Ellen White e o direcionamento dos dízimos
Apesar das orientações claras da Bíblia e dos textos de Ellen White sobre o uso do dízimo e das ofertas, ministérios independentes aplicado erroneamente alguns textos para sustentar seu ponto de vista.
O primeiro engano do inimigo direcionado aos seres humanos foi distorcer as palavras de Deus. Estava claro para Adão e Eva que comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal levaria à morte, mas a serpente disse, em Gênesis 3:4: “É certo que não morrereis”. Ao longo do tempo, ele continua usando a mesma arma para enganar os filhos de Deus.
Como adventistas do sétimo dia cremos no ministério profético dado por Deus a Ellen White e, infelizmente, seus escritos têm sofrido o mesmo ataque por parte de Satanás. São interpretações distorcidas, fora do contexto original, a escolha de citações isoladas que tem a intenção de fazer o texto dizer o que a profetiza não intentou dizer apenas para sustentar os erros elaborados por mentes dissidentes.
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Há algumas semanas, uma interpretação equivocada de um texto de Ellen White voltou à tona no Brasil. Digo que voltou porque já foi erroneamente usado em outras épocas e lugares. Trata-se de algo usado por alguns ministérios independentes num esforço para justificar seu recebimento de dízimos. Eles tentam sustentar suas práticas, baseando-se em que, na virada do século, a senhora White utilizou alguns de seus dízimos para atender ministros brancos e negros necessitados que trabalhavam nos Estados do Sul da América do Norte, e outros ministros que estavam aposentados.
Alguns poucos dados históricos nos ajudam a entender essa aplicação dos dízimos feita pela profetiza e nos fazem perceber que essa prática é hoje nada mais que a intenção de distorcer os escritos e ações da senhora White.
Naqueles dias não havia qualquer programa denominacional de aposentadoria, inicialmente chamado de “plano de sustentação”, nem uma pensão governamental para aposentados, chamada nos EUA de “Seguridade Social”. O plano de aposentadoria da Igreja Adventista iria surgir seis anos após a ação emergencial utilizada por Ellen White com os dízimos, e o plano de aposentadoria do governo americano surgiu 30 anos depois. Como não havia uma estrutura denominacional ou governamental de seguridade social, surgiu a urgente necessidade de atender ministros que não recebiam o suficiente para sustentar suas famílias.
Em 22 de janeiro de 1905, a senhora White escreveu uma carta a George F. Watson, presidente da Associação do Colorado (uma das sedes administrativas da Igreja nos Estados Unidos), com respeito a seu uso ocasional dos dízimos para atender a necessidades especiais da denominação. É uma pequena carta, mas que infelizmente alguns ministérios independentes deixam de mostrar determinadas partes que elucidam a verdadeira intenção da profetiza com essa prática.
Texto e contexto
“Durante anos tem sido mostrado a mim que o meu dízimo deveria ser remetido para ajudar os ministros brancos e negros que eram negligenciados e não recebiam o suficiente, e necessário para sustentar a família.
Essa deveria ser minha obra especial, e tenho feito isso em inúmeros casos. Nenhum homem deveria dar notoriedade ao fato de que em ocasiões especiais o dízimo é usado dessa maneira.
Tenho destinado meu dízimo para os casos mais necessitados que são trazidos ao meu conhecimento. Fui instruída a fazer assim; e como o dinheiro não é retido da tesouraria do Senhor, não é um assunto que deveria ser acompanhado de comentários, pois me obrigaria a torná-lo conhecido, o que eu não desejo fazer por não ser o melhor. Não tenho interesse em dar publicidade a essa obra que o Senhor me indicou realizar.
Envio-lhe essa explicação para que você não cometa um erro. As circunstâncias alteram os casos. Não aconselharia ninguém a realizar uma prática a arrecadação do dinheiro do dízimo. Escrevo-lhe considerando que isso o ajudará a se manter quieto em vez de provocar estardalhaço e dar publicidade ao assunto, para que muitos outros não sigam esse exemplo”.
(Citado por Arthur L. White em Ellen G.White: The Early Elmshaven Years, 1900-1905, págs. 395 e 396)
Para acessar a carta na íntegra, clique aqui.
