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Coluna | Felipe Lemos

Comunicação: muito a ver com relacionamento

Relacionamento para tornar a mensagem do evangelho relevante, sem preconceitos, com otimismo, é algo que precisa ser pensado na comunicação da igreja local


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Foto: Shutterstock

Vamos direto ao ponto. Pensemos de uma forma um pouco mais abrangente sobre comunicação. Não vamos nos restringir a meios de comunicação, nem a ferramentas comunicacionais apenas. Têm sua importância, mas não representam completamente o conceito. Comunicação é algo inerente aos seres humanos e tem efeitos muito mais intensos do que, às vezes, conseguimos supor.

E uma organização, como uma igreja, desenvolve comunicação primeiramente por meio dos seus membros, fiéis ou simpatizantes. Ou seja, a partir das pessoas, com as pessoas e para as pessoas.

O teórico Ciro Marcondes Filho já afirmava, procurando abrir um horizonte maior do conceito de comunicação, que “a comunicação não mantém as coisas como estavam. Um dos componentes que tem que fazer parte da definição de comunicação é essa provocação que ela instiga nos participantes do ato comunicacional. Ninguém sai ileso após um ato verdadeiramente comunicacional. Se sai ileso é porque a comunicação não se efetivou, ficou preso nos rituais, no formalismo, da repetição infindável do mesmo...”. [1]

Isso nos mostra que a comunicação interpessoal, essa que você e eu fazemos às vezes até sem prestar atenção, é tão importante quanto a comunicação planejada por uma TV, uma rádio, um jornal, um site, ou mesmo formalmente por uma organização. E mais: essa comunicação das pessoas para as pessoas tem muito mais impacto do que imaginamos para a reputação da organização da qual fazemos parte.

Quando a professora Margarida Kunsch fala sobre o papel da comunicação organizacional, ela não expressa apenas a ideia da divulgação de ações ou ideias de uma determinada organização. Ela vai além, ao afirmar que “neste sentido a área da comunicação deixa de ter uma função meramente tática e passa a ser considerada estratégica. Isto é, ela precisa levar em conta a questão humana e agregar valor às organizações. Ou seja, deve ajudar as organizações a valorizar as pessoas e a cumprir sua missão, atingir seus objetivos globais, contribuir na fixação pública dos seus valores e nas ações para atingir seu ideário no contexto de uma visão de mundo, sob a égide dos princípios éticos”.[2]

Gosto dessa citação, especialmente do termo valorizar as pessoas. Comunicação tem a ver com isso. Não é meramente a transmissão de informações. É algo mais profundo, relacional, interpessoal, vivo e que faz a diferença na forma como as pessoas passam a ver as coisas. Nas palavras de Marcondes, “ninguém sai ileso da comunicação”.

Comunicação, membro, igreja e outros

Na igreja cristã, que é o caso de muitos leitores desse artigo, ou qualquer outra organização, essas ideias são muito reais. Pense em você, como um agente comunicacional que exerce influência, por sua forma de agir, pensar e falar, no tipo de percepção que outras pessoas irão construir acerca da organização da qual você é parte integrante. Pensemos em três aspectos:

  1. O modo como você enxerga aquele que não tem a mesma crença e quer conhecer suas crenças – Esse tipo de comunicação interpessoal é muito mais forte do que imaginamos. Pense e viva a empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Ou então mostre a habilidade de ouvir acerca do que o outro pensa sem atuar de maneira preconceituosa e desrespeitosa. E tenha o real desejo de ajudar o outro por ser esse um princípio religioso e de vida no qual você realmente acredita. Esse genuíno interesse faz toda a diferença na comunicação eficiente, especialmente em tempos onde falta sinceridade nos relacionamentos e sobra barganha de interesse. Essas são maneiras de comunicar a mensagem. Ou, se preferir, a mensagem da sua organização. Pense no episódio de Paulo no Areópago, descrito em Atos 17, onde ele, mesmo não concordando com o tipo de religião dos atenienses, procurou tentar entender o que pensavam e por que pensavam daquela forma, para que seu discurso pudesse interessar a eles e promover um diálogo aceitável mesmo diante das diferenças. Representou bem o cristianismo.
  2. A forma como você expressa a mensagem da sua organização (que é a sua mensagem também) – A expressão da mensagem da sua organização (no caso de uma igreja cristã, os princípios que ela defende) em uma linguagem amigável, otimista e motivadora é fundamental. Os valores nos quais você crê serão bem demonstrados com um diálogo em que não se busque apenas convencer o outro de pontos de vista, mas de tornar essa mensagem algo tão atraente e interessante que seja assimilada. Se sua mensagem é realmente interessante, como era a que Jesus apresentava nos evangelhos, jamais vai necessitar depreciar outras mensagens. Jesus agia com extremo tato ao narrar Suas parábolas de maneira que, mesmo os que se sentiam contrariados com a temática, não saíam ofendidos. Jesus não deixou de exprimir uma mensagem bastante impopular e inovadora diante da cosmovisão prevalente em seu tempo, mas sem ser agressivo ou como se estivesse o tempo inteiro combatendo e não conversando.
  3. A maneira como nós agimos, a nossa coerência, é comunicação efetiva da mensagem – Ao ser coerente com o que creio e faço, ao não cair o tempo inteiro em contradições, ao expressar amor e não apenas falar de amor cristão, eu comunico algo efetivamente. E, por consequência, a organização da qual faço parte é beneficiada com essa atitude. Lembre-se: a comunicação não se limita a enviar informações aos outros sobre alguma coisa. A comunicação tem muito a ver com a troca de percepções. E a contradição, a falta de sintonia entre a expressão do discurso e o modo de agir é uma barreira. Se fala de um Deus que recebe as pessoas de braços abertos, então minha atitude precisa ser essa para haver conexão entre o prometido e o entregue.

Comunicação, compreendida de um modo mais amplo, tem a ver com a capacidade de se empreender um relacionamento interpessoal e que gera não apenas entendimento sobre determinadas informações de uma mensagem. Essa mensagem, devidamente comunicada, poderá ter como consequência a assimilação plena, a transformação de pensamentos e conceitos (mais do que o recebimento da informação e da formação) e o engajamento (a partir da experiência com a organização). E quem tem um papel super importante nesse processo todo é você mesmo!

 

[1] MARCONDES FILHO, C. J. R. . Comunicação, uma ciência anexata e contudo rigorosa. In: Florence Dravet, Gustavo de Castro, João José Curvello. (Org.). Os saberes da comunicação. Dos fundamentos aos processos.. Brasília: Casa das Musas, 2007, v. , p. 36.

[2] KUNSCH, M. M. K. . Comunicação organizacional: contextos, paradigmas e abrangência conceitual. Matrizes (Online), v. 8, p. 46, 2014.

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29