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Coluna | Felipe Lemos

Sexta-feira santa, da paixão ou da autoanálise?



O dia em que muitos param para pensar na paixão de Cristo é um dia para fazer uma reflexão sobre nós mesmos.


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É preciso pensar Nele como um Salvador como Alguém de quem dependemos todos os dias

Neste dia 3 de abril de 2015 muitos latinos e moradores de países com forte influência da tradição religiosa católica romana comemorarão mais um feriado. Uma boa parte efetivamente nem se dedicará a suas atividades profissionais. Muitos dirão que nem sabem o motivo de um feriado prolongado. Alguns se arriscarão a dizer que talvez seja por conta da Sexta-Feira Santa (ou Viernes Santo em espanhol). Poucos, quem sabe, farão imediata associação com a morte de Jesus.

Bem, o fato é que a data propriamente dita da Sexta-Feira Santa ou da Paixão tem sua origem aparentemente nos astros e em adaptações de calendário. Vejam só. Conforme a tradição católica, é a sexta que antecede o dia 14 de Nisã do calendário hebraico. Mas como se sabe que é nessa época do ano no Ocidente (geralmente entre 20 de março e 23 de abril)? O cálculo que se fez no passado aponta para a primeira sexta-feira após a primeira lua cheia depois do equinócio* de outono do hemisfério sul ou o equinócio da primavera no hemisfério norte. 

Mas afinal de contas, é um dia santo, da paixão ou da autoanálise?

Na Bíblia não há qualquer indicação de que seja um dia santo, ou separado especialmente por Deus. Somente o sábado recebe tal distinção, principalmente nos livros de Gênesis, Êxodo, Isaías, entre outros. Analisando o livro sagrado do cristianismo, não há muita sustentação para afirmar que a sexta-feira tem algum caráter santificado.

Sobre paixão de Cristo, vale somente ressaltar que não estamos falando de um filme de 2004 produzido por Mel Gibson sobre os últimos momentos de Jesus antes de morrer crucificado. A palavra paixão vem do latim passio –onis derivado de passus, particípio passado de pati, ou sofrer. A palavra está ligada aos sofrimentos e finalmente morte de Jesus Cristo conforme relato dos quatro evangelhos em confirmação com diversas profecias do Antigo Testamento (destacando-se Isaías 53).

Mas eu ouso dizer que não é um dia de paixão. Por quê?

Porque Jesus realmente sofreu injúrias, humilhações e foi crucificado de maneira desleal depois de ser submetido a um julgamento absolutamente tendencioso. E o pior: padeceu emocionalmente e espiritualmente muito mais por conta dos pecados da humanidade colocados sobre Seus ombros.

Mas Ele ressuscitou e, conforme os capítulos 5,8,9 e 10 do livro de Hebreus, atua como um superior sumo sacerdote em favor de cada um de nós para remissão de pecados e finalmente juízo também (basta fazer analogia com profecias de Daniel 9 e alguns capítulos de Levítico).

Então não está mais morto e esse dia em que muitos de nós paramos nossos trabalhos não pode ser lembrado apenas como dia de morte e dor, porque o ministério de Cristo não se restringiu a esse acontecimento. Foi além e irá mais ainda. A Bíblia assegura que Ele literalmente irá voltar. Isso, sim, é que podemos chamar de ciclo completo.

Não sou preso a datas quando o assunto é refletir, mas parece que muitas pessoas são. Então, para quem gosta de datas específicas para fazer uma autoanálise espiritual, talvez a dita Sexta-Feira Santa ou da Paixão seja a ideal.

Vamos chamá-la de Sexta-Feira da Autoanálise espiritual, que tal?

Dia de levar em conta a santidade de Deus, Seu chamado individual para cada um ser santo (separado) por Ele para ser salvo e ajudar outros a encontrar a salvação pela graça.

Dia de recordar a paixão que Cristo tem por mim e por você também. O imenso amor de Alguém que não hesitou em se anular e sofrer a morte física para pagar os pecados. Coisa muito maior do que a gente consegue realmente compreender e digerir.

Na minha infância, cresci vendo gente comer somente peixe ou jejuar na sexta que antecede o domingo de Páscoa. E ficava nisso a tal comemoração da data. Nada mais.

Mas eu vejo necessidade de algo muito mais profundo, mais consistente e mais duradouro.

A ideia de autoanálise espiritual na sexta-feira 3 de abril de 2015 é só um esboço do que deveria ser o cotidiano. Ellen White, a quem admiro muito pela coerência dos escritos, menciona em um de seus livros que faria muito bem ao ser humano dedicar uma hora por dia para pensar em Cristo e, claro, no Seu sacrifício.

Mas certamente não apenas sobre o fato histórico da morte, suas circunstâncias e contexto religioso e político.

Dia de pensar Nele como um Salvador. Alguém de quem eu dependo.

Vamos fazer um dia diferente nessa próxima Sexta-Feira da Autoanálise!

* O equinócio é definido como o instante em que o Sol, em sua órbita aparente (como vista da Terra), cruza o plano do equador celeste (a linha do equador terrestre projetada na esfera celeste). Mais precisamente é o ponto no qual a eclíptica cruza o equador celeste. Os equinócios ocorrem nos meses de março e setembro quando definem mudanças de estação. Em março, o equinócio marca o início da primavera no hemisfério norte e do outono no hemisfério sul. Em setembro ocorre o inverso, quando o equinócio marca o início do outono no hemisfério norte e da primavera no hemisfério sul. (Fonte: Wikipédia)

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29