A Psicologia, a hipnose e os escritos cristãos
Os riscos da hipnose para quem entende que a mente é guiada por Deus
Quando decidi estudar Psicologia, ouvi alguns conselhos amedrontadores acerca de quão diabólico era aquilo que eu decidira cursar. Atualmente, sei que muitos cristãos compreendem a Psicologia de uma forma menos assustadora, possivelmente porque tiveram contato com algum bom profissional por meio de atendimento clínico ou palestra, ou até mesmo conhecem alguém que teve melhora na saúde e na qualidade de vida por ter se submetido a um processo terapêutico com um profissional psicólogo. No entanto, algumas coisas ainda parecem obscuras para o leigo, e irei falar, brevemente, aqui de apenas uma delas: a hipnose.
Durante a graduação, meu contato com a hipnose foi pequeno. Lembro-me agora de ter lido algumas coisas nas obras de Freud, de ter assistido a uma sessão demonstrativa de hipnose e participado de (e até conduzido) sessões em que a hipnose foi utilizada como instrumento para gerar relaxamento e tratar ansiedade e stress. Durante o mestrado, meu contato foi apenas por meio de um livro excelente sobre gerenciamento do estresse, que contém um capítulo sobre auto hipnose. Não sou especialista em hipnose, até porque entendi que não deveria me envolver de forma tão profunda com essa prática. Respeito os profissionais que utilizam a hipnose, e acredito que eles o fazem exatamente porque há eficácia em seu uso no tratamento de seus clientes.
Sim, existe eficácia no uso da hipnose! E aqui está algo que precisamos desmistificar da mente de alguns. Talvez você já tenha visto em algum vídeo a hipnose ser usada de forma que a fez ser ridicularizada. Isto ocorre porque há quem a use de forma errada (considerando sua utilidade), até mesmo para atrair a atenção para si. Poderia fazê-lo pendurando uma melancia no pescoço, mas naquele dia escolheu fazer uma demonstração de hipnose. As pessoas fazem isso também com o evangelho, deturpam para ganhar dinheiro, por exemplo. Então, a primeira coisa que eu gostaria de salientar aqui é que a técnica tem eficácia e utilidade, para além das demonstrações bizarras que alguns charlatões possam fazer. Além disso, se não fossem as convicções religiosas que possuo acerca do assunto, considerando apenas a eficácia terapêutica, certamente eu utilizaria alguma forma de hipnose na prática clínica, como usei no passado quando ainda não tinha tanta clareza quanto às questões religiosas.
Tradicionalmente, como adventistas, falamos da hipnose apenas como elemento terapêutico e desconsideramos sua presença em nosso dia a dia. Aqui está o segundo ponto que gostaria de considerar: a hipnose não é algo tão distante da nossa realidade. Você não precisa necessariamente ir a um consultório de um profissional que use a hipnose para entrar em transe ou experimentar um estado hipnótico. Você pode experimentar isso espontaneamente, por exemplo, enquanto assiste televisão, ou dirige durante uma longa viagem. Se você achava que este assunto não tinha relação alguma com você, então, quero lhe dizer que tem sim, e que você já deve ter experimentado um pouquinho desse estado ao longo de sua vida.
Mas, se a hipnose é algo que faz parte do nosso cotidiano, por que entre os adventistas do sétimo dia ela é, por vezes, tratada como algo do qual devemos manter distância? A principal razão é porque temos orientações proféticas sobre esse assunto. Gostaria de me deter por alguns instantes nessas orientações.
Sugiro que você leia, na íntegra, o capítulo 44, do livro Mensagens Escolhidas, volume 2, de Ellen G. White. O título deste capítulo é O Perigo da Hipnose. A seguir cito apenas alguns trechos para tratar dos pontos que considero serem centrais na abordagem que a profetisa do Senhor faz sobre o assunto:
1 - Uma mente não deve controlar outra. Este é um dos pontos mais importantes acerca deste assunto. Ela escreve: "É perigoso para quem quer que seja, não importa quão bom homem seja ele, esforçar-se por influenciar outra mente humana para ficar sob o controle de sua própria mente.” (página 349). Perceba que o perigo está não apenas em submeter nossa mente ao controle de outra pessoa (no livro A Ciência do Bom Viver, no capítulo A Cura Mental, Ellen White fala sobre isso), mas, também, em tentar controlar a mente de alguém. E, segundo lemos nessa citação, não importa quão boa a pessoa seja. A propósito, não são apenas pessoas de má índole que usam esses recursos, mas muita gente boa, cheia de boas intenções!
2 - Satanás opera por meio do hipnotismo. Sobre isso ela faz uma declaração muito clara: "Separai de vós tudo quanto tenha sabor de hipnotismo, a ciência pela qual os instrumentos satânicos operam.” (página 350). Acredite, Satanás tem alguns milênios a mais de conhecimento do que você sobre o funcionamento da mente humana e como ele pode influenciar sua mente e consequentemente sua vida. Entendo aqui também que “tudo quanto tenha sabor de hipnotismo”, é realmente tudo, e não apenas as terapias com hipnose. Falaremos mais sobre isso nos parágrafos seguintes.
