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Coluna | Janete Suárez

O que você vai ser quando crescer?

Esta pergunta sobre o que alguém pensa em ser ao crescer tem profundas explicações. Veja alguns conselhos práticos para se chegar a um propósito de vida.


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É possível ajudar jovens a escolher e definir o que desejam fazer profissionalmente. Há boas orientações sobre isso. (Foto: Shutterstock)

Essa é uma boa pergunta que os pais costumam fazer aos filhos quando ainda bem pequenos. Para a interrogação O que você vai ser quando crescer, as respostas costumam ser as mais criativas, divertidas e variadas possíveis. Infelizmente, com o passar do tempo, muitos pais não apenas deixam de questionar os filhos como não constroem um ambiente de desenvolvimento de interesse, habilidades e talento. No final do Ensino Médio, quando a pergunta finalmente faria sentido, e diante de uma das mais importantes decisões da vida, que é a escolha profissional, a resposta não surgirá como um passe de mágica!

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Certa vez, quando estudava a Parábola dos Talentos (Mateus 25:14-30) com um grupo de juvenis, sugeri, como atividade, que cada um falasse sobre seus próprios talentos. Percebi que ninguém queria falar sobre si mesmo temendo o que os colegas iriam pensar, o que é normal nessa faixa etária. Rapidamente mudei a estratégia. Distribuí folhas em branco e pedi que respondessem duas simples questões sem acrescentar seus nomes. Na primeira, deviam listar quais eram seus talentos, ou em que se consideravam bons, ou muito bons. E a segunda questão era a respeito de onde ou em que atividades gastavam seu tempo livre. Ou ainda, o que mais gostavam de fazer, o que lhes dava prazer e se sentiam motivados a repetir?

Dei um tempo e aos poucos fui recolhendo os papéis, alguns bem dobrados. Abri um por um. O relato da grande maioria referente à primeira questão se resumia a mais ou menos no seguinte: “não tenho, ou não sei qual é o meu talento”. E quanto à segunda questão, a maioria das respostas variaram entre: “gosto de assistir seriados, filmes”, “gosto de ouvir música e cantar”, “gosto de ficar com meus amigos”, “gosto de dormir até tarde e comer”.

Separei alguns poucos daqueles papéis que diziam algo como “meus pais, meus amigos ou professores dizem que sou bom em tal e tal aspecto” e li para a classe incentivando suas percepções. Passei o restante daquele encontro explicando o que era habilidade e talento, a importância de identificá-los e desenvolvê-los, os diferentes tipos de habilidades, e uma ênfase maior nos versos da parábola sobre o indivíduo que recebeu apenas um talento e o enterrou (v. 24-30).

Desenvolvimento de habilidades

Não há nenhum problema em passar um tempo com as atividades listadas pelos juvenis. O problema é a triste realidade de que muitos estão vivendo apenas em função dessas atividades. Muitos deixam, inclusive, o próprio compromisso de estudar em segundo plano.

Quando não há uma decisão intencional de trabalhar para desenvolver interesses e habilidades, as famílias correm o risco de pensar que o futuro dos filhos como adultos responsáveis, profissionais, provedores de suas próprias famílias está muito distante e que não há qualquer necessidade de prepará-los. Confiam cegamente que esse preparo será obtido em quatro ou cinco anos na universidade. Os filhos precisam de ajuda para enxergar mais longe e se preparar para o futuro. Para isso, devem subir no ombro de alguém que os mostre, que os oriente, que lhes diga como é a vida, de como ela é exigente, de que ferramentas precisam, e de como devem agir. Do contrário, seus maiores prazeres, “seus dons”, “suas habilidades” serão conhecer o maior número possível de atores, de temporadas, de estratégias de jogadas, de tendências de moda, ritmos musicais e os melhores hambúrgueres gourmets da cidade.

Cursar uma faculdade certamente contribui para uma boa formação profissional. No entanto, é apenas uma parte do todo. Há outros aspectos importantes a serem considerados e desenvolvidos. Por exemplo, a responsabilidade, o cuidado de si próprio, a tentativa e solução de problemas, cuidados básicos de uma casa, preparação de alimentos, cuidados com a higiene, iniciativa e conclusão de atividades, responsabilidades com o próprio dinheiro, o trabalho em grupo, honestidade, resiliência, persistência, equilíbrio, entre tantos outros aspectos. Todos são construídos no percurso da vida, no dia a dia, nas diferentes relações.

