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Coluna | Hildemar Santos

Carne “grilada”

Alguns já estão prontos para corrigir o português, afinal já estou fora do país por mais de vinte anos, mas é grilada mesmo, e não grelhada. O assunto é sobre a nova moda alimentar de comer insetos. Desculpe, é repugnante para muitos, porém, parece q...


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Alguns já estão prontos para corrigir o português, afinal já estou fora do país por mais de vinte anos, mas é grilada mesmo, e não grelhada. O assunto é sobre a nova moda alimentar de comer insetos. Desculpe, é repugnante para muitos, porém, parece que a moda vai pegar – pelo menos é uma das alternativas para aqueles que ainda insistem em comer carnes em geral.

Por quê? Com o aumento populacional do planeta, as carnes vão aumentar de preço e se tornar alimento raro já que a produção de carne, tanto de vaca, peixe e galinha não vai ser suficiente para alimentar os novos habitantes do planeta. Assim, há poucas opções. Uma delas é a proteína vegetal da soja e dos feijões. Outra opção seria as nozes e, finalmente, as algas marinhas.

Mas a fazendeira francesa Laeticia Giroud aposta que o segredo é aumentar a produção de insetos e ela baseia sua afirmação em sua fazenda de insetos na Espanha. A senhora Giroud cria grilos, formigas e lagartas do besouro (tipo bicho da seda). O mercado europeu ainda não está aberto para este tipo de comida. Talvez a França somente, mas a carne de inseto promete ser uma solução para o problema de alimentação já que é rica em proteína e tem sabor delicioso.

Giroud disse que as lagartas do besouro, quando temperadas com sal, têm o gosto semelhante ao de batata chips. Para aqueles que têm problema em comer o inseto como ele se apresenta, com pernas e aspas e tudo o mais, há uma solução: inseto em pó. Os grilos e formigas são desidratados e um pó ou farinha é produzido e assim esta pode ser misturada em muitos alimentos, em biscoitos, bolos, pão e praticamente tudo o mais.

Está bem, vou parar por aqui, mas o ponto é o seguinte: se você não é vegetariano, o futuro vai ditar duas opções. Ou você se torna vegetariano porque a carne animal vai ser rara e cara ou você se torna insetívoro, cuja proteína vai ser mais acessível e “barata”!

Talvez seja um exagero de minha parte, mas quantas pessoas têm um verdadeiro desgosto pela soja e proteínas vegetais feitas de produtos vegetais. E a soja e o tofu podem ser tornados em farinha e misturados em qualquer outro alimento enriquecendo sua qualidade proteica. Mas isto é comida para a criação, não para humanos, diriam os meus conterrâneos sulistas.

A carne tem se tornado um problema tanto por sua contaminação como por sua riqueza em gorduras saturadas e excesso de proteínas, o qual traz como consequência sérios problemas, começando pelos rins e até aumentando o risco de câncer e diabetes. Pelo menos a carne vermelha está relacionada com estas doenças.

Não comemos insetos porque são repugnantes, mas comemos carnes, as quais são deliciosas. Eu convidaria o leitor para visitar um açougue ou passar um dia num matadouro com a família. Esta experiência seria suficiente para alguns membros de sua família, pelo menos as crianças, rejeitarem o consumo animal.

Lembro de uma vez estar fazendo uma pesquisa entre os imigrantes portugueses da Califórnia sobre o consumo do cigarro. Um dos participantes me disse que não acreditava que o cigarro produzisse câncer. E me perguntou se eu sabia o que transmitia câncer. Como estávamos em um ambiente amistoso resolvi continuar com a conversa e lhe perguntei sua opinião sobre o câncer. Ele me disse que trabalhava em um matadouro e várias vezes havia animais que eram mortos e que tinham tumores e estes mesmos animais eram mortos e levados aos açougues ou fábricas de linguiça e sua carne era comercializada da mesma forma como se fosse carne sadia. Mal sabia ele que não precisava me convencer disto, porém, esta tem sido uma boa ilustração do que ocorre nos matadouros da vida (ou da morte).

Tenho prometido que não mais falaria mal da carne, porque isto só causa uma reação e as pessoas acabam não lendo mais meus artigos e no fim não mudam de dieta. Mas, ao ver as perspectivas do futuro e assistir a palestras de pessoas do movimento verde (green movement) promovendo a dieta vegetariana para salvar o planeta, tenho mudado um pouco de ideia. O assunto da carne não precisa ser o principal em nossas palestras ou escritos, mas não deveria ser algo totalmente esquecido.

Não há dúvida que a alimentação animal é um problema em termos de equilíbrio do planeta já que requer mais energia, mais água, mais fertilizantes para produzir uma quantidade de proteína, sendo às vezes dez ou mais vezes menos eficiente do que produzir a proteína vegetal. Seria mais ou menos assim: se um hambúrguer de soja de 100 gramas de proteína necessita de uma unidade de energia, água e fertilizante ao passo que um hambúrguer normal ou animal necessita dez unidades de energia, água e fertilizante com o mesmo resultado de 100 gramas de proteína. E isto é bem claro porque o animal tem que consumir a soja e o milho e a ração vegetal para produzir a proteína para o nosso consumo – assim esta proteína e de segunda qualidade e bem mais onerosa para ser produzida.

No final o argumento é sempre o gosto. Deixar de comer um bife a milanesa ou um churrasquinho tipo “Fogo de Chão” não é tão fácil assim. Deixar de comer um hambúrguer ou batatas fritas no McDonald’s é muito sacrifício! Comer faz parte da vida é um prazer que não deveríamos evitar, diriam muitos. O gosto é relativo porque ninguém come carne sem tempero, assim outros vegetais e alimentos vegetarianos podem imitar o gosto, se este é o problema. Outro argumento, e bem melhor, é a mudança do gosto. Por exemplo, quando eu nasci e cresci na cidade de Porto Alegre, não existia McDonald’s, Burger King, KFC, Pizza Hut ou qualquer outro restaurante semelhante. Quando estes restaurantes chegaram, o padrão e gosto foram modificados e aprendi a gostar dos mesmos. E tenho que confessar que eu era um gaúcho autêntico, considerado campeão no consumo de carne entre os meus amigos. Mas mudei e me tornei vegetariano, por razoes de saúde, por ter lido os livros de saúde de Ellen White, por me convencer que não deveria participar da matança de animais, enfim, por razões espirituais e de saúde, resolvi mudar. E meu gosto mudou, mudou de certa forma que hoje o cheiro de churrasco não me atrai e muitas vezes é repulsivo.

O exemplo é apenas para demonstrar que o nosso gosto e apetite pode ser mudado. Quando mudamos de uns país para outro, muitas vezes aprendemos outros tipos de comidas e receitas e passamos a comer coisas que nunca imaginávamos antes que comeríamos. Assim, o argumento do gosto não é mais argumento. Portanto, o meu apelo é que o meu amigo gaúcho ou brasileiro pense seriamente na mudança de sua alimentação e adote mais alimentos vegetais e naturais e menos alimentos de origem animal. E vou terminar fazendo uma analogia com a famosa frase do pastor Bullón, somente alterando a ordem: Muita carne, nenhuma saúde, pouca carne, pouca saúde, nenhuma carne, muita saúde!

Veja mais artigos, programas  e motivações de saúde aqui: http://adventistas.org/pt/saude/

 

Hildemar Santos

Hildemar Santos

Saúde e Espiritualidade

Como prevenir doenças e ter uma vida saudável.

Médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos