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Coluna | Diego Barreto

A revolução humilde

Todos nós temos a mesma doença do pecado e queremos tudo ao mesmo tempo.


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humildade

O problema do ser humano está com certeza em sua natureza. Escrito no nosso DNA está uma maldita diretriz que nos condena a todos aos mesmos comportamentos terríveis. Todos nós nascemos com isso. Ninguém precisa nos ensinar a mentir, roubar e odiar. Somos naturalmente propensos a coisas como essas, ao contrário, somos ensinados desde a infância a reprimir esses comportamentos. Alguns fazem isso muito bem, graças a Deus, enquanto outros têm lutas terríveis contra essa força do mal interior. O certo é que nenhum de nós vive o bem com facilidade, enquanto o mal nos é natural. Quando apanhamos, revidar é um instinto, nem se trata de uma decisão, mas é uma resposta automática. Alguns tentam refrear esses impulsos, mas todos que tentam sabem, o quão difícil é, beira o impossível em alguns casos e situações.

E todos nós sabemos que temos pontos fracos diferentes. Alguns são muito bons em acertar comportamentos específicos, assim como outros são fracos para acertar algum outro tipo específico de comportamento. Isso é a humanidade. Introduzimos em nossa natureza a perspectiva que nos macula e nos maltrata: A perspectiva do eu-deus.

Sim, nosso "eu" quer ser um deus. Desde o dia em que Eva optou por comer do fruto porque acreditou que o fazendo seria como Deus, herdamos essa característica e desejo. Talvez você diga: “Eu não quero ser igual a Deus não! Jamais pensei assim! Que ousadia! ”. E eu te digo: é o que você pensa! Porque parte do acordo silencioso entre você e seu “Eu” está em manter as aparências, você tem que ficar bem na foto, e ser egoísta para conquistar o mundo. Mesmo escondido o “eu” faz suas próprias demandas o tempo todo e nos domina profundamente. Você diz que não quer ser como Deus, mas o fato é que vivemos para conquistar os desejos, demandas e ideais próprios.

“Eu” quero ser feliz. “Eu quero”... “eu quero”... “eu preciso”... “eu sonho”... “eu sou”... “eu tenho”... “eu vou”... e assim por diante. Somos dirigidos por essa força que nos faz desejar tudo aquilo que achamos bom, desde honra a um avião particular, tudo o que desejamos se torna alvo dessa busca infinita. Digo infinita porque o desejo é infinito. Homens que são guiados pelo desejo nunca estarão satisfeitos com nenhuma mulher, mulheres guiadas pelo desejo nunca estarão satisfeitas em nenhuma circunstância. Porque o desejo não para, ele se renova diariamente, e na medida que vamos conhecendo e explorando o mundo ele se amplia querendo cada vez mais para si. Não tem fim. Todo produto novo, toda última tecnologia, tudo o que é novidade, tudo o que é desejável, aquilo que me traz conforto, que eu penso que me trará a paz, aquilo que me dá prazer, enfim, tudo o que eu não tenho, e eu não tenho muita coisa, pode se tornar alvo do meu desejo.

Não é só de coisas e propriedades que se faz o meu desejo. Eu também quero ter pessoas como se fossem coisas. Eu quero que elas ajam de uma determinada maneira, aquela que acho certa, ou que me traz benefícios. Quero ter poder sobre as pessoas. Quero ter razão. Quero ser bem visto. Quero ser adorado. Não precisa se ajoelhar diante de mim, basta que todos me amem, me sirvam, me deem razão. Esse mundo é perfeito ao meu "eu".

Somos todos tomadores. Estamos no mundo para conquistar e tomar “aquilo que é nosso”, como se fôssemos os donos do mundo. O problema é que todos nós temos a mesma doença do pecado. E todos nós queremos tudo ao mesmo tempo. Aí vem o problema. A Bíblia diz em Tiago 4:1 que nossas “contendas” todas, desde brigas de família, esposas e maridos emburrados, filhos rebeldes e guerras nucleares vem de um lugar só: “Dos prazeres que militam na nossa carne” que é um jeito de dizer: Dos desejos que estão no seu DNA, na sua natureza humana. Quando eu quero uma coisa e você quer a mesma coisa que eu, quem leva a melhor? O meu “eu” entra numa disputa com o seu para ver quem ganha. Surgem todas as desavenças humanas daí. Por isso o poder é tão desejado, porque ele pode subjugar outros “eus”. Enfim, eu poderia continuar escrevendo por horas sobre esse assunto, mas acho que você já entendeu. Tem um dEUs aí dentro de você querendo ser entronizado no universo. Lúcifer deu razão a essa voz, Adão e Eva também, e agora eu e você somos reféns dessa natureza. E o que pode nos curar disso

