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Coluna | Fábio Bergamo

Viver é melhor do que simular

O gosto por simular, instigado por novidades como jogo do Pokémon em contraste com a realidade ao lado de Deus


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Viver a “realidade” parece estar cada vez mais fora de moda. Mas o ideal para o ser humano é outro.

 

Faz alguns meses que o tema da Realidade Aumentada (RA) vem fortemente sendo discutido em fóruns e conversas de tecnologia, marketing e comunicação. O que pouco se imaginava é que algo ligado à RA se tornaria um fenômeno cultural. Estou falando do aclamadíssimo game para smartphones, o Pokémon Go.

Pokémon Go é um jogo spin-up do desenho de mesmo nome, sucesso no fim dos anos 90 e nos anos 2000. O nome é uma sigla de “Pocket Monsters” (pequenos monstros), e foi uma verdadeira febre na época, tornando-se um ícone cult no meio geek. Óbvio que o lançamento do jogo iria ser um sucesso. Só não se imaginava que seria tanto, nem os próprios desenvolvedores. O jogo faz com que o usuário entre no ‘universo Pokémon’, ao transformar o mundo real num ambiente similar ao da história, cheia de pequenos monstros colecionáveis.

O negócio “bombou”! Virou uma verdadeira obsessão! Os relatos mais impressionantes vêm chegando de todas as partes do mundo numa velocidade espantosa. Pessoas invadindo propriedades (casas, igrejas, áreas públicas), batendo carros, se machucando... uma loucura total! Tanto que em pouco tempo virou o aplicativo com mais tempo de uso entre todas as plataformas, batendo TODOS os ‘grandes’, como Facebook, Snapchat, Twitter, WhatsApp, entre outros.

O turbilhão provocado pelo Pokémon Go fala muito sobre o ser humano. Somos viciados em realidades alternativas. Viciados em simular. Por mais que considere Jean Baudrillard um dos importantes pensadores da cultura moderna como um pessimista da tecnologia, gosto muito do seu entendimento da necessidade do ser humano de simular realidades. Um cenário que ele chama de “hiper-realidade”, onde esta geração cria cenários ‘reais’ , sem origem na realidade.

Estamos vivendo num ambiente de hiper-realidade quase que contínua. Pokémon Go é a mais nova comprovação das simulações pelas quais somos apaixonados. Dentre estas temos os reality shows, as subcelebridades que vão e vêm, as vidas acompanhadas pelos Snaps... tudo parece mais bonito que a realidade. Seria, portanto, a realidade atual do ser humano chata, feia, desinteressante? Será que precisamos constantemente destas simulações, de hiper-realidades para que nos sintamos bem, vivos?

Ao contrário, caro amigo leitor. Nossa vida “real” é muito real. Trocá-la deliberadamente por uma simulação da realidade não é saudável. Quer ver um exemplo? Quantas vezes vemos pessoas em um evento musical se aglomerando para conseguir gravar o cantor em seus smartphones, quando simplesmente poderiam parar e assistir o programa e curtir cada momento. Ou uma paisagem da natureza; um sermão na igreja. Como temos visto essa preferência pela hiper-realidade, ao invés de vivermos a realidade, que é muito mais linda e completa.

viver-e-melhor-do-que-simular

Quando estamos imersos em uma realidade de simulações e hiper-realidades acabamos propensos a encarar fatos importantes da vida como simples simulações. Perdemos nossa sensibilidade às coisas simples e complexas da vida. Como se, num passe de mágica, desligamos e ligamos tal simulação. A compaixão agora fica reservada à rede social; a interação com outras pessoas, apenas por meio da tecnologia; uma tragédia do semelhante é facilmente apagada da memória, pois nos desligamos após mandar um comentário com emoticons. Estamos colocando a simulação no lugar da vida real. Que mundo estranho, não?

Somos seres criados por Deus para que aproveitemos ao máximo do mundo criado por ele. Para que vivamos ao extremo os nossos relacionamentos com queridos, e as coisas boas de um mundo não tão bom assim. Viver é um verdadeiro presente do nosso Pai do Céu! Simular uma realidade faz parte do ser humano, mas trocar intensamente e constantemente a realidade por uma simulação não é legal. É desperdício de tempo, desperdício de pensamento, desperdício de uma dádiva divina!

Um exemplo de como viver plenamente a vida real foi o próprio Cristo. Suas lições todas eram compartilhadas de exemplos simples da vida e da natureza. Olhava com carinho para cada detalhe da vida, vendo ali uma lição para a eternidade. Conseguiríamos fazer isso hoje em dia, diante de tantos simulacros e hiper-realidades?

Convido você para se desligar um pouco desse mundo de simulações. Que o Pokémon Go seja um exemplo de como não deixar uma simulação virar uma realidade que comanda a vida. A nossa verdadeira realidade é muito intensa. Está ao nosso lado. Enfatizando a beleza da dádiva da vida, vamos perceber que um canto de um pássaro é muito mais inspirador que um pequeno monstrinho digital que eu só consigo ver na tela do celular.

“Por Viver a vida do Doador da vida, pela fé nEle, todos podem alcançar a norma indicada em Suas palavras. Não é tal conquista digna de permanente e incansável esforço?”. Ellen White, Conselhos sobre Educação, p.222.

PARA LER, OUVIR E VER MAIS

Livro “Simulações e Simulacros” – De Jean Baudrillard. https://monoskop.org/images/c/c4/Baudrillard_Jean_Simulacros_e_simula%C3%A7%C3%A3o_1991.pdf

Momentos bizarros envolvendo Pokémon Go http://www.redbull.com/br/pt/games/stories/1331805630599/7-momentos-bizarros-envolvendo-pokemon-go

Fábio Bergamo

Fábio Bergamo

Marcas & Marcas

Marketing, Comunicação, Cultura e Religião

Doutor em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), lecionou em diversas instituições. Atualmente é docente na área de Marketing, Estratégia e Tecnologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Foi considerado um dos 100 professores de marketing mais influentes do Twitter pela SMM Magazine. @bergamomkt