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Coluna | Diego Barreto

O reino

Quando olhamos para este mundo, algumas coisas parecem não ter solução. Mas no Céu será tudo diferente.


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Pensando nos nossos dias, percebi que se houvessem dois elementos no capitalismo teríamos uma economia/sociedade bem mais justa. Não perfeita, mas muito mais justa. Coisas pequenas em si, mas que estão no centro dos interesses humanos, e é exatamente daí que vem o problema.

Há algo que poderia ter um impacto inacreditável em nossa sociedade e economia se baníssemos de vez a "obsolescência programada" (termo que define um hábito da indústria de criar produtos descartáveis ou com tempo de duração, obrigado as pessoas a consumirem novamente após o período programado). A obsolescência programada serve para manter o ritmo frenético da indústria. Na verdade, sua existência é a prova de que o que o capitalismo começou a resolver sozinho é uma de suas barreiras de expansão: o lucro está relacionado ao tamanho da produção, por essa razão, procura-se expandir cada vez mais a capacidade produtiva.

Hoje a indústria é capaz de gerar muito mais do que aquilo que nós necessitamos. Sendo assim, soluciona-se a questão criando produtos descartáveis. Assim, quando falamos de "preservar o planeta", de fato, o que estamos fazendo é preservando o nosso lucro. Queremos encontrar uma solução de reaproveitamento das coisas, e não de diminuição do consumo. Impõe-se a transformação do consumo e nunca da produção. Não queremos que a máquina pare, por isso estamos sacrificando tudo para continuar crescendo sem limites.

E é ai que chega o próximo elemento que pode ajudar a mudar tudo. Demarcar limites. Limites para a riqueza e para indústria. Esse limite - impopular porque só nos interessa lucrar - em si mesmo é capaz de equilibrar boa parte da desigualdade social. Um sujeito que é capaz de acumular de forma ilimitada é um opressor alheio, porque rouba de outros a mera chance de ter, às vezes, um pouco. Todos sabemos disso, mas ignoramos. O limite seria capaz de, esse sim, preservar os recursos da Terra. Ele também permitiria que mais pessoas alcançassem o tal limite. Ele seria uma válvula de defesa contra a inflação (resultado direto do desejo de lucro pessoal), diminuiria a ansiedade da vida e principalmente direcionaria o status quo e o objetivo de vida para o bem estar e não para o consumo e a riqueza opressiva. A competição nessa busca por riquezas nos faz extremamente disfuncionais.

E aí a gente volta para a obsolescência programada. Se os bens de consumo fossem duráveis, como aquela lavadora Brastemp antiga, o Fusca e a Brasília, teríamos uma economia limitada a funcionalidade e uso. Duas coisas aconteceriam: os produtos durariam muito mais e os recursos do planeta, aí sim, seriam preservados. E as pessoas teriam bens que duram muito mais e, portanto, mantém o seu valor por muito mais tempo. A indústria precisa que o valor de um bem dilua na mão do consumidor até desaparecer para renovar a necessidade do mesmo. Sendo assim, a velha lógica permanece para que um ganhe o outro perca. É preciso que o carro acabe nas mãos de alguém para entrar um novo veículo no mercado.

Toda essa realidade poderia ser subvertida se mudássemos esses dois parâmetros.

E o que isso tem a ver com o reino de Deus? Bem, tudo!

Porque há somente uma razão para que essas soluções acima jamais sejam possíveis. A natureza egoísta do ser humano. Desde o pecado só pensamos na sobrevivência própria e no lucro pessoal. Todo o resto é maculado por essas coisas.

Só admitimos sistemas que favorecem nossa natureza caída. Por isso o Capitalismo prosperou. Não acho que seja possível criar um sistema melhor que esse que nossa natureza consinta e se retroalimente dele. No entanto, ele deve ser o máximo alcançável em otimização de sistemas humanos, porque tem um limite. A partir do momento que nossa natureza dita as regras, sua finitude infecta qualquer sistema. Todos os sistemas são limitados. As limitações do capitalismo são os recursos naturais em relação aos desejos dos homens. Ainda que tenhamos o suficiente agora, se todos vivêssemos como queremos não haverá mais espaço, só para dar um exemplo. Somos limitados. E se o sistema se espelha em nós, também será. O capitalismo está no seu limite da otimização... Ainda dá para progredir um pouco, mas bem pouco. E não vejo o que possa substituí-lo. Talvez, e se fosse possível, como o paradigma da nossa natureza caída ainda é o mesmo, só trocaríamos seis por meia dúzia, porque tudo que pensamos é para nós mesmos.

Essa reflexão também demonstra como o reino de Deus é a única solução lógica, filosófica e plausível. Se pararmos de pensar em nós mesmos e começarmos a pensar no bem-estar do outro podemos construir um reino melhor. Graças a Deus que esse reino se estabelecerá aqui um dia, mas enquanto isso, quero nos desafiar a pensar nossa vida sobre a luz de um padrão eterno. De um padrão inovador para o homem de pecado. Um padrão que pensa além de si mesmo, e por isso, será eterno, porque será mantido por todos nós. Por isso, o reino de Deus não será limitado.

Diego Barreto

Diego Barreto

O Reino

Vivendo já o Reino de Deus enquanto Ele ainda não voltou. Um olhar cristão sobre o mundo contemporâneo.

Teólogo, é co-autor do BibleCast, um podcast sobre teologia para jovens, e produtor de aplicativos cristãos para dispositivos móveis. Atualmente é pastor nos Estados Unidos.