Jesus trouxe uma resposta para esse problema. Uma perspectiva nova que muda tudo. Que nos coloca no lugar certo, que aponta para a correção dessa natureza. Sabemos que somente Ele com Seu poder nos libertará da nossa natureza caída quando voltar nas nuvens do céu, mas até lá, Ele não nos deixou reféns dela. Cristo proveu um novo destino e com isso garantiu que teríamos também um caminho diferente.

A história de Jesus é uma história de serviço. Enquanto nós somos “tomadores” Jesus vem a esse mundo para “dar”. Ele vem para entregar o que é dEle por direito para que eu e você sejamos resgatados do nosso estado. O serviço é a solução de um paradigma que tentar ser Deus. Ser servo é a cura da ditadura do egoísmo. Ser servo nos coloca na posição que precisamos estar em humildade. E isso é revolucionário! Porque o serviço é o único propósito capaz de nos remover da posição de senhores.

O problema é que nenhum de nós quer aceitar ser inferior. Temos pavor de ser vítimas, queremos ser os senhores, os fortes, os atacantes. Ninguém quer ser ovelha, todos queremos ser lobos! Entretanto, Jesus explica que as vítimas estão do seu lado, Ele é quem as defenderá, Ele é quem enxugará dos olhos as suas lágrimas, os fartará da fome e sede de justiça e dará a eles por herança o seu Reino. Mas não nos identificamos com as palavras de Jesus: "amar o inimigo", "dar a outra face"... nos identificamos mais com: "O mundo é dos espertos", "sou cristão, mas não sou bobo"... Nenhum de nós quer perder, todos queremos é tirar vantagem. Veja bem, não me entenda mal. O mundo já está cheio de sofrimento e faz muitas vítimas todos os dias, não é disso que estou falando, isso é horrível mesmo. Me refiro a uma postura que não se permite às perdas, uma atitude que quer sair vitoriosa de tudo e todos. De alguém que quando ferido, não se admite vítima, e prefere o confronto, revidando com mais maldade. Estamos vivendo uma crise humana em que ninguém é vítima de ninguém, somos todos algozes uns dos outros. Não encontramos mais pessoas caídas que se levantam tristes pela maldade. Encontramos pessoas caídas revoltadas e que se erguem para promover mais mal ainda. Ninguém quer ser inocente ou ingênuo, todos queremos ser vivos e vorazes. Todos somos lobos, salvo a exceção daqueles que ouviram Jesus ensinar outro caminho. Esses, precisam ser ovelhas.

Servir é uma palavra que resume uma visão. O amor serve (I Cor 13). Ser servo é ser bom para o outro. Ser servo é curar-me de uma natureza que me aprisiona na constância do desejo de ser deus, dono e senhor. Servir é a perspectiva mais saudável. Retira as ansiedades de conquistar um mundo e nos coloca na postura de mansidão que vai herdar a Terra (Mt 5:5). Servir é encontrar seu propósito e missão no auxílio do outro. É ter o valor do céu. É viver como Deus vive, sendo Ele mesmo o Senhor. É uma vida na contramão de tudo o que está ai. A perspectiva mais revolucionária para o ser humano caído, uma única palavra que define toda a atitude cristã, que muda todos os paradigmas e altera o nosso comportamento para aquilo que é amor: serviço. O resumo da fé prática em uma palavra.

Jesus disse a Pedro: Quem não entrar nessa perspectiva não tem parte Comigo (Jo 13:8). Enxergue e viva como Jesus. "para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo Ele é, também nós somos neste mundo" (I Jo 4:17).

Diego Barreto

Diego Barreto

O Reino

Vivendo já o Reino de Deus enquanto Ele ainda não voltou. Um olhar cristão sobre o mundo contemporâneo.

Teólogo, é co-autor do BibleCast, um podcast sobre teologia para jovens, e produtor de aplicativos cristãos para dispositivos móveis. Atualmente é pastor nos Estados Unidos.