A vida além dos likes do Instagram
O fim da exibição de curtidas na rede social afeta ou pode ser uma oportunidade para melhorar a autoestima? Entenda.
Há algum tempo, nós, psicólogos, temos alertado sobre os prejuízos que algumas redes sociais têm gerado na saúde mental das pessoas. Como profissionais, poucos minutos de observação do comportamento dos usuários dessas mídias já nos davam essa informação. No atendimento clínico não era diferente. Mas estudos científicos foram realizados para confirmar aquilo que já sabíamos (veja os links no final deste texto). E não é pretensão minha dizer que nós já sabíamos. Era obrigação nossa saber!
Em paralelo, artistas começaram a se manifestar sobre o assunto e, finalmente, tivemos uma iniciativa do Instagram, a maior rede social de fotos do mundo, para tentar minimizar alguns desses danos: ocultar a contagem de curtidas em cada publicação.
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A palavra é “minimizar” mesmo, porque é impossível impedir esses danos por completo. Pessoas que sofrem de ansiedade e depressão, por exemplo, precisam adotar, por si mesmas, algumas condutas para se protegerem das “consequências” de sua exposição no ambiente virtual. Da mesma forma, aqueles que ainda não receberam um diagnóstico como esses também deveriam ter alguns cuidados.
Autoestima em risco
E de que forma isso afeta a autoestima? Em primeiro lugar, ela é formada na relação com o outro. Por séculos, essa relação se dava num ritmo natural, com um número reduzido de pessoas. Hoje, milhares de indivíduos são capazes de produzir algum tipo de impacto sobre nós e nossa autoestima.
Por isso, em minha visão profissional, sobretudo crianças e adolescentes deveriam manter-se distantes dessas redes. E os adultos, usá-las com muita cautela.
De forma prática, cautela aqui significa:
- Escolher bem quem seguir nessas redes. Há muitos perfis bacanas, inclusive para ajudar pessoas a viverem mais felizes e melhor. Você pode conferir, por exemplo, o perfil @atendimentopsi que eu administro no Instagram, onde compartilho dicas para viver com a saúde mental em dia;
- Passar pouco tempo conectado. A vida offline se torna muito mais significativa assim;
- Postar apenas aquilo que realmente vale a pena. O excesso de exposição de si e de sua vida é um dos gatilhos para gerar ansiedade e minar a autoestima e o humor no uso dessas mídias. Quando postamos algo, a reação positiva do outro ativa nosso sistema de recompensa no cérebro e, dependendo de como esteja nossa saúde mental, podemos até nos tornar dependentes disso.
Habilidades para sobreviver às redes sociais
Precisamos entender que o Instagram é uma rede social que fatura uma boa receita às custas da vaidade alheia! É disso que vivem as redes sociais - da exposição, da vaidade, das informações privadas acerca dos desejos e interesses de seus usuários. Ou você acha que aqueles anúncios que parecem terem sido feitos sob medida para você caem do céu na sua timeline?
Gosto das iniciativas que visam favorecer o bem-estar e a saúde mental das pessoas na internet. No entanto, considero que, tão falsa como é a vida de muita gente no Instagram, é também um engano pensar que as pessoas se sentirão mais felizes sem a exposição dos likes. É verdade que alguns se sentirão mais aliviados. Mas isso não resolve o problema que eles possuem, porque o problema está dentro de suas mentes.
Faltam habilidades sociais. Faltam habilidades de inteligência emocional. Ocultar os likes pode ser uma medida válida, mas não é a solução. Se não sei lidar com a quantidade de likes, preciso buscar maneiras para ter uma mente mais saudável.
O mundo não vai mudar todas as variáveis para que você e eu sejamos felizes (nem o Instagram fará isso)! O sucesso dos outros continuará a existir e se você aprendeu a pensar na vida como uma competição, por exemplo, continuará pensando assim, porque na vida real não é possível desabilitar a função “mostrar curtidas”.
A norma adotada pela ferramenta pode gerar alguns benefícios? Pode. Mas a vida não vai lhe proteger das suas oportunidades de se frustrar, deprimir ou ter ansiedade. Dentro ou fora das redes sociais é preciso cuidar da saúde mental para viver bem.
Oportunidades para reavaliar
Momentos assim, em que um assunto como esse vem à tona, são ótimos para repensarmos nossa forma de viver aqui. E isso leva a perguntas como: o que dá significado à nossa existência? Como ser relevante na vida online e offline?
Sem perceber, podemos cair na armadilha da vaidade, do acariciamento do ego. Virou moda ser influencer. E no pensamento contemporâneo, ser um influenciador tem a ver com números de likes, seguidores e o recebimento de presentes e patrocínios para divulgar uma mensagem ou produto.
Mas não é preciso ser um digital influencer para ser relevante e cumprir sua missão neste mundo como um cristão. Pelo contrário: se você estiver focado nisso, é possível que não a cumpra, porque a missão de ser relevante na vida das pessoas, levando uma mensagem de salvação, depende de que tiremos os olhos de nós mesmos e foquemos em Cristo Jesus. Cumprimos a missão não porque estamos cheios de seguidores ou likes, mas cheios do Espírito Santo.
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