Os cristãos não deveriam estar fazendo assim
Como o método de discipulado de Jesus precisa ser real na vida de cada cristão
Depois de 2 mil anos de igreja cristã no mundo, é espantoso percebermos que ainda ignoramos alguns dos ensinamentos mais claros de Jesus. Quando Jesus deixou os discípulos e subiu ao céu, estabeleceu uma nova ordenança. Algo que vai além do básico.
É muito importante lembrar que quem guarda os Mandamentos faz apenas o básico, aquilo que toda alma viva tem a obrigação de fazer. Não há mérito em não roubar ou não matar. Isso é só o que todos devem, no mínimo, fazer. Jesus disse que se a nossa justiça “não exceder em muito a dos escribas e fariseus” (Mateus 5:20), jamais veremos a alva. Jesus deixou um novo comando que vai além disso.
O método de Cristo
Em Mateus 28, depois de dizer que a Ele foi dada “toda a autoridade no céu e na Terra” (verso 18), Ele acrescenta sua ordenança. Usando verbo no imperativo, ele começa enviando os discípulos: “IDE”. Como cristão, você deve conhecer essa ordem.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:19,20).
Você percebeu a ordem com a qual Jesus estabelece essas ações? Siga a sequência comigo:
- Ide;
- Fazei discípulos de todas as nações;
- Batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo;
- Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenha ordenado.
É comum ver cristão 1)Indo, 4) Ensinando doutrina para 3) Batizar e só então tentar 2) Fazer discípulos. Vou explicar o motivo. Mas, antes, voltemos a ordem original.
Me espanto sempre com o quanto tenho aprendido ao estudar a primeira igreja ou o movimento que Cristo deixou na Terra assim que subiu ao céu. Se olharmos bem, temos muita coisa para aprender nesse canto especial da história.
Pregadores por todo o mundo
A igreja nasceu para IR, literalmente, os discípulos de Cristo tinham que viajar para outras cidades e regiões. O objetivo era claro demais: espalhar o evangelho por “todas as nações”. E não dá para fazer isso no lugar onde estamos. Cristo nos envia para onde a mensagem é necessária, aos corações de quem não a conhece.
Imagine-se chegando a uma nova cidade onde você não conhece ninguém ou conhece alguns poucos. O que você faz primeiro? a) Estabelece um ponto de pregação e começa a doutrinar pessoas ou b) busca se fazer conhecido das pessoas nessa comunidade, se misturando como em Mateus 5:14 e buscando fazer novas amizades para se fazer digno de confiança?
Fazer discípulo é guiar pelo exemplo. Foi assim que Jesus fez os seus. Ele “grangeou-lhes a confiança” como mencionado no livro Ciência do Bom Viver, de Ellen White (p. 49) e depois lhes disse: “Segue-me”. Um discípulo não segue um mestre porque ele tem títulos ou conhecimento, mas porque é alguém digno de ser seguido, alguém em quem pode confiar, alguém que deseja imitar porque acompanha sua vida.
O discípulo era enviado (ide) para regiões onde ele poderia demonstrar sua verdade ao viver o que Cristo lhe ensinou (discipulado), ganhando a confiança das pessoas. Então, ele podia lhes contar de Jesus.
Quando o novo discípulo aprendia sobre o Mestre dos mestres, então era convidado a fazer uma aliança com Ele. Um voto público de pertencimento a Cristo, o Batismo. Depois disso, ele então aprendia tudo sobre Jesus para poder imitá-lo e também fazer novos discípulos, reiniciando o processo e espalhando Jesus a todas as nações.
Mudança de cenário
E porque essa ordem de fazer as coisas mudou? Quando o cristianismo começou, era uma minoria de crentes trabalhando com uma maioria secular. Após o século IV, com o fim da perseguição e o estabelecimento da Igreja, a religião oficial de Roma dominava o mundo na época. A gente passou a ser uma maioria cristã em um contexto de minoria secular. Nesse contexto, sem perseguição, as viagens se reduziram. Não era mais preciso fugir, e onde Roma estava (maior parte do mundo) assumia-se a presença cristã. A igreja parou de IR e passou a chamar as pessoas para seus prédios.
Pregar passou a ser uma ação de convencimento e não mais discipulado. E como haviam benefícios em ser cristão em um contexto de maioria e de governo, as pessoas foram obrigadas a estudar primeiro antes de se batizar para garantir que sabiam das “regras” e que estariam “aptas”. O estudo virou um filtro e um instrumento de conformação para a adesão religiosa.
Assim, os novos conversos não se viam discípulos, mas “membros” de uma instituição que representava a Cristo. Como essa instituição tinha recursos, instrumentos humanos dedicados a ela e estrutura, o discipulado morreu e desapareceu da igreja.
Hoje vivemos num mundo que novamente retorna a uma maioria secular com uma minoria cristã (e aqui não falo de religiões, mas de verdadeiros seguidores de Jesus). Um mundo que questiona as igrejas e os seus prédios (instituições), um mundo que está cansado de hipocrisia (quando as palavras divergem dos nossos atos como falar de amor e sermos odiáveis).
Nesse contexto, perceba como a ordem original de Jesus volta a fazer total sentido. Precisamos IR onde as pessoas estão e porque elas não virão aos nossos prédios, ganhar a confiança delas como seguidores verdadeiros de Cristo, com amor e honestidade (Mateus 5:16). Então apresentaremos Jesus a elas, para que sigam o Mestre que deu a vida por todos nós. Então os batizaremos e ensinaremos o que Ele nos ensinou para que façam o mesmo.
É hora de voltarmos para a direção do Mestre. Não há mais espaço para nossas experiências humanas, não é preciso reinventar a roda, sigamos o que o Mestre nos pediu. O Reino é simples e eficiente.