Algumas questões sobre o que ela escreveu devem ser levadas em conta:
- Os ministros ajudados por Ellen White estavam ligados oficialmente à organização. Por isso ela cita que os recursos não estavam sendo “retidos da tesouraria do Senhor”. Todos os ministros ajudados eram regularmente empregados pela Associação Missionária do Sul ou eram pastores jubilados.
- Não há nenhum registro de que Ellen White tenha destinado ou aconselhado alguém a destinar os recursos dos dízimos para alguma agência “independente” ou alguma pessoa fora da organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
- Ellen White não tomou essa atitude em espírito de rebeldia ou independência. Pelo contrário, ela teve o cuidado de avisar a Associação em que estes pastores trabalhavam. Geralmente isso bastava e a situação era resolvida. Somente depois de perceber que a necessidade não era atendida, ela dava o passo seguinte de buscar a solução com assistência de emergência.
- Ela deixa claro na carta, seis vezes, que essa atitude não deveria ser divulgada por “não ser o melhor” caminho a seguir. Esse era seu “serviço especial”, não o serviço especial de outros. “Ministérios independentes que propagam essa carta tendo em vista interesses pessoais, com a intenção de justificar solicitações e/ou aceitar fundos do dízimo de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, estão fazendo exatamente o que Ellen White disse ao pastor Watson que não fizesse”(1).
- Ela cita que “as circunstâncias alteram os casos”. Em outras palavras, se não existem pastores oficialmente contratados pela Igreja sendo negligenciados em seus pagamentos como estava acontecendo em 1905, não há necessidade de que ministérios independentes solicitem dízimos hoje.
- Ellen White esclarece que essa era uma obra “que o Senhor me indicou realizar”. Deus, e não um ministério independente, havia instruído e mostrado a ela que, naquele momento, essa atitude deveria ser tomada.
- Aquele dízimo era usado para o pagamento e manutenção dos ministros e não para despesas operativas de instituições, publicações de literatura, ministérios independentes, etc.
- Ela enfatiza: “Eu não aconselharia a quem quer seja a tornar o ato de coletar o dinheiro do dízimo uma prática”.
Sendo assim, as pessoas que usam essa citação para recolher dízimos deveriam se fazer as seguintes perguntas:
- Existem hoje pastores, oficialmente ligados à Igreja Adventista, que estejam sendo negligenciados em seus pagamentos?
- Fui expressamente orientado por Deus a fazer isso?
Sinal de adoração
Os dízimos e ofertas são “um sinal de lealdade e submissão”(2) a Deus. Por isso, não posso fazer o que quero com os recursos que pertencem ao Senhor. Há claras orientações na Bíblia e nos escritos de Ellen White sobre o uso e aplicação correta desses recursos. “Todos esses bens devem ser considerados como pertencendo ao Senhor e destinados ao avanço de Sua causa, para a construção do reino de aqui no mundo” (3). Como adoradores, não podemos tomar em nossas mãos as decisões sobre o uso ou direcionamento desses recursos, pois há um claro “Assim diz o Senhor” sobre esse tema e, como povo de Deus, devemos segui-lo.
“Deus deseja que todos os Seus mordomos sejam exatos no seguir os planos divinos. Eles não os devem alterar para praticar alguns atos de caridade, ou dar algum donativo ou oferta quando e como eles, os agentes humanos, acharem oportuno. É um lamentável método da parte dos homens procurarem melhorar os planos de Deus. Ele o tornou conhecido; e todos quantos quiserem cooperar com Ele têm de levar avante esse plano, em vez de ousar tentar melhorá-lo. Uma mensagem muito clara, definida, me foi dada para nosso povo. É-me ordenado dizer-lhes que estão cometendo um erro em aplicar os dízimos a vários fins, os quais, embora bons em si mesmos, não são aquilo em que o Senhor disse que o dízimo deve ser aplicado. Os que assim o empregam, estão-se afastando do plano de Deus. Ele os julgará por essas coisas.”(4).
Que o Senhor nos ajude a compreender e viver esse assunto em clara concordância as orientações apresentadas ao povo de Deus.
Referências:
(1) Roger W. Coon, O Dízimo. Página, 18.
(2) Ellen White. Testemunhos para a Igreja, volume 9, página 245.
(3) ________. Testemunhos para a Igreja, volume 9, página 245.
(4) ________. Testemunhos para a Igreja, volume 9, página 248.