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Coluna | Herbert Boger

Enriqueça!

O que é exatamente o conceito de rico na Bíblia? E o que tem a ver com nossa atitude para com Deus?


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Foto: Gentileza missionários

Ser rico e viver em paz com Deus! O que mais alguém pode querer? Esses conceitos parecem antagônicos, mas são bíblicos. Um exemplo clássico é o do “homem mais rico de todos do Oriente” (Jó 1:3). Jó se manteve rico espiritualmente e em paz com Deus, mesmo quando perdeu tudo e todos. No desfecho de sua história, ele não recebeu filhos em dobro porque família é de valor insubstituível. Mas recebeu em dobro as coisas que havia perdido. A Bíblia não ensina que ter muito dinheiro é errado. Paulo declarou: “O amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé” (1 Timóteo 6:10). Porém, os que se perdem são os que amam mais o dinheiro do que a Deus e as pessoas. O apóstolo chamou a “avareza” de “idolatria” (Colossenses 3:5).

Em Lucas 12:15-21, Jesus apresentou os aspectos negativos da vida de um homem “avarento” e sordidamente apegado ao dinheiro, obcecado por adquirir e acumular, alguém que não é generoso. “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”, Cristo recomendou. Jesus chamou esse homem de “louco” por acumular riquezas e não conhecer seu futuro. Contudo, isso não se aplica somente a quem tem muito dinheiro, pois mesmo quem tem pouco pode perder a fé pela avareza.

Valor imensurável

Algumas coisas valem tanto que o dinheiro não pode adquiri-las. E só percebemos seu valor quando elas faltam: esposa, filhos, familiares, amigos, salvação, paz com Deus, alegria, perdão, amor, saúde, esperança, confiança, liberdade, sábado. No hebraico bíblico, não há equivalência para a palavra “coisa”. O termo davar, que veio a designar “coisa”, significa fala, palavra, mensagem, relatório, notícia, conselho, pedido, promessa, decisão, sentença, tema, história, dito, declaração, atividade, ocupação, atos bons, eventos, modo, maneira, razão, causa, porém jamais “coisa”. Seria isso um sinal de pobreza linguística ou “uma indicação de uma visão de mundo distorcida, de não igualar a realidade (derivada da palavra latina res, coisa) à coisidade?” (Abraham Joshua Heschel, O Schabat, página 17).

Na Bíblia, vários textos falam da riqueza incalculável de Deus para seus filhos. Isaías 55:7 diz que o Senhor é “rico em perdoar”; Romanos 10:12 informa que é “rico para todos que o invocam” e para “salvar”; Efésios 2:4-10 enfatiza que é “rico em misericórdia”; e Provérbios 10:22 afirma que “a bênção do Senhor enriquece”. Apesar da crítica de Jesus ao homem avarento, vemos a cena se repetir em Apocalipse 3 o cristão que se sente rico, abastado e que não tem falta de nada, mas não se dá conta de que é “infeliz, pobre, cego e nu”. Na parábola de Lucas 12, o mesmo tipo de indivíduo é chamado de “louco”. A parte positiva em Apocalipse 3, assim como na parábola, é que podemos ser ricos para com Deus: “aconselho-te que de mim compres ouro refinado para enriqueceres” (Apocalipse 3:18). Ellen White esclarece: “O ouro provado no fogo é a fé que opera por amor. Somente isso nos pode pôr em harmonia com Deus.

Podemos ser ativos, podemos executar muito trabalho; mas sem o amor, amor como o que há no coração de Cristo, jamais podemos ser contados na família celestial” (Parábolas de Jesus, Ellen White, página 158). A autora acrescenta: “O ouro aqui recomendado como tendo sido provado no fogo é fé e amor. Ele enriquece o coração, pois foi limpo até tornar-se puro; e quanto mais é provado, mais intenso é seu brilho” (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 88). Todo aquele que tem fé e amor é rico e vive em paz com Deus, além de ter seu tesouro armazenado no Céu (Mt 6:19-23). É de valor incalculável ter o nome no livro da vida eterna, bem como o de nossos familiares e amigos, a maior alegria de Deus. Quem é rico para com Deus tem paz por ser fiel em tudo e porque o coloca em primeiro lugar no começo e ao longo de cada dia.

Receber para dar

No Céu, há também uma riqueza espiritual depositada dentro da arca de ouro da aliança. Ela contém coisas que simbolizam o relacionamento para com Deus (Hebreus 9:4):

(1) As tábuas do pacto, os Dez Mandamentos (princípios do amor de Deus);

(2) O bordão de Arão que havia brotado (confirmação da liderança eleita por Deus). Alguns não confiam na liderança da igreja, porque ela não é perfeita. Mas a igreja é de Deus, e Ele sabe o que faz com ela. Um caso que elucida a atitude correta do cristão diante da liderança é o da oferta da viúva pobre, a única oferta que Jesus elogiou na Bíblia. Ele não o fez pela quantidade de dinheiro, pois antes dela outros ofertaram notoriamente. Em Lucas 21:1-4, a oferta da viúva pobre foi elogiada porque ela depositou seu coração e tudo que tinha. A liderança que administrava aquele dinheiro na ocasião tinha o plano mais cruel da história: matar Jesus. Mesmo assim, Ele elogiou a oferta por ter sido de todo o coração e dedicada como adoração a Deus.

(3) O vaso com maná. (prova que o sustento vem de Deus)

Nosso reconhecimento do sustento provindo de Deus, que nos enriquece, é simbolizado pelos nossos dízimos (Levítico 27:30-33) e ofertas (Levítico 22:18-22) como uma resposta de fidelidade e gratidão a Ele. Abraão devolveu o dízimo de “tudo” (Gênesis 14:20), e Jacó também (Gênesis 28:22). O dízimo pertence a Deus. É santo para o Senhor (Levítico 27:30-33). Era Deus quem dava o dízimo aos levitas pelo serviço que realizavam. Os levitas também dizimavam. Os dízimos são uma oferta a Deus (Números 18:21-28). O dízimo foi estabelecido por Deus, e nós devolvemos a Ele 10% do que nos tem dado primeiro. A oferta deve ser proporcional e sistemática.

Na Bíblia não encontramos um percentual pré-definido, pois, se a “única oferta perfeita” (Hebreus 10:14) representa o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29), é impossível mensurar seu valor. Por isso, Deus pede todo o nosso coração como oferta de gratidão a Jesus. Por essa razão ofertamos. E é o Espírito Santo que nos move para isso. Para concluir, vale a pena refletir sobre um pensamento de Paulo. “O amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”, ponderou o apóstolo e aconselhou: “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna” (1 Timóteo 6:10-12).

Rico para com Deus é aquele que, além de ter muito amor e muita fé, não abre mão da riqueza espiritual em troca dos bens deste mundo.

Os missionários que estão na Janela 10/40 são exemplos de fé e amor. Como o caso dos que atenderam refugiados na Turquia, vindos da Síria com lona para a barraca que pegou fogo no acampamento de refugiados e com comida pois não tinham nada.

Herbert Boger

Herbert Boger

Primeiro Deus

Histórias e provas de fidelidade a Deus em todos os momentos e circunstâncias da vida.

Formado em Teologia, tem mestrado em Liderança pela Universidade Andrews. É o atual diretor do departamento de Mordomia Cristã da sede sul-americana da Igreja Adventista e coordenador do projeto Missionários Para o Mundo. @Bogerjr