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Coluna | Helio Carnassale

O dom profético no Velho Testamento

Ao longo da história, Deus tem chamado pessoas para transmitir suas mensagens à humanidade.


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Profetas tinham uma íntima relação com Deus (Foto: Reprodução / The Creation)

Os profetas e as profecias eram conhecidas no Antigo Oriente Médio, e há registros de sua atividade fora da Bíblia, desde tempos muito remotos. O vocábulo para profeta no Velho Testamento, nabí, se refere a uma pessoa a quem Deus chamou para comunicar Suas mensagens. Essa palavra está relacionada a um antigo verbo babilônico, nabu, que significa "chamar". Em Babilônia, eles se dirigiam repetidamente ao rei como sendo um nabu, ou seja, alguém chamado pelos grandes deuses.

Mas são nas páginas da Bíblia que desejamos focalizar as pessoas a quem Deus outorgou o dom de profecia: homens e mulheres que andaram nos Seus caminhos e, apesar de suas fraquezas e falhas, foram obedientes e fieis ao Senhor.

Os patriarcas como profetas

O profeta bíblico era alguém que havia sido chamado por Deus e desempenhava um papel religioso independente. Era normalmente uma figura carismática, que não recebia seu ofício e nem o transmitia por hereditariedade, e muito menos por nomeação política.

Consideremos os primeiros profetas da história bíblica:

  1. Abel. No evangelho de Lucas, no capítulo 11, versos de 46 a 52, encontra-se registrada a resposta de Jesus a um intérprete da Lei que se sentiu ofendido pela maneira como Cristo havia censurado os fariseus. Nos versos 49 a 51 Jesus então fala: “do sangue dos profetas derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel”, reconhecendo-o assim como profeta.
  2. Enoque. Não sabemos muito sobre Enoque, mas a Bíblia afirma que ele “andou com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si” (Gênesis 5:24), como clara referência à sua transladação. Seu nome aparece na galeria de heróis da fé (Hebreus 11:5), e os versos 14 e 15 de Judas mencionam claramente que ele profetizou sobre a volta de Jesus e o juízo.
  3. Noé. Geralmente não pensamos em Noé como profeta, mas as Escrituras revelam que ele recebeu uma desafiadora incumbência divina (Gênesis 6:13-22). E ele realmente fez muito mais do que construir um barco para salvar sua família, pois em 2 Pedro, capítulo 2, verso 5, o chama de "pregador (arauto, de acordo com o original grego kērux) da justiça".
  4. Abraão. O primeiro a ser mencionado pela Bíblia como profeta. Curiosamente, foi Deus quem disse a Abimeleque que Abraão era profeta e que intercederia por ele (Gênesis 20:7).
  5. Moisés. Foi o primeiro filho da nação de Israel a ser chamado de profeta (Deuteronômio 18:15). Sua fascinante história foi concluída por Josué, que escreveu: "Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés" (Deuteronômio 34:10). Realmente não houve profeta como Moisés até o tempo do Messias, acerca de quem, escreveu Paulo, na carta aos Hebreus, capítulo 1, versos 3 e 4, que Cristo não só foi maior que todos os profetas, mas é também "o resplendor da glória e a expressão exata de Deus.

Profetas e reis 

Ao longo de toda monarquia, aproximadamente 120 profetas tiveram a ousadia de repreender, em nome do Senhor, a 40 reis. Eles foram importantes para lembrar aos monarcas que sua soberania não era ilimitada e que o governo e os juízos divinos estavam acima das ações humanas.

Comparando o ofício dos sacerdotes e profetas, podemos afirmar que os sacerdotes representavam o povo diante de Deus, enquanto os profetas representavam a Deus diante do povo. Os sacerdotes recebiam o sacerdócio por hereditariedade, mas os profetas eram chamados especificamente para exercer seu ministério. Essa independência lhes garantia a liberdade de entregar sua mensagem e falar com toda clareza, assinalando os pecados do povo e de seus líderes e chamando-os ao arrependimento.

