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Coluna | Isael Costa

As sete cabeças da besta de Apocalipse 17 podem ser 7 papas?

O que se pode compreender, em termos de identificação das sete cabeças mencionadas em Apocalipse 17, verificando melhor outros textos bíblicos?


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O livro do Apocalipse, especialmente o capítulo 17, faz uma descrição de um poder que mereceu profunda investigação de teólogos ao longo dos anos. (Foto: Shutterstock)

A reconhecida busca pela compreensão profética comum nas últimas décadas experimentou um aumento reconhecido e mesmo exponencial nos últimos meses. Envolventes exposições de certas porções apocalípticas têm impulsionado a forma de como a igreja e o mundo em geral deve interpretar o texto profético e seus símbolos.

Aí temos o fator inovador do então movimento denominado de historicismo presentista. Tal movimento se considera historicista, ao mesmo tempo em que sugere uma “abordagem atualizada” de interpretação profética. Neste movimento é muito comum a particularização de elementos simbólicos na profecia bíblica. Por exemplo: a sugestão de que cabeças de um animal simbólico pode ser a representação de pessoas individuais específicas. Deste modo, então, afirma-se que as 7 cabeças da besta de Apocalipse 17 seriam a atualização da mensagem profética para o tempo do fim, de modo que essas cabeças seriam 7 pessoas específicas, isto é, 7 papas.

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Dentre os muitos esforços para tentar sustentar essa “teoria” interpretativa tem sido sugerido um eventual suporte a essa ideia ao comparar-se a natureza dessas 7 cabeças com as 4 cabeças do leopardo de Daniel 7.

O raciocínio é o seguinte: as 4 cabeças do leopardo de Daniel 7 são a representação simbólica dos quatro generais gregos que assumem a Grécia após a morte de Alexandre Magno. Seguindo esta forma de compreensão, então aí estaria um padrão que suporta a ideia de que as sete cabeças da besta também podem ser pessoas individuais. A lógica soa criativa e bem significante, no entanto, existem alguns elementos que precisam ser considerados e prontamente esclarecidos aqui:

  • De fato, Daniel 7 acha-se definitivamente relacionado verbal e tematicamente relacionado a Apocalipse 17, de maneira que o modo de interpretação aplicado a um desses capítulos deve ser o modo que também deve se aplicar ao outro.
  • Daniel 7 é assimetricamente repetido e ampliado em Daniel capítulo 8,[i] de maneira que a interpretação provida pelo anjo interprete no capítulo 8 se ajusta quanto interpretação para o capítulo 7 semelhantemente;

Assim temos:

Daniel 7 Daniel 8
Urso com um lado mais alto Carneiro com duas pontas uma sendo mais alta
Três costelas na boca Dava marradas em três direções
Leopardo quatro asas e Bode que voa sem tocar o chão
Quatro cabeças Quatro pontas

Correspondência entre Daniel 7 e 8

Não precisa ser um especialista para perceber a óbvia correspondência entre os dois capítulos. Deste modo, é indispensável atentar para a explicação provida pelo agente intérprete quanto às quatro pontas do bode no capítulo 8. De modo que, por correspondência paralela, essa será a explicação equivalente para as quatro cabeças do leopardo:

“Aquele carneiro com dois chifres, que viste, são os reis da Média e da Pérsia; mas o bode peludo é o rei da Grécia; O chifre grande entre os olhos é o primeiro rei; o ter sido quebrado, levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão deste povo, mas não com força igual à que ele tinha”. Daniel 8:20-22.

Aqui é dito claramente que as quatro pontas que se levantam depois que a grande ponta do bode se quebra são quatro reinos, não quatro pessoas. É um equívoco a afirmação de que essas quatro pontas (e, por correspondência, as quatro cabeças do leopardo) representam os quatro generais Cassandro, Lísimaco, Seleuco e Ptolomeu.

Na verdade, trata-se de quatro reinos dinásticos a partir desses quatro generais, reinos que dominaram a geografia grega anteriormente regida pela dinastia Alexandrina. Percebe-se, também, que mesmo a grande ponta ou o primeiro rei não se trata exclusivamente de Alexandre Magno visto que o texto diz que esse “primeiro rei e grande ponta” é chamado de um povo e não de uma pessoa.[ii] Desta maneira, a “grande ponta” não é Alexandre, mas sua dinastia, que sobrevive cerca de vinte anos após sua morte[iii] e, então, as quatro casas dinásticas dos generais assumem o reino dividido da Grécia.

Cabeças ou pontas simbólicas nunca representam pessoas específicas

Desta explicação textual, provida pelo anjo intérprete, a proposta de que cabeças em animais simbólicos podem representar pessoas não encontra apoio. Por sua vez, a ideia de que, tanto as cabeças da besta de Apocalipse 17 quanto pessoas individuais, por mais criativa e envolvente que aparente ser, não tem suporte interpretativo.

Enquanto homens, mesmo bem-intencionados, sugerem cabeças de animais simbólicos quanto pessoas individuais, anjos como agente intérpretes, por outro lado, são enviados por Deus aos escritores bíblicos para explicar que são reinos. A pergunta que cabe se fazer agora é: a quem devo seguir quanto guia interpretativo, anjos-agentes intérpretes comissionados por Deus ou pessoas com inovações interpretativas oriundas de suas próprias imaginações humanas?


Referências:

[i] Stefanovic, Zdravko. Daniel: Wisdom to the Wise : Commentary on the Book of Daniel. Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Association, 2007

Shea, William H., and George R. Knight. The Abundant Life Bible Amplifier: Daniel. 1996.

Doukhan, Jacques, and Jacques Doukhan. Daniel die Vision vom Ende. 1993.

[ii] Diestre Gil, Antolín. El sentido de la historia y la palabra profética: un análisis de las claves históricas para comprender el pasado, presente y el futuro político-religioso de la humanidad desde la civilización babilónica hasta el Nuevo Orden Mundial. Terrassa (Barcelona): Editorial CLIE, 1995.

[iii] Núñez, Samuel. Las profecías apocalípticas de Daniel: la verdad acerca del futuro de la humanidad - tomo II. 2006.

Isael Costa

Isael Costa

Conexão Profética I

Profecias, no seu contexto, explicadas para quem quer entender o tempo em que vive.

É casado com Lea Cristina Rodrigues Costa Souza e pai de Ayla Rebeca. Pastor há nove anos, sendo três destes como professor de teologia. É mestre em Interpretação e Ensino das Escrituras pelo Seminário de Teologia da Faculdade Adventista da Bahia. Atualmente trabalha como professor de Antigo Testamento do Seminário Adventista Latino Americano de Teologia e atua como editor-chefe da editora da Faculdade Adventista da Bahia (Fadba).