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Coluna | Josanan Alves

Mudem meu nome, mas não meu caráter!

Identidade do cristão está ligada ao seu propósito e objetivo de vida


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Como técnica de domínio, nomes de prisioneiros eram mudados (Foto: Shutterstock)

Nos textos anteriores, você encontrará artigos de uma série com base em meu livro, Herdeiros do Reino, lançado pela Casa Publicadora Brasileira (CPB)Baseado no livro bíblico de Daniel, apresento lições que extraí dele para minha vida. Abaixo, compartilho com você uma versão resumida do quinto capítulo. Caso ainda não tenha lido os demais, acompanhe-os aqui.


“Um caráter nobre não é resultado de um acidente” (Ellen G. White).

Na edição de 26 de março de 1976, a revista Christianity Today trazia a seguinte notícia: “A Albânia juntou-se à lista de países que retiram um dos bens mais pessoais e privados dos seus cidadãos: os seus nomes”. A matéria apresentava a iniciativa do governo de obrigar os cidadãos que tinham nomes bíblicos a mudarem os seus nomes. Afinal, alguém chamado Abraão, Rute ou Marcos poderia um dia perguntar-se qual a sua origem! Isso poderia levá-lo à Bíblia ou outra literatura religiosa, assim essa pessoa poderia absorver alguns dos ensinamentos cristãos. E isso, na opinião do governo da Albânia, seria péssimo.

Esse método de mudar o nome não é novo. No primeiro capítulo do livro de Daniel lemos o seguinte: “O chefe dos eunucos lhes deu outros nomes, a saber: a Daniel, o de Beltessazar; a Hananias, o de Sadraque; a Misael, o de Mesaque; e a Azarias, o de Abede-Nego” (Daniel 1:7). Assim como na Albânia, havia um motivo para a Babilônia mudar o nome dos exilados. Para entendermos o que estava por trás dessa mudança, precisamos entender o método babilônico de conquista.

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O doutor William Shea explica esse método com as seguintes palavras: “Tomar prisioneiros de países cativos era uma política habitual seguida pelos babilônios e egípcios. Jovens de considerável potencial eram levados para a capital do império para serem treinados nas práticas e cultura dos babilônios ou egípcios. Isto foi feito com um propósito. O objetivo era preparar estes jovens para o futuro serviço ao império. Quando o rei ou administradores dos países conquistados deixassem o cenário de ação, suas posições poderiam ser assumidas por indivíduos de sua própria nação que tivessem sido treinados no pensamento babilônico ou egípcio. Dessa forma a Babilônia, por exemplo, poderia obter administradores que tivessem um conhecimento íntimo dos costumes locais das pessoas que governariam, mas cuja suprema lealdade havia sido cultivada em relação à Babilônia pela educação que haviam recebido”[1]

A Babilônia tinha como objetivo mudar a forma de pensar e de adorar dos exilados, para que, com o tempo, eles se identificassem completamente com os costumes e a cultura babilônica. E uma das melhores maneiras de fazer isso era cortar toda a relação dos exilados com seu país de origem, o que incluía mudar seus nomes, que sempre lembrariam de onde vieram. Em nossa cultura, apesar de muitas vezes sabermos o significado dos nomes, não damos muito valor por ter um nome com um bonito significado, mas para os judeus os nomes eram uma maneira de adorar, de lembrar a identidade e o propósito de vida.

Identidade e propósito

Os nomes de Daniel e de seus amigos tinham um propósito. Quando eles nasceram, Jerusalém vivia um período de impiedade e infidelidade, mas ao dar os nomes de Daniel, Ananias, Misael e Azarias, seus pais estavam reafirmando um compromisso de fidelidade ao único Deus verdadeiro e, ao mesmo tempo, apresentando o desejo de que os seus filhos vivessem à altura desse compromisso. Quando a Babilônia lhes mudou o nome, tinha a intenção de destruir esse propósito e fazê-los abandonar a fidelidade e o compromisso com o Deus dos seus pais. Observe o significado dos nomes judaicos e a mudança feita pelos babilônicos:

Daniel significa “Deus é o meu juiz”, e foi mudado para Beltessazar que significa “que Bel proteja o rei” (Bel é outro nome para Marduque, a principal divindade babilônica).

Ananias, que significa “graça de Deus”, se transformou em Sadraque “ordem de Aku” (deus babilônico da lua).

Misael, que significa “quem é como Deus?”, passou a ser Mesaque “quem é semelhante a Aku?”

E Azarias, que significa “Yahweh ajudou”, foi alterado para Abede-Nego, “servo de Nabu” (deus babilônico da sabedoria).

Hoje enfrentamos um problema semelhante, não em relação a mudança de nomes, mas em relação a mudança de valores e propósitos de vida. Você pode estar pensando: “Calma, pastor, eram apenas nomes!”. No entanto, o que muitos cristãos não compreendem é que, assim como no tempo de Daniel, temos muitas coisas que definem os nossos valores e princípios. O que vestimos, o que comemos, o tempo que passamos nas redes sociais, a hora que vamos dormir, a hora que acordamos, a maneira como usamos o dinheiro. Tudo isso define os nossos valores. Para um cristão não é apenas uma roupa, não é apenas uma diversão, não é apenas um tempo mal gasto, são valores que estão formando ou deformando o nosso caráter.


Referências:

[1] William H. Shea, Daniel – Una guia para el estudioso. Nampa, E.U.A: Pacific Press Publishing, 2009, p. 36.

Josanan Alves

Josanan Alves

Primeiro Deus

Histórias e provas de fidelidade a Deus em todos os momentos e circunstâncias da vida.

Josanan Alves de Barros Júnior é formado em Teologia. É o atual diretor do departamento de Mordomia Cristã da sede sul-americana da Igreja Adventista. @JosananAlves