Um livro sem capa
O livro da Natureza deveria ser muito mais considerado pelos cristãos que acreditam em um Deus criador. Pensemos nisso hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente
Cuidar da natureza e do meio ambiente é nosso dever, faz parte da nossa identidade!
Para mim, que tenho uma profissão onde a pesquisa científica é parte ativa das minhas atividades, e da qual sou um ávido leitor, uma das maiores atrocidades cometidas pelo homem, sem dúvida, é a queima de livros. O cenário é sempre o mesmo: um regime totalitário e fascista exorta (ou obriga) a população a ir às praças queimarem os livros que são “contra” aquele regime. Isto aconteceu na Alemanha Nazista, na União Soviética, na China e mais recentemente no Estado Islâmico.
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O mais pesaroso é que os livros que são queimados em eventos como esses não são livros extremistas ou perturbadores, mas sim livros clássicos, que de alguma forma contribuíram para o avanço do intelecto da humanidade. Por isso, considero esses episódios como verdadeiras atrocidades contra a ciência e o bem-estar da humanidade na terra. Obviamente, em muitos destes casos, a Bíblia e outros livros cristãos foram, infelizmente, exterminados.
No entanto, talvez o maior e mais importante livro existente neste planeta está sendo destruído em nossa frente, todos os dias, por anos a fio. Um livro revelador, responsável pela própria definição do que somos, de onde viemos e para onde vamos, e que nós mesmos temos participado todos os dias da sua dilaceração.
Este livro é o Livro da Natureza. Essa expressão é creditada à Galileu Galilei, que indicou que a linguagem deste livro é o da matemática, sendo esta uma forma admirável de decifrar as belezas e mistérios do livro. A escritora Ellen White se utilizou dessa expressão para indicar que, para nós cristãos, este deveria ser uma grande fonte de aprendizado sobre o amor de Deus. “Depois da Bíblia, a Natureza deve ser o nosso maior livro de texto”, disse ela[1] ao enfatizar a Natureza como a maior revelação de Deus para suas criaturas, nós. Aprender com a natureza, vivê-la na sua plenitude, era a forma de comunhão inicial dos primeiros habitantes da terra, Adão, Eva e os animais, quando viveram no Jardim do Éden. De fato, cuidar da natureza criada por Deus, sua revelação, foi o primeiro trabalho dado ao ser humano.
Uma prova clara de que o mundo está doente (não estou falando apenas de doenças físicas, mas de males sociais, culturais e, sobretudo, espirituais) é a falta de cuidado com o ambiente que nos cerca. Este livro, onde vivemos todo o tipo de personagens, tem perdido o encanto pela nossa própria ação destruidora. Séculos de uma cultura de destruição de florestas, fontes de água, vida silvestre e recursos naturais, como a base de uma utópica ‘vida de conforto’ agora está começando a cobrar seu preço.
A destruição implacável do meio ambiente conta muito sobre nossa rebelião contra nosso Pai e criador. Deus se revela para nós de forma extraordinária e nós damos as costas para esta revelação. Neste cenário, percebo que nós, adventistas, temos uma forte missão, ligada diretamente com a nossa identidade.
“E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra(...). E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”. O texto central do Apocalipse (14:6-7) é também um dos textos que dão rumo à fé adventista. A nossa missão está aí descrita: levar ao mundo o evangelho eterno de Deus. Que é apresentado no texto como sendo o criador do mundo, o escritor do ‘livro da natureza’. Este contexto descrito no Apocalipse apresenta o Deus criador de todas as coisas como o único digno de adoração, e o sábado como sendo o memorial desta criação.
Percebem a relevância do ‘Livro da Natureza’ para a identidade adventista? Como diz o nosso próprio nome como igreja, somos guardadores do sábado, em respeito ao criador do mundo em que vivemos. Então faço uma pergunta à você leitor: não deveríamos, portanto, ser protetores deste livro, do ambiente criado perfeito pelo dono do universo? Minha resposta é sim. Vejo que é deveria fazer parte também da nossa missão sermos guardiões do cuidado com a criação de Deus. Guardiões do ‘Livro da Natureza’. Ser um cristão, e acima de tudo um adventista, é ser alguém que também busca a não-destruição daquilo que é a “fonte de contemplação do amor e do poder infinito de Deus”[2]. Como diz o professor Henry Zuill, da Universidade de Loma Linda: “proclamar o evangelho da salvação é a primeira tarefa da igreja. Cuidar da criação é a segunda”[3].
O mundo vem despertando para o cuidado com a natureza. Rachel Carson, com o célebre livro Primavera Silenciosa, inaugurou a era do ativismo ambiental. O último capítulo desta obra parece até ter saído de algum livro que fala de teologia: “Encontramo-nos agora, no ponto em que duas estradas divergem. Todavia (...), elas não são igualmente boas. A estrada pela qual temos estado viajado por tão longo tempo é ilusoriamente fácil: uma superestrada de pavimentação lisa, pela qual avançamos em grande velocidade; mas, na sua extremidade final, o que há é desastre. O outro ramo da estrada – o ramo ‘menos transitado’ – oferece a nossa última, a nossa agora única oportunidade de chegar a um destino que assegure a preservação da nossa Terra”.
Nesta época em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, data resultado do trabalho e da luta política de muitos (entre eles pessoas não-cristãs e evolucionistas, como Rachel Carson), convido você a levar ao mundo o real sentido do cuidado com a natureza, com o meio ambiente. Não é simplesmente do nosso lar que estamos falando; a natureza é uma esplendorosa amostra do poder de Deus e do Seu amor para conosco. É um testemunho vivo de quem nos criou e a quem pertencemos. É a mais perfeita revelação deste criador para suas criaturas.
Cuidemos do Livro da Natureza. Um livro onde não vemos a capa, mas um livro em que vivemos em suas páginas. Páginas escritas pelo próprio dedo do nosso querido Pai Celestial.
PARA LER, OUVIR E VER MAIS:
O Livro da Natureza – Parte do capítulo 52 de “Testemunhos Seletos”, de Ellen G. White - https://egwwritings.org/?ref=pt_TS1.280.1¶=1963.1295
Os Cristãos Deveriam se Preocupar com o Meio Ambiente? – Texto do Prof. Henry Zuill, da Universidade de Loma Linda, para a Revista Diálogo - http://dialogue.adventist.org/pt/19-1/zuill/os-cristaos-deveriam-se-preocupar-com-o-meio-ambiente
[1] Conselhos sobre Educação, p.171
[2] Mensagens aos Jovens, p.365
[3] Revista Diálogo, v.19, n.1. Disponível em http://dialogue.adventist.org/19-1/zuill/the-environment-should-christians-care