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Coluna | Diego Barreto

Os cristãos não deveriam estar fazendo assim

Como o método de discipulado de Jesus precisa ser real na vida de cada cristão


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Jesus segura as mãos de uma mulher
O método de Jesus inclui trazer pessoas para trabalharem ativamente na pregação do evangelho (Foto: Shutterstock)

Depois de 2 mil anos de igreja cristã no mundo, é espantoso percebermos que ainda ignoramos alguns dos ensinamentos mais claros de Jesus. Quando Jesus deixou os discípulos e subiu ao céu, estabeleceu uma nova ordenança. Algo que vai além do básico.

É muito importante lembrar que quem guarda os Mandamentos faz apenas o básico, aquilo que toda alma viva tem a obrigação de fazer. Não há mérito em não roubar ou não matar. Isso é só o que todos devem, no mínimo, fazer. Jesus disse que se a nossa justiça “não exceder em muito a dos escribas e fariseus” (Mateus 5:20), jamais veremos a alva. Jesus deixou um novo comando que vai além disso. 

O método de Cristo

Em Mateus 28, depois de dizer que a Ele foi dada “toda a autoridade no céu e na Terra” (verso 18), Ele acrescenta sua ordenança. Usando verbo no imperativo, ele começa enviando os discípulos: “IDE”. Como cristão, você deve conhecer essa ordem.

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:19,20).

Você percebeu a ordem com a qual Jesus estabelece essas ações? Siga a sequência comigo:

  1. Ide;
  2. Fazei discípulos de todas as nações;
  3. Batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo;
  4. Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenha ordenado.

É comum ver cristão 1)Indo, 4) Ensinando doutrina para 3) Batizar e só então tentar 2) Fazer discípulos. Vou explicar o motivo. Mas, antes, voltemos a ordem original. 

Me espanto sempre com o quanto tenho aprendido ao estudar a primeira igreja ou o movimento que Cristo deixou na Terra assim que subiu ao céu. Se olharmos bem, temos muita coisa para aprender nesse canto especial da história.

Pregadores por todo o mundo

A igreja nasceu para IR, literalmente, os discípulos de Cristo tinham que viajar para outras cidades e regiões. O objetivo era claro demais: espalhar o evangelho por “todas as nações”. E não dá para fazer isso no lugar onde estamos. Cristo nos envia para onde a mensagem é necessária, aos corações de quem não a conhece. 

Imagine-se chegando a uma nova cidade onde você não conhece ninguém ou conhece alguns poucos. O que você faz primeiro? a) Estabelece um ponto de pregação e começa a doutrinar pessoas ou b) busca se fazer conhecido das pessoas nessa comunidade, se misturando como em Mateus 5:14 e buscando fazer novas amizades para se fazer digno de confiança?

Fazer discípulo é guiar pelo exemplo. Foi assim que Jesus fez os seus. Ele “grangeou-lhes a confiança” como mencionado no livro Ciência do Bom Viver, de Ellen White (p. 49) e depois lhes disse: “Segue-me”. Um discípulo não segue um mestre porque ele tem títulos ou conhecimento, mas porque é alguém digno de ser seguido, alguém em quem pode confiar, alguém que deseja imitar porque acompanha sua vida. 

O discípulo era enviado (ide) para regiões onde ele poderia demonstrar sua verdade ao viver o que Cristo lhe ensinou (discipulado), ganhando a confiança das pessoas. Então, ele podia lhes contar de Jesus.

Quando o novo discípulo aprendia sobre o Mestre dos mestres, então era convidado a fazer uma aliança com Ele. Um voto público de pertencimento a Cristo, o Batismo. Depois disso, ele então aprendia tudo sobre Jesus para poder imitá-lo e também fazer novos discípulos, reiniciando o processo e espalhando Jesus a todas as nações.

Mudança de cenário

E porque essa ordem de fazer as coisas mudou? Quando o cristianismo começou, era uma minoria de crentes trabalhando com uma maioria secular. Após o século IV, com o fim da perseguição e o estabelecimento da Igreja, a religião oficial de Roma dominava o mundo na época. A gente passou a ser uma maioria cristã em um contexto de minoria secular. Nesse contexto, sem perseguição, as viagens se reduziram. Não era mais preciso fugir, e onde Roma estava (maior parte do mundo) assumia-se a presença cristã. A igreja parou de IR e passou a chamar as pessoas para seus prédios.

Pregar passou a ser uma ação de convencimento e não mais discipulado. E como haviam benefícios em ser cristão em um contexto de maioria e de governo, as pessoas foram obrigadas a estudar primeiro antes de se batizar para garantir que sabiam das “regras” e que estariam “aptas”. O estudo virou um filtro e um instrumento de conformação para a adesão religiosa. 

Assim, os novos conversos não se viam discípulos, mas “membros” de uma instituição que representava a Cristo. Como essa instituição tinha recursos, instrumentos humanos dedicados a ela e estrutura, o discipulado morreu e desapareceu da igreja. 

Hoje vivemos num mundo que novamente retorna a uma maioria secular com uma minoria cristã (e aqui não falo de religiões, mas de verdadeiros seguidores de Jesus). Um mundo que questiona as igrejas e os seus prédios (instituições), um mundo que está cansado de hipocrisia (quando as palavras divergem dos nossos atos como falar de amor e sermos odiáveis).

Nesse contexto, perceba como a ordem original de Jesus volta a fazer total sentido. Precisamos IR onde as pessoas estão e porque elas não virão aos nossos prédios, ganhar a confiança delas como seguidores verdadeiros de Cristo, com amor e honestidade (Mateus 5:16). Então apresentaremos Jesus a elas, para que sigam o Mestre que deu a vida por todos nós. Então os batizaremos e ensinaremos o que Ele nos ensinou para que façam o mesmo. 

É hora de voltarmos para a direção do Mestre. Não há mais espaço para nossas experiências humanas, não é preciso reinventar a roda, sigamos o que o Mestre nos pediu. O Reino é simples e eficiente.

Diego Barreto

Diego Barreto

O Reino

Vivendo já o Reino de Deus enquanto Ele ainda não voltou. Um olhar cristão sobre o mundo contemporâneo.

Teólogo, é co-autor do BibleCast, um podcast sobre teologia para jovens, e produtor de aplicativos cristãos para dispositivos móveis. Atualmente é pastor nos Estados Unidos.