O outro desapontamento
Um grande desapontamento será sempre o de pensar ser um cristão, mas não viver assim
Uma das histórias emblemáticas do cristianismo protestante é um acontecimento presente no início da Igreja Adventista, chamado de o Grande Desapontamento. Um movimento que nasceu da redescoberta do retorno de Jesus depois de mais de um milênio sem a presença dessa esperança entre nós. Não se engane aqui, essa redescoberta é muito recente. No fim do século XVIII e início do século XIX com a popularização do texto bíblico, a proliferação da educação (dando para a maioria das pessoas condições de ler) é que se redescobriu na Palavra a grande promessa. Não é à toa que esse movimento responsável pela popularização da ideia em toda América do Norte, e posteriormente, em outros lugares do mundo, tenha escolhido o nome de “Adventistas”. A singularidade desse nome se encontra na singularidade da promessa do advento. Destacar essa palavra naquele tempo tinha uma relevância imensa, que hoje, já acostumados com a ideia de que Cristo vai voltar, pode passar despercebido. O destaque é por conta da importância que o tema teve para toda a cristandade da época.
É verdade que o movimento em determinado momento acabou cometendo o erro de marcar uma data para a volta de Cristo, dia 22 de outubro de 1844, o famigerado Dia do Desapontamento. Mas, também, é verdade que foi graças a esse erro e todo o buzz que ele causou na época que essa mensagem se alastrou por todo o país. Não fosse o desejo intenso de ver a Cristo retornando em um momento muito próximo de seus dias e, talvez, o fogo não tivesse se alastrado tão rápido e eficientemente. Mas de toda a relevância que isso teve para o cristianismo, quer ele perceba isso ou não, ainda há um destaque importante para ser dado: Esse grande desapontamento é retratado na profecia, especificamente em Apocalipse capítulo 10.
Entretanto, não é sobre adventismo essa coluna, quero falar do Reino de Deus aqui. E nesse caso há um outro desapontamento que me preocupa. Outro desapontamento que também é profético e em sequência ao de Apocalipse 10 (22 de outubro de 1844). Mas esse não está relatado em Apocalipse, porém em Mateus, capítulo 7. No final do sermão do monte, o mais conhecido e discurso de Cristo, e a maior declaração do Reino, Ele profetiza sobre o que acontecerá no dia do Seu retorno. Portanto, ainda um evento do futuro. Leia Mateus 7:21-23.
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.
Essa cena é um soco no estômago, uma descrição forte do desapontamento que muitos terão no grande dia do Senhor. Gente que é considerada cristã no nosso mundo, que passou a vida na religiosidade, digo mais: Vida ativa na religiosidade. Mas que, a despeito de todos os esforços formais e visíveis, não conhece a Cristo. Nenhum de nós, cristãos, escapamos do apelo dessa cena, podemos ser eu e você aqui. O texto pode estar dizendo algo que eu diria: “Mas, Senhor, eu fui pastor, escrevia na coluna O Reino, fiz isso ou aquilo outro” e ainda assim não ser conhecido por Jesus. A discrepância dessa cena denuncia a discrepância de nossas vidas. É possível parecer e fazer como um súdito, sem nem conhecer o Rei.
A pergunta mais importante para mim e para você agora é óbvia: “Como não viver o maior de todos os desapontamentos?” O próprio Cristo dá a resposta. Ele afirma que não conhecer o súdito o tirará do Reino. O que esse “conhecer” quer dizer? Você pode estar pensando que é conhecimento bíblico, ou conhecimento subjetivo (experiências pessoais com Cristo), mas a Bíblia deixa claro o que esse conhecimento produz. A mesma cena é descrita mais tarde no ministério de Jesus em Mateus 25:31-46 onde Ele acrescenta mais detalhes. Dizendo que aqueles que Ele conhece, os conheceu enquanto eles tratavam de amar o próximo. I Coríntios 8:3 explica que “se alguém ama a Deus, esse é conhecido”, mas ainda mais profundamente claro é I João 4:8 onde é declarado que “aquele que não ama, não conhece a Deus, pois Deus é amor”.
Então aqui está o primeiro item de um verdadeiro discípulo de Cristo. Não é o que ele faz para a igreja, nem como está contra o demônio, nem o que faz em favor do discurso do evangelho, está em ser conhecido de Deus e conhecê-lo, amando como Ele nos amou (João 13:34-35).
Pelo amor de Deus, não negligencie isto, é a mais importante das características de Deus que um cristão precisa imitar, mais do que aprender hinos novos, mais do que fazer milagres, mais do que conhecer todos os textos da Bíblia, mais do que profetizar, é aprender a amar. Sem isso não temos nada de Cristo a ponto dEle mesmo declarar não nos conhecer. Sem isso estamos pensando que apontamos para o céu enquanto miramos o inferno. O desapontamento será grande para aqueles que esperam um Deus que nem conhecem. Conheça a Deus, Ele é amor.
Há mais duas dicas de Cristo para evitarmos esse outro desapontamento, mas deles eu falarei no próximo texto. Até lá.