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Coluna | Felipe Lemos

A morte de Fidel Castro e o culto ao ser humano

O culto às pessoas é um fenômeno humanista muito comum contrário à visão bíblica


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Foto: G1/Globo

Foto: G1/Globo

A morte do comandante esquerdista Fidel Castro, no último final de semana, gera uma série de comentários, análises e desdobramentos de ordem social, política e até religiosa. Vou fugir do óbvio já comentado por dezenas. Não vou, portanto, entrar no mérito sobre o regime comunista adotado por Cuba há décadas. Prefiro convida-los a uma reflexão sobre um outro aspecto.

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Chamou a minha atenção os detalhes do funeral do líder que deu um golpe em 1959 e assumiu o governo de Cuba. O governo local mandou cremar o corpo, ou seja, reduzi-lo a cinzas. E aí que vem os desdobramentos que me levaram a pensar um pouco.

Segundo as notícias, as cinzas de Fidel Castro ficarão expostas onde a população poderá prestar homenagens. Depois disso, será dado início a uma espécie de peregrinação das cinzas de quatro dias que percorrerá 13 das 15 províncias da ilha. O trajeto total será de mil quilômetros até a cidade de Santiago de Cuba.

De ícone a ídolo?

Bem, homenagens a líderes políticos mortos são práticas bastante comuns há muito tempo no mundo inteiro, especialmente os que adquirem o título de ícones. É o caso de Castro que, para os simpatizantes das ideologias ligadas ao comunismo, foi um verdadeiro ícone. Para a semiótica, o ícone funciona como uma imagem que representa um objeto por conta de semelhança ou analogia. Pois aí está. Fidel representava, de certa maneira, os ideais esquerdistas para muitos.

Há, no entanto, um esforço de alguns em tornar Fidel Castro mais do que um ícone. E, sim, um ídolo. Nesse caso, a figura continua sendo representativa, só que passa a ser objeto de culto e, de certa forma, até uma certa adoração que é diferente da admiração ou do reconhecimento comum.

Um deus próprio

O ser humano tem diante de si constantemente uma batalha mental no que diz respeito a sua cosmovisão. E que se evidenciou ainda mais com o fim da Idade Média, quando a chamada Era da Razão (do Iluminismo) resolveu ressaltar um pensamento de que o ser humano precisava olhar mais para si como a solução para tudo. O conceito humanista aprofundou um dilema na vida humana. O de lutar para, ou crer e viver com base na crença de um Deus superior a quem devemos nos submeter e com quem devemos interagir; ou de lutar para desprezar essa divindade e depositar no ser humano todas as possibilidades e potencialidades. Em palavras mais simples, ou se busca um Deus maior ou se assume que podemos ser deuses para várias situações e contextos.

O culto ao ser humano faz parte dessa luta mental e espiritual. O apóstolo Paulo, ao falar da idolatria humana, faz uma referência interessante. Ele afirma, no capítulo 1 e versículo 25 do livro de Romanos, que “eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém”. Aliás, todo o capítulo 1 de Romanos merece ser estudado profundamente.

Vantagens de se submeter a um Deus superior

A cosmovisão bíblica me motiva muito porque não coloca o ser humano como centro da existência, mas um Deus superior e pessoal. Dá mais segurança, porque sei que tenho a quem recorrer e conto com alguém maior do que eu para tomar as decisões da vida.

O culto aos homens, sejam líderes políticos, músicos, religiosos, intelectuais, etc, é um terreno inseguro. Tornar homens em ídolos é se expor a quem muda de humor, atende a interesses egoístas e, portanto, pode fazer o que bem lhe entender. Não importa quem é o idolatrado. Se for humano, certamente vai decepcionar cedo ou tarde.

No caso do Deus revelado na Bíblia o conforto é grande, porque a narrativa assegura que esse ser é tão amorável que não se vingou das criaturas rebeldes. Pelo contrário, amou tanto a ponto de desenvolver um plano de salvação que implicou a morte do próprio Filho.

No caso dos ídolos humanos, dificilmente prevalecerá o interesse pelo bem-estar do outro. Mesmo com tantas visões de inclinação humanista, aparentemente preocupadas em melhorar a vida das pessoas, o cerne é sempre o prazer individual primeiro. Depois, dos outros. E, claro, nem se cogita um plano para redenção espiritual. Até porque, no caso da linha de pensamento de idolatria humana, ninguém comete pecado, nem tem culpa de nada. Sob essa ótica, o ser humano é maravilhoso por si só; brilhante, revolucionário, incrível, digno, sim, até de uma certa adoração. Portanto, não há necessidade de um Salvador.

Fico, portanto, com o seguro, consistente e esperançoso culto a um Deus maior do que eu, mas que me ama e Se relaciona comigo.

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29