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Coluna | Glaucia Korkischko

Inanição ou obesidade infantil?

Nem pouca alimentação espiritual infantil e nem obesidade, ou seja, excesso de alimentação espiritual sem o devido exercício (missão). Boa reflexão hoje.


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Criança exercitando-se. Analogia à necessidade dela no envolvimento com a missão para não ser, nem obeso espiritual. Risco de desnutrição espiritual também é grande. (Foto: Shutterstock)

Quem pensa que este é um artigo sobre saúde e nutrição infantil está certo e errado.

Vamos fazer uma analogia sobre a alimentação, mas não se trata de batatas, feijão, arroz ou saladas. Trataremos aqui de alimento espiritual para nossos filhos. E um pouco além do alimento, abordaremos, também, sobre o exercício, e o fortalecimento dos músculos.

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Quando falamos em discipulado de crianças da igreja precisamos considerar suas características e necessidades. Uma criança pequena necessita de alimento para que cresça. Pela característica de dependência, precisa também de alguém que lhe alimente, que cuide dela, lhe diga o que fazer e por onde seguir. Este acompanhamento produz na criança segurança e desenvolve nela a crença de seu valor pessoal. A partir destes elementos, ela confia no outro e é capaz de desenvolver também sua fé em Deus, se assim lhe foi ensinado. Como diz Provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e até quando for velho não se desviará dele”.

Convivência essencial

Em tempos modernos, muitos vivem como relâmpago para seus filhos: só cruzam o céu deles de vez em quando, e com muita rapidez. Não conseguem iluminar o caminho deles por mais de 30 segundos. Não possuem tempo para o que é mais precioso: a convivência e modelagem.

Essas crianças estão morrendo por inanição, pois ficam dias sem comer, ou apenas sobrevivem com pequenas porções de alimento espiritual que recebem na Escola Sabatina e adoração infantil aos sábados. E o pior é que seus pais não se dão conta porque andam na mesma situação, na maioria dos casos. Uma família raquítica, quase sem vida e sem fé em Deus e no poder transformador de Sua Palavra. Outras filosofias e estratégias começam preencher o vazio desse corpo a fim de se sustentarem.

Obesidade sem mobilidade

Mas é impressionante a forma como o inimigo de Deus atua. Ele possui uma estratégia para cada situação. Vamos refletir um pouco sobre o que pode acontecer de errado com uma família que alimenta bem seus filhos. Será que esta família corre algum risco? Aparentemente não.

Neste segundo caso, temos uma parte das famílias que são preocupadas com a alimentação diária de seus filhos. Esse grupo supre as crianças com a lição da Escola Sabatina, meditação, Bíblia, livros denominacionais, programas religiosos semanais, etc. Nestes lares, existe alimento abundante, muitas vezes sobrando, onde os membros da família nem conseguem comer de tudo que tem.

Vejo neste cenário uma família que pode estar ficando inclusive obesa, pois há mais comida do que  gasto de energia. Vamos compreender bem esta situação. Não estou falando aqui que esses alimentos não são importantes. Quero abordar uma outra problemática que pode acontecer até com as famílias que se alimentam muito. Na natureza, todo organismo vivo se nutri para gastar a energia, e assim sobrevive.

Uma família que pensa ser suficiente conhecer toda a história da igreja, comprar todos os devocionais e manter a tradição dos cultos e rituais da fé, pode estar completamente obesa. Isso a ponto de estourar, caso não esteja gastando energia com a missão individual que Jesus lhe deixou.

Gosto de pensar que fazer missão é fazer exercício. Fortalece os músculos do cristianismo. Equilibra o peso. Esse é um gasto de energia necessário à sobrevivência. Não basta alimentarmos nossos filhos, necessitamos colocá-los na academia da missão. Os pequenos devem experimentar a alegria de servirem a Jesus e à humanidade. Como diz Ellen White, no livro Serviço Cristão, “devem as crianças serem educadas para serem diligentes na atividade missionária; e desde tenra idade devem inculcar a abnegação e o sacrifício para o bem de outros e o progresso da causa de Cristo, a fim de serem colaboradores de Deus”. [1]

Para o Ministério da Criança e do Adolescente, duas são as ênfases mais importantes e necessárias:

  1. Nutrir esta nova geração com alimento espiritual saudável;
  2. Fortalecer o discipulado da família por meio do envolvimento dos filhos, na missão.

Discipulado, o principal vocábulo grego traduzido nos evangelhos, é definido com abundância na palavra mathetes, que significa ser seguidor de Jesus, ser aprendiz e estar comprometido com Ele. No livro Nos Passos do Mestre, o pastor Adolfo Suárez nos auxilia no retrato de um discipulado prático e ativo.

Não há discipulado sem compromisso, sem exercício. A maneira de fortalecer a nova geração é envolvê-la em uma abordagem ativa, de participação na missão somado à comunhão e ao relacionamento com Jesus. Muitos filhos da igreja saem de nossas fileiras por não terem músculos fortes para os momentos de prova. Foram alimentados, mas não exercitados.

Tanto a inanição quanto a obesidade pode ser prejudicial. A falta de alimento ou o excesso do mesmo pode matar. Dieta equilibrada é o que necessitamos. Alimento com academia. Filhos sem músculos não escalarão a eternidade.


Referências:

[1] White, Ellen. Serviço Cristão, p. 158.

Glaucia Korkischko

Glaucia Korkischko

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Pedagoga e pós-graduada em psicopedagogia. Atualmente lidera o Ministério da Criança e o Ministério do Adolescente da Igreja Adventista para a América do Sul. @glaucia_korkischko