eu tenho de dirigir.

Quando penso que iremos juntos à igreja no sábado e que teremos o privilégio de estudar a Bíblia com nossos amigos, percebo que tenho que colocar o despertador para não ficar dormindo, já que ele não estará lá para me trazer café da manhã na cama, como de costume no sábado de manhã.

Quando penso que chegarei em casa e nós poderemos conversar sobre nosso dia, sentados, relaxando no sofá, percebo que tenho de esperar até que ele me ligue para podermos conversar. Porque ele pode estar em uma reunião importante que eu não posso interromper.

Agora tenho de ir buscar minha filha no aeroporto. Ela veio passar uns dias comigo, e minhas emoções quase não podem ser contidas. Produzem uma explosão de sabores que eu não quero mastigar muito rápido, para que o momento amargo da nova despedida não chegue logo.

Entre muitas emoções que me levam de um extremo a outro, há algumas que me enchem completamente e me dão a maior satisfação que eu poderia esperar da vida. Estar cumprindo o propósito para o qual Deus me criou, ser um instrumento em Suas mãos para completar Sua obra no lugar onde estou, ser um canal de bênção para aqueles que estão em minha zona de influência, ser a esposa de um pastor.

E você, querida amiga, que não é esposa de pastor, talvez você não sinta isso, mas, nesta vida agitada e desafiadora, eu tenho certeza de que você também sente que é um "chiclete" no puxa e solta de sua realidade.

Deus nos chamou para desfrutar dessa "mastigação", sabendo que nossa vida "chiclete" é um privilégio que poucos têm: o de pertencer a uma família diferenciada, uma família que "mastiga" a missão.

Minha vida é um "chiclete" de emoções que esticam e soltam, incham e explodem, com misturas de sabores e aromas que eu terei que cuidar para que não saiam do lugar; já que o "chiclete" foi um presente do Criador para que você possa apreciá-lo ao máximo antes que ele perca totalmente seu sabor.

 

Então, “mastigue”!

Lía Treves

Lía Treves

Detalhes de Mulher

Um plano detalhado de Deus para mulher cristã de hoje.

Professora de ensino primário, é graduada pela Universidade Adventista del Plata, na Argentina. É casada com o pastor Jorge Rampogna e mãe de duas filhas.