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Coluna | Carlos Nunes

Encontrei a ética da vida…

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Encontrei a ética da vida! E ela é simples. Compartilho dela contando uma história real:

A quase três mil metros de altitude, encravado entre as montanhas da serra peruana, depois de serpentear os morros em uma estrada vicinal à beira de abismos se descortina o lugarejo de Nogalpampa, na cidade de Bambamarca, no Peru. Chácaras aqui e acolá, às margens da estrada pedregosa, sinuosa e íngreme se apresentam Rosel e Denilson, dois jovens irmãos e sua família adventista. Rosel é casado, não tem filhos e abandonou a profissão de técnico em Veterinária pela família e pela preservação dos costumes culturais e bíblicos – uma vida simples, regalada a canchitas (algo do tipo milho pipoca cozido), caldo verde (sopa com hortelã, queijo, ovos e batatas típica do desjejum serrano), sopas de batatas e Igreja. Conhece todos e todos o conhecem!

Entre a primeira refeição, o almoço com saladas e grãos e o jantar com sopa de legumes e milho tostado – todos preparados ao nível do chão de barro no fogão à lenha da cozinha rústica -, Rosel só tem uma preocupação: visitar famílias a compartilhar o amor de Cristo! O tempo e o ar conjugam verbos distintos. O tempo passa lento e arrastado entre as montanhas gigantes e em meio aos estrondos de dinamite que explodem o ouro no fundo das lagunas que abastecem a comunidade. Este, aliás, o único ponto fora da curva ética, pois moradores, policiais e mineradoras vivem em pé de guerra, greves e mortes por conta da exploração que contamina as fontes das águas que mantêm a vida no lugar. E o ar é rápido, rarefeito pela altura demasiada.

Banho? Todos tomam quando há água! Onde? No box improvisado ao ar livre, com paredes de plástico branco a garantir o mínimo de privacidade. Serviços higiênicos? Todos precisam e usam! Onde? Naquela antiga “casinha” que alguns dos leitores ou usaram ou escutaram histórias do tempo do Epa. Nas estradas que cortam o vilarejo todos se cumprimentam e recebem boas-vindas dos porcos. São tantos que a sensação remonta o povoado gadareno onde Cristo precipitou os demônios despenhadeiro abaixo na manada de “cocinos”.

Rotina? Todos têm! Seu Juan, pai de Rosel, tece as famosas “chompas” (casacos de lã) nas máquinas tecelãs... Os demais parentes, inclusive a avó matriarca da família, não se furtam a lavar roupa, cozinhar e debulhar as espigas de milho de cores e sabores variados que só o Peru tem! Nesse tempo e nesse cenário Rosel se move, preocupado sempre com a Igreja de Nogalpampa e seu crescimento. Quando quer algo fora do comum da vida, desse ao nível da cidade para compras extravagantes, acesso a serviço médico ou viagem a cidades maiores...

Aos 15 anos, sonhando com a vida moderna na tela do seu tablet está Denilson, nome que o pai deu em homenagem ao brasileiro bom de bola dos tempos do São Paulo. Todos, inclusive ele, têm celular smartphone... Estuda há uma hora de caminhada da sua casa subindo a montanha. E a tarde divide entre os afazeres domésticos e o lazer na quadra de esportes... Nos demais dias? Está na Igreja. Cantando e ajudando o irmão. Já tem sua namorada... Justo a que pediu a Deus em oração! Lugar frio de cortar os lábios, distante e alto, mas que me fez encontrar a inspiração de reacender minha veia jornalística literária e, ao mesmo tempo e muito mais importante: o Espírito de Deus em solicitude ampla e inigualável em meio à ética pura e simples de Nogalpampa.

Para que contar? Para dizer que nos Nogalpampas da vida ninguém está preocupado com filmes cristãos pirateados ou LGBT´s crucificadas em marchas de orgulho gay. Ninguém entra nos debates internéticos mediados pelas redes sociais a destilar preconceitos de parte a parte porque, assim como Cristo, entendem que a ética da vida é simples: viver o amor de Deus, sorver de seu Espírito e respirar seus valores no comum do dia... E, com isso, não estou dizendo que não se deva ter posições e argumentos. Apenas que as palavras podem conduzir, mas o exemplo? O exemplo... arrasta!!!

Um amigo de internet que não privo da amizade física faz bons anos me fez pensar em um post que dizia algo assim: prefiro a política e a ação política porque fazem muito mais pela melhoria da vida das pessoas do que esse cristianismo evangélico barato que destila preconceito a cada oportunidade... Em Nogalpampa encontrei um cristianismo que é muito mais autêntico e capaz de resolver a vida do que qualquer outra ação humana engajada... É isso que os Clóvis, Fabrícios, Renatos e outros menos votados não se dão conta! Não sou fraco, não sou mané, não sou iludido, não sou careta! Sou seguidor do mesmo Cristo do Rosel e do Denilson, que se revelou em meio à ética simples e pura... Por isso, O amo e sei que só posso ser e sou feliz com Ele, ainda que às vezes me seja uma incógnita! Esse é o maior argumento contra os cristofóbicos, porque eles não têm como combater essa razão e essa felicidade. Sabem por quê? Porque essa, engajados ou alienados em suas mesas de bar ou escritório, traindo e fazendo sexo com quem quer que seja, amando e desamando a cada troca de roupa, com pós ou PhD não importa... não encontram nem no mais profundo dos seus ensaios, nem sonhando e nem vivendo!

Carlos Nunes

Carlos Nunes

Ética Prática

Assuntos relacionados à ética sob o ponto de vista cristão e os dilemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano.

Teólogo, atualmente exerce seu ministério pastoral no Peru. Jornalista profissional há mais de 20 anos, foi repórter nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, e professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).