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Coluna | Felipe Lemos

Para onde vai a comunicação das organizações religiosas?

Em que tendências comunicacionais devem pensar as organizações religiosas, como a Igreja Adventista, quanto ao futuro?


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Tendências digitais devem provocar uma reflexão por parte das organizações religiosas quanto a meios de conexão com seus públicos. (Foto: Shuterstock)

A pergunta traz em si uma certa complexidade. E, por isso, não há uma resposta tão simples e superficial que dê conta completamente da indagação provocadora. Ainda mais quando entendemos o conceito de comunicação das organizações. É algo que vai muito além da produção de vídeos, postagens em redes sociais ou publicação de textos em portais ou blogs.

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O processo comunicacional atual exige novos conhecimentos sobre o comportamento do ser humano. Isso é verdadeiro especialmente a respeito das suas tendências de consumo. Há necessidade da busca por uma compreensão mais clara a respeito da forma como a tecnologia ajuda a conduzir as decisões por consumo de conteúdos.

Públicos e plataformas on-line

Como os públicos reagem ao que veem, ouvem e leem? Precisamos entender o perfil de consumo comunicacional digital. Especificamente em um contexto de ambientes com plataformas on-line controladas por grandes corporações. Muitas delas possuem interesses bem claros para direcionar.

O pesquisador em comunicação Daniel Reis Silva analisou como as pessoas hoje são influenciadas no consumo de conteúdos pela lógica das plataformas digitais. Ele vê um certo aumento da vulnerabilidade desses públicos por conta dessa dinâmica.

O especialista explica que é preciso entender melhor como as pessoas tomam suas decisões nesse ambiente. “Abandonando ideias simples sobre públicos empoderados e onipotentes, o grande desafio para pesquisadores que lidam com a comunicação organizacional e as relações públicas no ambiente digital deve ser expandir a compreensão sobre como o ecossistema das plataformas impacta e conforma assimetrias de poder e vulnerabilidades para os públicos”.[1]

Tendências do consumo digital

Em suma, é preciso entender como as pessoas pensam para avaliar de que maneira se dá seu consumo digital. Inclusive avaliando a lógica comercial por trás disso. Isso é extremamente importante, ainda mais para igrejas. A comunicação das organizações religiosas deve levar em conta parâmetros como o tempo de exposição digital, os diferentes tipos de conteúdo, a forma como se consome (multitelas), entre outros aspectos.

Um recente relatório da Comscore[2] divulgou dados interessantes a respeito do consumo digital. Estamos falando, no caso do Brasil, de um universo de mais de 131 milhões de pessoas conectadas. E que, em média, por usuário e por dia, permanece 3 horas e 38 minutos on-line. A avaliação mostrou, por exemplo, que mundialmente as categorias de maiores alcance na preferência dos consumidores são: serviços (85,4% do total de consumidores), notícias e informação (77,8%), mídias sociais (77,7%) e entretenimento (75%). Ao mesmo tempo, o recorte dessa análise indica que o entretenimento representou 43% do total de engajamento dos consumidores digitais em 2021.

Outro dado presente no relatório aponta que, no Brasil, os influencers ou influenciadores digitais respondem por quase 64% do total de engajamento das pessoas em 2021. Já as marcas das organizações ficaram com 36% do total de engajamento.

Isso significa que as pessoas estão mais propensas a se envolver com os conteúdos defendidos. Ou motivados pela fala e atitude de pessoas que, em maior ou menor escala, figuram como referências no ambiente digital nas mais diferentes áreas.

E qual caminho as igrejas devem seguir?

A Comscore disponibiliza a pesquisa completa e ali é possível identificar vários outros aspectos do comportamento de consumo digital. Mas algumas tendências impactarão a forma como as igrejas e organizações religiosas em geral se comunicam com os seus públicos. É possível pensar em pelo menos cinco:

  1. Entretenimento cresce no consumo digital – Denominações cristãs, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, estão preocupadas em pregar o evangelho. Uma comunicação mais eficiente vai considerar a necessidade de os conteúdos bíblicos estarem presentes. E isso precisa ocorrer de forma contextualizada. Especialmente em materiais pensados para quem se identifica mais com a plataforma do entretenimento (filmes, quadrinhos, jogos, etc.).
  2. Influenciadores são muito relevantes para os públicos – Não há, hoje, como desprezar o papel que influenciadores digitais possuem na comunicação de uma organização. Eles ajudam a moldar o pensamento sobre religião, fé e teologia da parte de muitos jovens, adolescentes e crianças. É preciso desenvolver estratégias para manter um contato produtivo com quem fala para milhões em uma linguagem muito diferente da usada pelas marcas tradicionais.
  3. É preciso medir como as pessoas consomem e reagem às informações – A pregação do evangelho, ponto central da missão adventista, por exemplo, precisa fazer sentido para as pessoas. Pela ação do Espírito Santo, entender constantemente como as partes interessadas, ou públicos em geral, reagem aos conteúdos não é mais algo opcional. Isso exige avaliação contínua dos indicadores digitais e diálogos diretos com as pessoas. Além do desenvolvimento de uma capacidade aguçada de ouvir por parte das igrejas especialmente o público infantil, adolescente e jovem.
  4. É essencial o relacionamento com quem procura a igreja no meio digital – Em tempos de conexões simultâneas em multitelas e várias plataformas, é fundamental atender as pessoas em tempo real. A igreja precisa ouvir, e conversar com as pessoas onde elas estão. Angústias, dúvidas, pedidos de oração, de estudo da Bíblia, tudo isso merece mais atenção. Faz parte da conversação digital que precisa ser aprofundada. Nenhum contato deveria ser desprezado.
  5. Linguagem acessível a todos e que transmita autenticidade, coerência e transparência – A premissa maior da comunicação é que a mensagem seja relevante aos públicos. Linguagem acessível de uma igreja ou qualquer outra organização significa transmitir algo que possa ser entendido. E não necessariamente proceder a uma simplificação que enfraqueça o teor da mensagem. Não dá para esgotar os conceitos de autenticidade, coerência e transparência neste artigo, mas são ativos importantes para quem deseja ser considerado digno de credibilidade.

[1] SILVA, Reis Daniel. Públicos, plataformas e algoritmos: tensões e vulnerabilidades na sociedade contemporânea. In: DREYER, Bianca, RAPOSO, João e TERRA, Carolina. Comunicação organizacional – práticas, desafios e perspectivas digitais, Summus Editorial, 2021: São Paulo.

[2] https://www.comscore.com/por/Insights/Apresentacoes-e-documentos/2022/Mudancas-no-consumo-digital-2022

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29