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Coluna | Fábio Bergamo

Evangelizando nichos e tribos

Algumas tribos, mesmo urbanas, precisam ser alcançadas pelo evangelho. É a realidade de nossos tempos. Leia o artigo e entenda.


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O mundo moderno é o mundo dos nichos. Nunca a população mundial teve uma capacidade tão grande de se coligar em grupos cada vez mais específicos. Hoje, nossa identidade passa, obrigatoriamente, pela descrição de algum grupo do qual fazemos parte. Ao se deparar com a necessidade de escrever uma pequena “bio”, numa rede social por exemplo, fatalmente passaremos pelo nosso nicho. O caso do meu twitter: me apresento como profissional de marketing (nicho profissional), professor universitário (nicho profissional), carioca (nicho geográfico), pai de família (nicho demográfico), esportista (nicho psicográfico) e cristão (nicho psicográfico). Todos somos “nichados”.

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Os nichos definem nosso modo de vida. Sociólogos e antropólogos gostam de se utilizar da expressão “tribo”, para especificar tipos de nichos psicográficos urbanos. Chamar um jovem urbano simplesmente de jovem pode não identificar, de fato, este jovem. Temos que perceber em qual “tribo” ele se encaixa. Tem pra todos os gostos: clubbers, grafiteiros, darks, punks, grunges, góticos, funks, torcedores, heavies, breakers, roqueiros, rappers, headbangers, night rollers, iguaboys... pra ficar em alguns tipos.

Um nicho se constrói com a formação cultural do indivíduo. Acima falamos de tribos urbanas, mas nos interiores também encontramos outras tribos, que advêm de uma cultura diferente. Essa formação cultural é formada a partir de estilos de vida (suas atividades, interesses e opiniões), de atitudes em frente aos temas cotidianos, personalidades passadas de geração em geração.

O marketing encara isto como a grande base estratégica de suas operações. A segmentação de mercado é a área estratégica do marketing que busca satisfazer necessidades e desejos de clientes, de acordo com o segmento e nicho no qual pertencem. Se antigamente era difícil ver mais de duas variedades de um mesmo produto, hoje os mais diversos nichos fazem com que as empresas tenham portfólios cada vez maiores de marcas. Um produto alimentício genérico de antes hoje tem versões light, diet, sem lactose, com adição de vitaminas, com mais ômega-3, com sabores diversos ou com personagens do seu filme favorito. Você compra aquele produto que mais é adaptado ao nicho de mercado no qual faz parte.

E poderia o mundo dos nichos, o mundo das tribos, impactar a nossa vida em igreja? A minha primeira resposta é: se isso tem impactado todos os aspectos cotidianos da vida humana, logicamente que há, sim, um impacto nas atividades espirituais. Sobretudo missionárias. Por muito tempo, o evangelismo teve sua fórmula, quase única, de procedimentos e operação. Fato é que ele funcionou muito bem e continua funcionando em diversos tipos de cenários. Mas não podemos nos esquecer de que há um enorme grupo de nichos onde há dificuldades de se atingir pelo meio tradicional de evangelismo.

Dá pra se listar diversos exemplos aqui de nichos. Os próprios nichos de jovens urbanos que mencionei no segundo parágrafo. Ou o nicho dos workaholics. Acadêmicos de alto nível. Pessoas de mente secularizada. Grandes empresários ou pessoas do mundo corporativo. Celebridades do mundo artístico. Marginalizados. A lista é grande e tende a crescer, cada vez mais que vai se firmando a sociologia moderna de individualidade coletiva.

Parece óbvio que as condições de se alcançar nichos muito específicos de pessoas com abordagens tradicionais não é eficaz. É certo que alguns grupos nem em igrejas tradicionais entrariam, outros não gostariam nem de ver uma bíblia sendo aberta em sua frente. Isto é, sem dúvida, um tremendo obstáculo para a igreja cristã no século XXI.

Vejo com bons olhos as iniciativas bem sucedidas de atingimento de nichos específicos que tem se apresentado dentro da Igreja Adventista. Os centros de influência, os espaços Novo Tempo, congregações como a Primeira Essência e a Nova Semente são alguns exemplos de como se pode chegar à pessoas que, talvez, nunca se interessariam pelo modo tradicional de se fazer evangelismo. Louvo a Deus pelas mentes que trabalham e incentivam estes ministérios por todo o nosso território.

O cuidado que temos que ter, como igreja, é o mesmo que as organizações que entenderam o novo mundo dos nichos e tribos tiveram. A abordagem pode até ser diferente, mas o conteúdo deve ser o mesmo, de igual qualidade e de propósito inabalável. Só assim uma ideia, uma atitude ou um produto, apresentados para nichos diferentes, se sustentam e se desenvolvem. Não podemos abdicar dos nossos preceitos, doutrinas e bases para apresentarmos nosso principal tema: o amor e a graça infindável de Jesus Cristo.

Claro que qualquer novidade pode causar estranheza. Você, que faz parte de um nicho, pode não se sentir atraído por algum novo modo de se proceder evangelisticamente. Mas com certeza ele fará todo o sentido para a tribo no qual ele foi pensado e trabalhado. Não cabe a nós julgar como o outro recebe o evangelho. Se tornar um opositor de um destes ministérios não é ruim apenas para tal projeto, mas para a unidade da igreja. Afinal, Cristo convida para ir a ele TODOS e não apenas alguns (Mateus 11:28).

Lembremo-nos o que Ellen White escreveu no livro Evangelismo: “somos ordenados a ir como mensageiros de Cristo, para ensinar, instruir e persuadir homens e mulheres, apelando para que atentem para a Palavra de vida. Também nos é dada a certeza da constante presença de Jesus. Sejam quais forem as dificuldades com que nos tenhamos de defrontar, sejam quais forem as provações que tenhamos de suportar, sempre será para nós a misericordiosa promessa: “E eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos’ ” (página 16). Oremos pela grande obra que é alcançar esses nichos e tribos que se apresentam no mundo moderno!

PARA LER, VER E OUVIR MAIS

Livro “O Tempo das Tribos”, do sociólogo Michel Maffesoli – Em PDF. https://docs.google.com/file/d/0B0oJkXFn5m1XQVFjVUdpYjc2Rkk/edit

Livro “Evangelismo”, de Ellen G. White – Do site do Centro White de Pesquisas. http://centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/Evangelismo.pdf

Fábio Bergamo

Fábio Bergamo

Marcas & Marcas

Marketing, Comunicação, Cultura e Religião

Doutor em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), lecionou em diversas instituições. Atualmente é docente na área de Marketing, Estratégia e Tecnologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Foi considerado um dos 100 professores de marketing mais influentes do Twitter pela SMM Magazine. @bergamomkt