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Coluna | Heron Santana

A reconciliação precisa ser o novo mindset

Separação e distanciamento são incompatíveis com as práticas cristãs.


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Diante de um conflito, sempre opte pela reconciliação (Foto: Shutterstock)

Há uma mácula, uma sombra de fragmentação rondando as famílias do Brasil. O assunto foi pauta de grandes veículos de comunicação, da sucursal brasileira da inglesa BBC ao jornal Folha de S.Paulo. Notícias que mostram o rescaldo de um país politicamente ressentido, ideologicamente dividido, trincheiras construídas em um sistema tradicionalmente alicerçado na união, como é o caso da família.

São histórias em que abraços dão lugar a ressentimento. Um administrador de empresas avalia desistir de viajar dos Estados Unidos, onde mora, para Santo André, no interior de São Paulo. Seria a primeira vez que não passaria as festividades de fim de ano com os familiares. A razão é a divergência ideológica com a sogra de um irmão. No Sul do país, uma blogueira se prepara para viajar para visitar familiares no Sudeste, sabendo que metade da família, que apoia um partido político, não estará presente, de forma inédita.

É um momento doente na vida do país. Jiddu Krishnamurti, filósofo e educador indiano, disse certa vez que “Não é sinal de saúde estar adaptado a uma sociedade profundamente doente”. Não nos adaptemos, portanto. É preciso renunciar para fazer parte deste momento. De relacionamentos profundamente enraizados, restaram mágoa, intolerância, desejo de isolamento, como comprovam os relatos acima, que expõem um momento do Brasil que mais parece uma triste névoa – embaçando alegrias de convivências muitas vezes desenvolvidas sob um mesmo teto, afastando amizades consolidadas em bairros, colégios, faculdades, ambientes de trabalho. E também em igrejas.

Ser cristão e aderir a esta desavença é uma contradição. O cristianismo é convocado a promover reconciliação. O cristianismo não é uma casta a defender sua ideologia, seu modus vivendi, atuando contra o mundo como se vivesse na trincheira. A lógica instruída por Jesus aponta para outro caminho, a partir do convite para levar o Evangelho a todo o mundo, para testemunho de todas as nações.

O Evangelho é a mensagem de reconciliação

Em primeiro lugar, reconciliação da humanidade com Deus, através da obra salvadora de Jesus Cristo na cruz do calvário. Paulo escreveu que Deus nos outorgou o ministério da reconciliação, uma vez que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões dos seres humanos, e nos encarregou da mensagem da reconciliação” (II Coríntios 5:19).

Em segundo lugar, a reconciliação se concentra na restauração de relacionamentos interpessoais saudáveis, para promover uma multidão de adoradores que transcende culturas, etnias, ideologias para formar uma comunidade sólida, coesa e triunfante, como sugere o texto de Apocalipse 7:9.

Em um cenário onde as tensões culturais e ideológicas definem relacionamentos doentes, desejo ser um agente de reconciliação inspirado no exemplo de Jesus, que oferece a todos a reconciliação, de modo terno e compassivo. Jamais lábios humanos dirigiram ao extraviado súplicas mais ternas do que Ele. Todas as Suas promessas, Suas admoestações, não são senão suspiros de um amor inexprimível”, escreveu Ellen White na página 35 do livro Caminho a Cristo.

Compreender isso é compreender a reconciliação como a salvação atuando em mim. A reconciliação dá sentido à minha fé. O sentido da reconciliação pode me proporcionar o necessário sentimento de empatia para desconstruir esse modelo mental doente e apresentar um novo mindset (maneira de pensar), onde Jesus é percebido como o restaurador que é, e onde sua Palavra é entendida como um livro possível. Desejo essa realidade com todas as minhas forças. Esta é minha resolução, e quero convidar você a fazer parte.

Heron Santana

Heron Santana

Igreja Relevante

Estudos e ações inovadoras que promovem transformações sociais e ajudam a Igreja a ampliar seu relacionamento e interação com a sociedade.

Jornalista, trabalhou na Rádio CBN Recife e na sucursal do Jornal do Commercio. Foi diretor da Rádio Novo Tempo de Nova Odessa, no interior de São Paulo, e hoje está à frente do departamento de Comunicação da Igreja Adventista para os Estados da Bahia e Sergipe.