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Coluna | Isaac Malheiros

Depois da cruz

A intercessão de Jesus Cristo no santuário celestial é totalmente compatível com a ideia do sacrifício Dele na cruz do Calvário.


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A cruz de Cristo representa salvação a todos. Processo de expiação envolve o ministério intercessório de Jesus após Sua ascensão. (Foto: Shutterstock)

Os adventistas creem que a cruz foi uma expiação completa. Mas, ao mesmo tempo, creem que há uma obra expiatória sendo realizada no santuário celestial, depois da cruz. Como entender isso?

A expiação é um processo, mas a linguagem pode confundir quem não lê a Bíblia atentamente. Tanto o processo inteiro quanto suas partes são chamados de expiação. O abate da vítima (Levítico 1:4) e o ministério sacerdotal após o abate são vistos como expiação (Levítico 4:35; 17:11). No Dia da Expiação, por exemplo, cada parte do ritual (Levítico 16:11, 18, 20), bem como o processo inteiro, são chamados “expiação” (v. 34). Assim, é correto dizer que há expiação na cruz e no santuário celestial.

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Algo ocorre depois da cruz?

Dizer que a expiação na cruz foi completa não significa dizer que depois da cruz nada mais acontece. Seríamos salvos se Jesus não ressuscitasse? E sem a sua ascensão? E sem a intercessão no santuário celestial? E sem a volta Dele para buscar a igreja?

Como um processo, a obra expiatória vai além da cruz, pois se Jesus não tivesse ressuscitado nossa fé seria vã, ainda estaríamos em nossos pecados, e aqueles que morreram em Cristo teriam perecido (1 Coríntios 15:17-18). A nossa justificação depende da ressurreição de Jesus (Romanos 4:25). E, assim, cantamos os hinos Foi na cruz e Porque Ele vive com a mesma alegria!

A ascensão de Jesus ao céu era necessária para o envio do Espírito (João 16:7) e a preparação de um lugar para os salvos (João 14:2-3). Da mesma forma, a entrada no santuário celestial com sangue e a intercessão ali são necessárias para nossa salvação (Hebreus 9:11-12). Ao descrever Jesus como “assentado” (Hebreus 1:3), Hebreus não descreve um sumo sacerdote inativo, mas um intercessor atuante (5:5-6; 8:1-4).

Santuário celestial

Após a cruz e a ascensão, Jesus comparece “na presença de Deus em nosso favor” (Hebreus 9:24), obtendo redenção eterna ao entrar no santuário celestial (Hebreus 9:12 NVI, NAA, NVT). Porque ressuscitou e “continua para sempre”, o grande Sacerdote “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hebreus 7:23-25). Note: o ambiente aqui é celestial.

Usando uma linguagem jurídica, podemos dizer que a cruz dá a Deus o “direito” de perdoar a todos. Contudo, individualmente falando, cada caso é tratado no santuário celestial.

Na cruz, foi feita uma provisão para salvar a todos. Mas a Bíblia não ensina o universalismo (a ideia de que todos serão salvos), pois o perdão só existe em resposta à fé. A cruz demonstra a boa vontade de Deus de me salvar, mas não demonstra a minha disposição para crer. É no santuário celestial que é validado o lado de quem recebe o perdão.

E o “está consumado”?

A cruz é o centro que revela a maldade humana e o amor de Deus, é o clímax da controvérsia cósmica. Ela preencheu os requisitos para que o plano da salvação fosse cumprido e a nova aliança fosse ratificada.

Ao gritar “Está consumado” na cruz (João 19:30), Jesus tomou providências para a salvação de qualquer um que o recebesse. A expiação de Cristo por nós, portanto, foi completada na cruz no sentido de prover e disponibilizar a salvação de uma vez por todas. Nenhuma morte é necessária mais para substituir o pecador.

Porém, existe ainda o grito “Está feito”, que sai do santuário celestial (Apocalipse 16:17). Hebreus descreve uma obra que acontece no céu, com implicações em nossa salvação, e esse é o seu tema central (8:1-2). Ao completar essa obra, ele “aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hebreus 9:28; observe que aqui a salvação é um evento no futuro).

O sangue de Jesus é comparado ao sangue aspergido após a morte (Hebreus 12:24; cf.9:13-14), e que efetua uma purificação no ambiente celestial após a cruz (Hebreus 9:18-23). Dessa forma, a expiação ocorre no santuário, com a aplicação do sangue: “o sacerdote, por essa pessoa, fará expiação do seu pecado que cometeu, e lhe será perdoado” (Levítico 4:35).

O “está consumado” do Calvário é trazido para a realidade particular de cada indivíduo por meio da intercessão de Jesus e da atuação do Espírito Santo, aplicando a nós todos os benefícios conquistados de uma vez por todas na cruz. No santuário celestial, Jesus torna a reconciliação com Deus uma realidade pessoal para os crentes.

Esse é o quadro completo! E isso em nada desvaloriza a cruz. Pelo contrário: engrandece a cruz e mostra os impressionantes efeitos dela. O processo todo flui a partir do Calvário.

O plano é dEle, não nosso

O plano da salvação não é uma invenção nossa e não está aberto aos nossos palpites sobre como deveria ter sido. Foi estabelecido pelo Senhor, com todas as etapas necessárias sendo cumpridas de maneira perfeita e completa. Criaturas impotentes resgatadas não deveriam se sentir no direito de dizer ao Resgatador como agir.

Humildemente, apenas recebemos o presente que nos é oferecido de graça pelo Rei-Sacerdote prometido desde os tempos da velha aliança. A expiação na cruz foi completa. Está consumado! E os benefícios da cruz são trazidos a nós hoje pelo sacerdócio expiatório de Jesus no santuário celestial, até o dia em que se ouvirá “Está feito!”

A Bíblia apresenta a salvação em três tempos: fomos (Romanos 8:24), estamos sendo (1 Coríntios 1:18; 15:2) e seremos salvos (Mateus 24:13; Romanos 5:9, 10). A salvação passada e presente é relacionada à justificação e à santificação através dos eventos históricos da cruz, da ressurreição e do ministério celestial de Jesus. E o aspecto futuro da salvação é relacionado à glorificação dos nossos corpos na segunda vinda de Cristo. Uma ênfase desequilibrada em algum desses aspectos temporais da salvação pode gerar uma compreensão imprecisa e incompleta da obra de Jesus.

Não temos de escolher entre morte ou ressurreição, ou entre morte e ascensão; ou mesmo entre a cruz e o santuário, ou justificação e santificação. Esses são falsos dilemas, e quem faz tais exigências está distorcendo o evangelho.

Quando pensamos na expiação como um processo, vemos os vários sentidos da palavra “expiação” como interconectados e interdependentes. Embora a cruz ocupe um lugar central, não é o único componente da doutrina da expiação. A cruz é mais bem compreendida quando a ligamos à encarnação, ressurreição, ascensão e retorno de Jesus.

Isaac Malheiros

Isaac Malheiros

Intertexto

Respostas teológicas para a caminhada espiritual.

Pastor, é casado com a professora Vanessa Meira e pai da pequena Nina Meira. Desde 2005, tem atuado como pastor na área educacional, como capelão e professor, e ama ensinar a ler e interpretar a Bíblia. Atualmente, é pastor de universitários e professor do Instituto Adventista Paranaense (IAP). É doutor em teologia (Novo Testamento), mestre em teologia (Estudos de texto e contexto bíblicos), e especialista em Ensino Religioso e Teologia Comparada.