Essa independência dos profetas bíblicos tornou possível que Natã tivesse a coragem de apontar os pecados de adultério e assassinato cometidos pelo rei Davi (II Samuel 12:1-13). Posteriormente, depois de concordar com Davi quanto ao seu desejo de construir uma casa para o Senhor, Natã teve suficiente coragem para voltar à presença do rei e transmitir-lhe que ele não construiria o templo, e sim seu sucessor (II Samuel 7:1-3 e 12-17). E foi ainda por intervenção do mesmo profeta que a sucessão do trono de Davi foi garantida a Salomão (I Reis 1:11-14). É interessante notar que Pedro, em seu sermão durante o Pentecostes, refere-se ao rei Davi como sendo também um profeta (Atos 2:29-30).

Quando Acabe e Jezabel aprofundaram a idolatria no Reino do Norte, Elias e outros profetas lutaram contra essa terrível apostasia e alguns profetas do Senhor foram mortos por causa dessa oposição (I Reis 18:4). Na triste história da morte de Nabote por causa dos caprichos do casal real, Elias apareceu proclamando que no mesmo lugar em que os cães haviam lambido o sangue do inocente, cães lamberiam o sangue de Acabe (I Reis 21:19). Em I Reis 22:37-38 está a descrição do cumprimento dessa profecia.

Profetisas em Israel

A liderança da adoração em Israel estava a cargo dos sacerdotes. Uma diferença marcante com seus vizinhos é que Israel não possuía sacerdotisas, mas teve profetisas. Cinco mulheres foram chamadas de profetisas no Velho Testamento: Miriã, Débora, Hulda, a esposa de Isaías e Noadia.

  1. Miriã. Foi irmã de Moisés e Arão, e apesar de alguns tropeços, desempenhou importante papel na co-liderança do povo de Israel, conforme confirma Miqueias 6:4. O registro de que era profetisa aparece em Êxodo 15:20.
  1. Débora. Foi juíza e também liderou a batalha contra Sísera, ao lado de Baraque, na guerra para libertar Israel das mãos do domínio cananita. Ela foi chamada de profetisa em Juízes 4:4.
  1. A mulher de Isaías. Provavelmente atribuída como profetisa pelo próprio marido, talvez como uma referência honrosa à esposa ao invés de por ofício (veja Isaías 8:3).
  1. Hulda. Vivia em Jerusalém no tempo de Josias e aparece como profetisa em II Reis 22:14. Enviou uma mensagem de advertência ao rei, registrada em II Reis, capítulo 22, versos de 15 a 20.
  1. Noadia. Aparece na história fazendo parte dos conspiradores contra o Neemias, ao lado de Tobias e Sambalá, e de outros profetas que queriam aterrorizar Neemias (6:14) e impedir a reconstrução de Jerusalém.

Assim, a voz dos profetas era de autoridade suprema, revelando a vontade de Deus. Suas palavras não só exprimiam os desígnios do Senhor, mas também desafiavam as equivocadas decisões reais, os falsos conselhos dos sacerdotes e ainda repreendiam o povo e os falsos profetas.

O ofício profético pode muito bem ser resumido por dois emblemáticos textos do Velho Testamento:

Guiar e proteger o povo de Deus: “Mas o Senhor, por meio dum profeta, fez subir a Israel do Egito e, por um profeta foi ele guardado” (Oseias 12:13).

Receber e transmitir a mensagem do Senhor: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Amós 3:7).

Renovemos nossa confiança no Senhor, alicerçados na promessa: “Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis” (II Crônicas 20:20).

Helio Carnassale

Helio Carnassale

Mantendo a visão

A importância da manifestação moderna do dom profético

Teólogo, é mestre em Ciência das Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Foi pastor de igrejas e foi Orador da Voz da Profecia. Trabalhou na Casa Publicadora Brasileira, Superbom, Unasp e na sede sul-americana adventista como diretor de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia.