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Coluna | Eduardo Lopes

O erro faz parte da liderança

Saiba como criar um ambiente seguro para seus liderados


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Um ambiente sadio é aquele em que o liderado consegue expor suas fragilidades sem receio (Foto: Shutterstock)

“Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério” (2 Timóteo 4:11 NVI).

“Desculpe” é uma palavra relativamente curta, mas que possui um significado gigante quando expressa. E para o ouvinte, tem um som doce que pode mudar a relação e ajudá-la a recomeçar. Alcançar uma posição de liderança em qualquer organização é sempre um privilégio tremendo pois, inevitavelmente, traz consigo maior visibilidade. Porém é preciso lembrar que todo privilégio é acompanhado de uma grande responsabilidade.

Quando somos líderes, o nosso compromisso para com as pessoas que lideramos, nos relacionamos e influenciamos é enorme. De forma geral, as pessoas imaginam que ser líder é ser infalível. E é fácil, quando ocupamos tais posições, passar a pensar dessa forma. Em nosso discurso é comum falarmos da importância de reconhecer nossas fraquezas e eventuais erros. Na prática, quando o fazemos, utilizamos de eufemismo para reconhecer tais situações.

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Como é difícil reconhecer uma pisada na bola. E, no fundo, sabemos que erramos, mas a pressão social é tão grande que preferimos vestir a capa de um super-herói à prova de falhas. A recente literatura de liderança sugere que a combinação entre processos de gestão (liderança) com uma abordagem positiva de gerenciamento de erros é capaz de reduzir as falhas em uma organização e criar um ambiente seguro onde as pessoas sabem que podem ser acolhidas e aprender com seus tropeços.

A liderança autêntica que tem sido estudada desde 1960 possui uma das melhores definições que conheço sobre esse tema: “O líder autêntico é confiante, esperançoso, otimista, resiliente, transparente, moral/ético orientado para o futuro e dá prioridade ao desenvolvimento de associados em líderes. O líder autêntico não tenta coagir ou mesmo persuadir racionalmente os associados, mas os valores, crenças e comportamentos autênticos do líder servem para modelar o desenvolvimento dos associados” (Luthans e Avolio, 2003 p.243).[1]

Um líder segundo essa descrição é confiável e constrói relacionamentos verdadeiros com seus seguidores, inclusive sendo capaz de compartilhar informações, sentimentos e opiniões sinceras. O que facilita essa relação é o fato de que ele reconhece seus erros, evita transferi-los e aprende com eles.

Criar um ambiente em que todos possam ser autênticos é o desafio atual da liderança. Isso não quer dizer que o líder deve fechar os olhos para as coisas que não vão bem, mas atuar para que todos estejam em um ambiente que propicia o melhor deles e, consequentemente, a compreensão se aqueles membros possuem o perfil para que essa equipe flua naturalmente.

A equipe ideal não é perfeita

Foi o que aconteceu com o apóstolo Paulo. O amadurecimento o fez entender que Marcos seria importante e, por esse motivo, pede para trazê-lo. O que mudou? Paulo cresceu em sua liderança e enxergou as reais competências que Marcos possuía e que seriam importantes para a missão naquele lugar.

Ao olhar o grupo de discípulos, vemos claramente que o Mestre chamou diferentes pessoas, com diferentes capacidades e competências, para levarem a missão avante. Deus nos dotou com diferentes dons, e podemos, sim, contribuir de forma relevante para a missão. Basta conhecermos a nós mesmos e estarmos em um ambiente que propicia essa segurança. O líder precisa ter fixada em sua mente a importância de pensar que é sua responsabilidade criar esse ambiente e proporcionar para as pessoas a possibilidade de até mesmo errar e não ser punida por isso.

Claro que não estou falando de erros intencionais. O que as pessoas precisam saber é que não somos infalíveis e o erro faz parte do processo de aprendizagem. E quando não temos líderes que nos acolhem, vivemos com medo e, por isso, os grandes feitos acabam não acontecendo: pelo medo de errar.

Em lugares em que há a cultura punitiva, troque por uma cultura de tentativas, busca pelo melhor e que, nesse processo, todos aprendamos com erros, acertos e, principalmente, com as pessoas que estão conosco.

Querido líder, faça como Paulo. Mesmo que seja tarde, olhe o que é bom em cada indivíduo e tente utilizar cada um em sua melhor habilidade. Caso não possuam o perfil para estarem em determinadas funções, ajude-as a encontrar o melhor lugar onde poderão dar o seu melhor e fazer a diferença.


Referências

[1] Avolio, B.J., Gardner, W.L., Walumbwa, F.O., Luthans, F. and May, D.R. (2004), “Unlocking the mask: a look at the process by which authentic leaders impact follower attitudes and behaviors”. The Leadership Quarterly, Vol. 15 No. 6, pp. 801-823.

Farnese, M.L., Zaghini, F., Caruso, R., Fida, R., Romagnoli, M. and Sili, A. (2019), "Managing care errors in the wards: The contribution of authentic leadership and error management culture", Leadership & Organization Development Journal, Vol. 40 No. 1, pp. 17-30.

Clifton, Don; Rath, Tom. 2019. Descubra seu pontos fortes 2.0. Sextante

Dweck, Carol. 2017. Mindset: A nova psicologia do sucesso. Editora Objetiva

Eduardo Lopes

Eduardo Lopes

Gestão para Ação

Entenda, reflita e atue melhor para ajudar no desenvolvimento das pessoas

Graduado em Administração, é mestre em Liderança e em Negócios Internacionais, e doutor em Gestão da Competitividade pela FGV. Possui mais de 20 anos de atuação profissional em posições executivas na área de recursos humanos, marketing e direção geral.