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Coluna | Hildemar Santos

Alimentos geneticamente modificados (AGM)

A pergunta surge em toda série de palestras de saúde abertas ao público. Lembro-me da primeira vez que a respondi. Disse que, de forma conservativa, que não há evidência científica de que os alimentos geneticamente modificados (AGM, ou GMOs - genetic...


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A pergunta surge em toda série de palestras de saúde abertas ao público. Lembro-me da primeira vez que a respondi. Disse que, de forma conservativa, que não há evidência científica de que os alimentos geneticamente modificados (AGM, ou GMOs - genetic modified organisms) fazem mal. Naquela época, o AGM era usado mais como proteção contra as pestes e doenças comuns nos vegetais, produzindo variedades de plantas resistentes contra os mesmos.

Mais recentemente, fui confrontado diretamente por uma enfermeira durante uma palestra sobre os AGM. A mesma pertencia a um dos grupos ativistas contra AGM e me informou, assim como ao restante dos espectadores, dos efeitos perniciosos, inclusive de sua influência na causa do câncer. Isso me fez pesquisar mais sobre o assunto, mas não me fez mudar muito de opinião.

Resolvi fazer uma reunião científica sobre o tema e levantar os artigos que foram publicados a respeito. Um estudo realizado na França com ratos concluiu que os AGMs produzem câncer. Porém, ao analisarmos seus métodos, percebemos que havia muitas falhas. Por exemplo, os ratos escolhidos tinham em si um alto risco de câncer inerente à espécie escolhida. Não há na literatura científica nenhuma outra menção de um efeito cancerígeno pela ingestão destes alimentos.

Durante uma palestra sobre o assunto, o expositor defendia a ideia de que ao ingerirmos AGMs, eles teriam ação direta em nosso DNA, alterando nossos genes. Um pouco exagerado, ainda mais considerando que também não há nenhuma evidência que comprove o fato.

Durante o congresso do Colégio Americano de Medicina do Estilo de Vida, uma especialista em nutrição apresentou seus dados científicos defendendo os AGMs. Ela relatou que a maioria das entidades nacionais e mundiais não tem nenhuma restrição sobre seu consumo. A Administração dos Remédios e Alimentos (FDA) americana e mesmo a Organização Mundial da Saúde são positivas quanto ao uso.
Parece que, na falta de maior evidência, não há problema físico decorrente dele. A única dúvida, porém, é relacionada com o uso dos AGMs para aumentar a resistência contra os herbicidas. Assim, plantas são alteradas geneticamente para resistir a um herbicida como o Round Up, por exemplo.

Depois de desenvolvido, o AGM é pulverizado com o herbicida, que mata todas as ervas daninhas, exceto aquela que é resistente. O tal do Round Up é prejudicial e pode causar câncer, mas na maioria dos casos somente naqueles que lidam diretamente com o produto e não com o consumidor, já que ele tem uma vida media curta nos vegetais e assim não se concentra em quantidades capazes de produzir alterações cancerosas. É por isso que as entidades de supervisão alimentar e de saúde não os condenam.

O caso dos herbicidas e pesticidas ainda necessita de mais estudos e, na verdade, a menos que consumamos apenas alimentos orgânicos, estamos à mercê destes produtos. Por outro lado, a maioria das pesquisas que demonstram o benefício do consumo de vegetais para a saúde e prevenção de doenças não faz nenhuma discriminação sobre o uso de pesticidas e nem mesmo dos AGMs. Seriam os antioxidantes dos vegetais e frutas suficientes para neutralizar os venenos aplicados nos mesmos? Realmente não se sabe a resposta desta pergunta.

Por outro lado, os pesticidas, como se sabe, tendem a se depositar nos tecidos gordurosos e são mais concentrados na gordura animal. Assim, se estamos preocupados com inseticidas, deveríamos estar mais preocupados com a ingestão de gorduras e carnes de animais do que dos vegetais que tendem a ter uma concentração mais baixa dos mesmos.

Precisamos estudar mais o caso dos AGMs ou quem sabe limitar o seu uso na aplicação de herbicidas. Por enquanto, se for possível, use mais alimentos orgânicos ou ainda melhor, comece a plantar alguns vegetais no seu quintal. Não tem quintal? Lembro-me de uma senhora que plantou vários vegetais, como tomate, alface, pepino e moranguinhos no seu apartamento usando vasos e caixas com terra e alguns fertilizantes naturais. Se isso for difícil ou mesmo impossível, ainda penso que é mais seguro ingerir alimentos de origem vegetal do que animal.

Um último conselho seria usar mais alimentos “jacaré.” Jacaré? Sim, alimentos de casca dura, os quais não tem tanta concentração de pesticidas. Por exemplo, laranja, banana, coco, nozes, feijões em geral, melões, aboboras e mesmo os pepinos. E usar menos os de casca fina ou sem casca, como uvas, moranguinhos, alfaces e outros vegetais da família. Talvez fosse uma boa opção usar estes cacas finas de um produtor orgânico. Bom apetite!

Hildemar Santos

Hildemar Santos

Saúde e Espiritualidade

Como prevenir doenças e ter uma vida saudável.

Médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos