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Coluna | Jael Eneas

Grammy ou coroa?

A premiação do Grammy e uma história incrível de visita no hospital. Qual a relação entre os assuntos?


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Lugar: São Paulo, capital. 3 horas e 50 minutos da tarde. Cenário: 7º. Andar. Hospital do Servidor Público do Estado. Uma das rotinas de um pastor é visitar doentes. No dia 2 de outubro, uma quinta-feira, eu aguardava a vez para entrar na enfermaria feminina.

Enquanto isto, eu lia no display do celular: “Grammy Latino vai homenagear o cantor espanhol Joan Manuel Serrat”. No link, a informação de que a Academia Latina de Gravação apontava Serrat como “personalidade do ano”. Além disso, ele recebia a menção de “compositor profundo e brilhante”[1].

No texto, mais celebridades, performances, estilos e lançamentos. Todavia, meu espírito se perturba, pois, a cena não pára. Era a correria dos médicos e enfermeiras para atender as luzes que piscavam. Eu estava no corredor da oncologia e cirurgia geral. Meu destino era o quarto 706, cama 22.

Para amenizar a demora, continuei lendo: “brasileiros são indicados ao Grammy Latino”. Fiquei curioso, por isso, cliquei na lista[2]. Entre as 49 categorias a ser premiadas, constavam nomes de Caetano Veloso a ex-funkeira Anitta, passando pelos evangélicos Jotta com Geração Jesus, Aline Barros com “Graça”, Soraya Moraes com Céu na Terra e Renascer Praise com Canto de Sião, todos na “disputa pelo Grammy”, como bem destacou o título da reportagem[3].

Sem Nome

O tempo corria e as horas voam. Neste ponto da leitura pensei: o Grammy tem estatueta e a coroa da justiça tem o sangue de Cristo. Diante da fragilidade da vida, o que é mais importante?  De repente ouvi meu nome e recebo a permissão para entrar. Vou caminhando, quarto a quarto, até encontrar o 706.

Peço licença. Entro. Minha visita era específica para a octogenária Santina (*), da cama 22. Conversamos. Lemos a Bíblia. Perguntei-lhe: “A senhora tem um pedido”. Em sua voz bem fraca, disse-me: “tenho. Ore por minhas companheiras de quarto”. Ao perceber que ela queria falar mais, encosto meu ouvido próximo à cama.

Santina disse: “Chorei muito. Vieram uns jovens aqui cantar. Não sei quem eram. Cantaram para todas as velhinhas. Pareciam anjos!”. Neste instante, convidei Laudelina, Sonia e Socorro, todas sexagenárias, para orar. No final, havia silêncio e lágrimas.

Prometi voltar no sábado, 4 de outubro, pois, minha curiosidade era também conhecer os “jovens sem nome” que cantavam pelos corredores do hospital. O Grammy tem a fama. Os nomes precisam ser conhecidos e reconhecidos na cena artístico-cultural. Além disso, há pressão do lobby da indústria fonográfica. A festa da 15ͣ Entrega Anual do Latin Grammy está com data marcada: 20 de novembro, em Las Vegas, Estados Unidos.

A Coroa da Justiça tem a graça. Assim como Cristo a Si mesmo Se ofereceu, devemos nós também oferecer voluntariamente nossas habilidades para ser uma bênção. “Dirá o Rei: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do Reino... Porque tive fome, e me destes de comer, estava nu, me vestistes; enfermo, e me visitastes, preso, e fostes ver-me...” (Mateus 25: 34-36)[4].

Harmonia

Retornei no sábado. Apresentei minha credencial e fiquei esperando a hora de entrar. Não demorou muito, as vozes começaram a ecoar. Eram os jovens “sem nome”, como dizem os acamados do 7º. andar. Eu já estava com a Bíblia aberta no quarto quando eles cantaram: “Jesus. Que doce nome! Ele é capaz de dar ao homem salvação!” Depois, a quatro vozes, repetiam: “Jesus, Jesus, Jesus”. Realmente, inspirador!

A harmonia caia como pluma de esperança. Folhei a Bíblia e li o Salmo 91[5]. Depois, orei preparando dona Santina para a cirurgia. Ao sair perguntei à coordenadora da Pastoral Evangélica quem eram os cantores? Ela respondeu-me: “São todos voluntários. Eles vêm todos os fim de semana!”.

Fui para casa pensando: o Grammy é uma honraria dada aqueles que usam suas habilidades musicais para turbinar o palco da glória. Dada por quem? Por personalidades do mundo fashion. Já a coroa da justiça será oferecida pelo Senhor, justo juiz, a todos aqueles que transformam suas habilidades musicais em dons espirituais, não em mercadoria. A todos que usam suas vozes de forma anônima porque desejam apressar a vinda de Cristo (2 Timóteo 4: 8)[6].

Então, o que é preciso fazer? Não muita coisa. No caso dos voluntários “cantores”, eles levavam apenas um violão, sorriso e disposição para cantar em hospitais, asilos, penitenciárias e orfanatos. Lugares onde têm gente precisando ouvir uma canção de esperança. Isso pode ser uma experiência inesquecível. Talvez, o que esteja faltando, seja só começar!

(*) Revelação: dona Santina é minha mãe.

[1] DA REDAÇÃO. “Grammy Latino vai Homenagear Cantor Espanhol”. G 1. O Globo. Rio de Janeiro, RJ. 10.Set.2014. Atualizado às 10h29. http://g1.globo.com/musica/noticia/2014/09/grammy-latino-vai-homenagear-o-cantor-espanhol-joan-manuel-serrat.html. Acesso em 02.Out.2014 às 15h50.

[2] LATIM GRAMMY. “Nominados”. http://www.latingrammy.com/es/nominees. Acesso em 02.Out.2014 às 16h00.

[3] DA REDAÇÃO. “Anderson Freire na Disputa pelo Grammy”. Revista Comunhão. Set.2014. http://www.comunhao.com.br/index.php/noticias/gente/item/11719-anderson-freire-lanca-clipe-promessa. Acesso em 02.Out.2014 às 15h55.

[4] BÍBLIA SAGRADA. João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil. Barueri, SP. 1988, 1993.

[5] IDEM.

[6] IDEM.

Jael Eneas

Jael Eneas

Louvor e Música Cristã

Música cristã como expressão de louvor a Deus.

Mestrando em teologia e diretor de desenvolvimento espiritual do UNASP, Campus Hortolândia. Compôs “Colheita 90”, “Nacional 89” para DSA. Lecionou música sacra para o SALT. Durante 21 anos liderou o ministério de música, comunicação e educação em Associações e Uniões nas regiões norte, noroeste e sudeste. Participou da Comissão Revisora do Hinário Adventista em 1996. Twitter: @jaeleneas