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Coluna | Carlos Magalhães

O Pânico Moral numa sociedade digital

O que fazer quando a mídia está contra os valores cristãos


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pânico moral
Sociólogo explica fenômeno que faz com que pessoas queiram falar sobre tema controverso (Foto: Shutterstock)

Filmes, seriados ou jogos de vídeo game com temas polêmicos costumam criar grandes ondas de indignação na sociedade.  Quando esses conteúdos ameaçam a moral ou a grupos vulneráveis, a resposta da sociedade pode tornar-se violenta e histérica. O problema é que toda essa reação resulta em mais divulgação e lucro para seus criadores.

Nesse artigo tentaremos esclarecer o que é o pânico moral, suas consequências e como poderia ser a postura dos cristãos diante desse fenômeno.

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Pânico Moral: o que é?

O termo "pânico moral" foi popularizado pelo sociólogo Stanley Cohen em seu livro "Folk Devils and Moral Panics", publicado em 1972.[1]

O pânico moral é um fenômeno social que se refere a uma reação intensa e muitas vezes desproporcional da sociedade em relação determinadas mudanças, conteúdos ou inovações que representam ameaças aos valores morais e/ou interesses da sociedade.

Na atualidade, esse fenômeno ocorre com bastante frequência. Filmes como Barbie, séries como Round 6 ou jogos como GTA e Mortal Kombat são apenas alguns exemplos de conteúdos que dispararam o pânico moral.

Características do Pânico Moral

Existem algumas características comuns que podem ser observadas durante um episódio de pânico moral:

- Exagero e distorção: Os meios de comunicação e influenciadores digitais dão forte ênfase, muitas vezes violenta, exagerando a importância ou gravidade.

- Volatilidade: Os pânicos morais tendem a surgir rapidamente e, também, a desaparecer rapidamente.

- Resposta desproporcional: A reação da sociedade ou das autoridades a esses "demônios populares" é frequentemente desproporcional à ameaça real que representam.

Como surge o Pânico Moral

Vários fatores e atores sociais podem contribuir para o surgimento de um pânico moral:

- Mídia sensacionalista: A mídia tem o poder de moldar a percepção pública e, muitas vezes, busca histórias sensacionalistas para atrair audiência. Afinal, “o medo vende”.

- Política: Políticos podem se aproveitar de pânicos morais para promover suas agendas ou desviar a atenção de outros problemas.

- Mudanças sociais: Em tempos de mudança social rápida, as pessoas podem se sentir desorientadas e mais propensas a reagir a percebidas ameaças à ordem estabelecida.

- Empreendedor moral: é o conjunto de pessoas que se dedica a disseminar pânico de ordem moral: elegem os “inimigos”, ou seja, as coisas, as pessoas ou os discursos que de algum jeito ameaçam seu modo de vida, seus valores ou suas crenças, e passam a capitanear cruzadas morais contra eles com o objetivo de provocar sua segregação, proibição ou contenção.[2]

O Pânico Moral e o cristão

É natural para o cristão sentir indignação ou reagir quando se depara com tecnologias ou conteúdos que tendem a enfraquecer a espiritualidade ou afetar negativamente a moral da sociedade.

No entanto, o apóstolo Paulo escreve: “Irai-vos, mas não pequeis” (Efésios 4:26). O problema não está na indignação, mas na maneira como a manifestamos.

Quando os cristãos se envolvem em situações de pânico moral, de forma exagerada e crítica, criando cruzadas e perseguições nas redes sociais, sem respeito para com quem pensa diferente, acabam perdendo o foco da sua missão e motivando a hostilidade contra o cristianismo.

Cristãos que usam as mídias sociais de maneira agressiva para “condenar o mal e o pecado” geralmente são rotulados como “fundamentalistas ou empreendedores morais, criadores de regras que tentam impor sua moral sobre os outros”[3].

Os cristãos são chamados a "seguir a verdade em amor" (Efésios 4:15). Isso implica uma responsabilidade de abordar situações com discernimento, buscando a verdade e evitando reações exageradas ou sensacionalistas, que podem causar prejuízos a causa do evangelho.

Como lidar com o Pânico Moral

  1. Ao invés de vez de se deixar levar pelo medo, ira ou histeria, os cristãos devem buscar compreensão, diálogo e respeito com aquele que pensa diferente.
  2. O pânico moral é muito frequente na atualidade. Não faltarão influenciadores nas redes sociais que farão uso do sensacionalismo com o objetivo de atrair mais audiência ou lucro. Evite esse tipo de conteúdo.
  3. Como cristãos, precisamos saber como reagir diante de um novo filme, jogo ou tecnologia que podem ser antagônicos aos valores bíblicos.
  4. O ataque direto nem sempre é vantajoso. Às vezes, nossa resposta pode ser “combater o mal com o bem”, ou seja, ao invés de destacar o que está errado, devemos usar nossa influência para compartilhar o que é correto. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” Romanos 12:21

Ellen White escreveu: “O Senhor deseja que Seu povo siga outros métodos que não os que levam a condenar o erro, mesmo que a condenação seja justa. Ele quer que façamos alguma coisa mais do que atirar a nossos adversários, acusações que só servem para mais os afastar da verdade. A obra que Cristo veio fazer em nosso mundo, não foi erguer barreiras, nem lançar constantemente em rosto ao povo o fato de que se acham em erro. Aquele que espera esclarecer um povo iludido, deve-se aproximar dele, e por ele trabalhar com amor. Essa pessoa deve tornar-se um centro de santa influência” [4] Obreiros Evangélicos, p. 373.

Conclusão

O pânico moral é um fenômeno complexo que reflete as tensões e incertezas da sociedade. A cosmovisão cristã oferece uma perspectiva única, enfatizando a importância da verdade, do amor e do discernimento. Em vez de se deixar levar pela histeria ou pelo medo, os cristãos são chamados a responder com a verdade, porém com compaixão, compreensão e a esperança encontrada em Cristo.


Referências:

[1] Cohen Stanley. Folk Devils and Moral Panics: The Creation of the Mods and Rockers. MacGibbon and Kee 1972.

[2] Khaled Jr., Salah H. Videogame e violência: Cruzadas morais contra os jogos eletrônicos no Brasil e no mundo (pp. 32-33). Civilização Brasileira. Edição do Kindle.

[3] Khaled Jr., Salah H.. Videogame e violência: Cruzadas morais contra os jogos eletrônicos no Brasil e no mundo (p. 38). Civilização Brasileira. Edição do Kindle.

[4] https://m.egwwritings.org/pt/book/1736.1889

Carlos Magalhães

Carlos Magalhães

Igreja Conectada

Como levar a mensagem de Cristo ao maior número possível de pessoas usando a tecnologia digital

Graduado em Publicidade e Propaganda, é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e por anos atuou no segmento de e-Health. Tem se dedicado ao desenvolvimento de estratégias de evangelismo na internet há mais de 10 anos, e atualmente é o gerente de Marketing Digital da sede sul-americana da Igreja Adventista.