Quando há intencionalidade, esses elementos necessários para qualquer profissão contribuirão para a escolha profissional. E especialmente porque disposição, iniciativa e a coragem para exercê-la não são impedimentos. Ser intencional com o futuro dos filhos não significa que você vai decidir qual profissão eles devem seguir. Sua função deve ser a de mostrar-lhes as opções e as ferramentas necessárias para a aproximação de qualquer área.

Dicas práticas

Você pode começar colocando em prática algumas dicas que visam contribuir para esse propósito. São as seguintes:

Leia para os filhos pequenos. Incentive-os a ler por si mesmo quando forem alfabetizados. Adquira ou leve-os à biblioteca para escolher os livros que são de seus interesses. Com o passar do tempo, continue incentivando seus gostos literários presenteando-os com bons livros;

Ajude seu filho a se expressar. Não o interrompa ou fale por ele na sua tentativa de dizer algo. Coloque-se na mesma altura que ele e ouça-o até que consiga dizer tudo o que planejava. Quando juvenil ou adolescente, incentive e valorize seu ponto de vista em diálogos;

Motive-o a participar das atividades em grupo em sala de aula, de corais na escola, encenações, leituras e apresentação musical no culto do lar, no clube de aventureiros ou desbravadores e na Escola Sabatina;

Selecione pelo menos uma atividade extraclasse para participar durante cada ano, com ele, como esportes, música, idiomas;

Observe-o como brinca, como interage com os amigos e professores, como soluciona os problemas, ou se têm dificuldades de fazer amizades. Se for necessário, ajude-o a adquirir as habilidades que necessita;

Leve-o junto para fazer compras, resolver questões bancárias, retirar dinheiro, pagar algo, negociar um valor mais baixo de um produto, cuidar do jardim, da horta, do quintal, cozinhar, assar, preparar uma festa, participar de uma missão, atender um paciente e etc;

Acompanhe seu desempenho escolar. Descubra as disciplinas em que ele se sai melhor e incentive-o a pesquisar ainda mais, e tirar boas notas. Se necessário, peça ajuda de um professor particular para as disciplinas que têm dificuldades. Para uma educação integral, é importante que todas as áreas sejam bem aproveitadas;

Elogie o desempenho, a atitude e as conquistas de seus filhos mesmo que muito simples. Ao mesmo tempo, chame-os à parte, olhe nos olhos, dialogue e corrija-os quando for necessário, quando houver quebra de regras, displicência ou irresponsabilidade;

Valorize os bons amigos de seus filhos. Saiba sempre quem são e se agem para uma boa influência. Envolva-os nas atividades da família como refeições, passeios e atividades. A amizade entre pares contribui tanto para o desenvolvimento da identidade quanto do autoconceito, autoestima, aceitação, e etc. Ambos são beneficiados;

Envolva os filhos em projetos missionários. Por vezes, são oportunidades únicas de encontro com várias profissões e acima de tudo é a oportunidade de colocar suas habilidades em prática e mesmo identificar seus talentos.

Você se lembra da pergunta inicial? Era a seguinte: O que você quer ser quando crescer? Comece colocando as dez dicas listadas em prática, adicione outras que você for achando importante e mude a pergunta. Faça outras. Entre elas, você pode perguntar: Pode me contar o que você mais gostou dessa leitura? Gostaria de saber como você conseguiu resolver isso sozinho, pode me dizer? Qual era o seu papel na encenação? Quando será o campeonato de natação? Quero estar lá! Você já tentou conversar com o professor e pedir ajuda? Pode fazer uma transferência bancária para sua avó? Pegue os dados lá na minha carteira. Como assim que você tirou 10 em matemática, você me disse que estava difícil. O que você fez? Na semana que vem vamos visitar um asilo, com qual parte do programa você fica responsável?

Sucesso queridos pais no seu nobre papel de preparar seus filhos para a escolha profissional. Lembre-se: quando eles são bem-sucedidos, vocês são bem-sucedidos; quando dão um novo passo, vocês se sentirão parte do time; quando ganham elogios ou aplausos, vocês se orgulham sabendo que tiveram uma parte estratégica ao ajudá-los ao longo do caminho.n

Janete Suárez

Janete Suárez

Educação familiar responsável

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Graduada em Letras e Psicologia, é mestre e doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Atualmente é professora na Universidade de Brasília, no Departamento de Desenvolvimento Humano e Aprendizagem, e psicóloga clínica da PsySon - Christian Mental Care - Terapia online. Pesquisa a identificação e o desenvolvimento de talentos através da mentoria.