3 - Precisamos de homens com discernimento para identificar a presença de elementos inadequados em nossas publicadoras. "Hão de seus gerentes ser agentes de Satanás mediante a publicação de livros que tratam de assunto de hipnotismo? Há de essa lepra ser introduzida no escritório? ... Satanás e seus instrumentos têm estado e estão trabalhando diligentemente. Dará Deus Sua bênção às casas publicadoras se elas aceitarem os enganos do inimigo? […] São os homens que se encontram no centro da obra homens incapazes de distinguir entre a verdade e o erro? São eles homens que não podem ver as terríveis conseqüências de prestar influência ao erro?” (páginas 350 e 351). Conteúdos que tenham relação com o hipnotismo são facilmente disseminados atualmente por diversos meios, além dos livros. E eu acredito que é sem a intenção de fazer o mal que muitos os utilizam e promovem entre os cristãos. Creio que é pela falta de conhecimento sobre o assunto. Por isso, compreendo que uma das coisas importantes que Ellen White nos deixou a respeito deste assunto foi esse questionamento sério acerca de haver, entre nós, pessoas que sejam capazes de distinguir corretamente a presença de erros como esse. Confesso que neste ponto acredito que estamos aquém do que deveríamos estar, até porque o conhecimento acerca de Psicologia e hipnose não é grande em nosso meio. Mas, podemos corrigir esta falha buscando conhecimento a respeito!
4 - A influência que uma mente pode ter sobre outra é tremenda e pode muitas vezes não ser percebida por aquele que está sendo influenciado. "Satanás encontra muitas vezes poderoso instrumento para o mal no poder que uma mente humana é capaz de exercer sobre outra. Esta influência é tão sedutora que a pessoa que está sendo moldada por ela fica a miúdo inconsciente de seu poder. Deus me ordenou que falasse advertindo contra este mal, para que Seus servos não venham a cair sob o enganoso poder de Satanás. O inimigo é obreiro mestre, e se o povo de Deus não for constantemente guiado pelo Espírito de Deus, serão enredados e presos.
Por milhares de anos Satanás tem estado fazendo experiências sobre as propriedades da mente humana, e tem aprendido a conhecê-la bem. Mediante sua obra sutil nestes últimos dias, está ligando a mente humana com a sua própria, imbuindo-a de seus próprios pensamentos; e ele está fazendo esta obra de maneira tão enganadora, que os que lhe aceitam a direção não sabem que estão sendo conduzidos por ele segundo lhe apraz. O grande enganador espera confundir a mente de homens e mulheres de tal maneira que nenhuma outra voz senão a sua seja ouvida." (páginas 352 e 353).
Você se lembra do que está escrito em I Coríntios 10:12 e Mateus 26:41? Precisamos vigiar. Nunca estaremos em condição de dizer que estamos seguros e não podemos cair. Quanto mais seguros nos sentimos em relação às armadilhas usadas por Satanás, mais eficiente é a forma como ele age sobre nós. Assim é com este tema da hipnose. Não ache que porque você nunca foi a uma sessão terapêutica utilizando a hipnose que você está protegido do que Satanás pode fazer através dela! "Não é pela força que Satanás toma posse da mente humana. Enquanto os homens dormem, o inimigo semeia o joio na igreja. Enquanto os homens se encontram espiritualmente adormecidos, o inimigo realiza sua obra de iniqüidade.” (página 353).
Sugestionabilidade
À medida que fui compreendendo algumas coisas sobre a mente humana, entendi também ser necessário tomar alguns cuidados no dia a dia. Como falei inicialmente, existem formas de experimentar a hipnose fora de um set terapêutico. É claro que quando você experimenta um estado hipnótico dirigindo em uma longa viagem, isso não é o mesmo que submeter sua mente ao controle de outra pessoa. Mas quando você experimenta o transe assistindo a uma palestra ou sermão, ouvindo música, assistindo a filmes e programas de TV, você está não apenas experimentando o estado, mas assimilando uma ideologia. Nesses casos, sim, você está submetendo sua mente a de outro alguém.
Um dos elementos do transe hipnótico é a sugestionabilidade aumentada. Isso significa que, em transe, você se torna mais sugestionável, ou seja, aceita mais facilmente sugestões, se deixa influenciar mais por ideias e opiniões alheias. E um dos recursos utilizados para induzir o transe é a repetição de frases. Você consegue se lembrar de alguma música que repete várias vezes a mesma frase? Isso geralmente se dá quase como um mantra! Existem músicas seculares assim, e músicas cristãs também. Ouvir e cantar essas músicas é uma forma eficiente de experimentar um estado hipnótico sem saber que está experimentando. E não importa se o conteúdo é sacro ou profano, não devemos permitir que o outro nos leve à sugestionabilidade. Não devemos permitir, por exemplo, que nos próximos 30 minutos que se seguem à música, durante o sermão, nossa condição de analisar criticamente o que está sendo dito seja reduzida. Outra forma de submeter a sua mente a de outra pessoa é assistindo a filmes (seja no cinema ou em casa), séries e até mesmo a outros tipos de programas de TV. As grandes empresas responsáveis por essas mídias sabem muito bem o poder que elas possuem de aumentar a sugestionabilidade, submetendo a mente do expectador ao controle deles. Sobre esse ponto específico, eu indico que você assista ao testemunho do Dr Luigi Braga. Sugiro, também, que, caso você tenha o hábito de assistir a novelas e filmes bíblicos, comece a refletir sobre como Satanás pode utilizar esses meios para deturpar a verdade em sua mente sem que você perceba.
Não se sinta seguro querido amigo ou amiga só porque você nunca foi a uma sessão de hipnose. Vivemos os últimos capítulos da história deste mundo. Quanto mais nos aproximarmos do fim, mais refinada será a estratégia de Satanás de nos enganar. Cuidar das entradas da alma não é apenas uma opção que temos, mas uma necessidade! É em nossa mente que ocorre o grande conflito. É pelo controle da nossa mente que Satanás trabalha dia e noite. E para ter o controle dela, ele só precisa que tenhamos alguns momentos de desatenção em nossa jornada espiritual.
Para entender melhor o que Ellen White escreveu sobre as terapias de saúde mental, leia este artigo publicado pelo Centro White.