O Cisne Negro
Excelente artigo para entender o que é conceito do Cisne Negro e qual o impacto disso na nossa vida, inclusive espiritual
Cientistas acreditaram, por muitos séculos, que todos os cisnes eram brancos. Para eles, os cisnes negros eram altamente improváveis de existir. Essa era uma crença inquestionável até 1697, quando colonizadores chegaram à Austrália e se depararam com algo surpreendente: cisnes negros.
Esse acontecimento foi utilizado para dar nome a um fenômeno chamado “a Lógica do Cisne Negro[1]. Segundo essa teoria, acontecimentos altamente improváveis podem nos surpreender. Isso porque existem mais coisas que não sabemos, além das que já sabemos. O fato de que algo não aconteceu no passado não significa que nunca ocorrerá no presente ou no futuro. Como seres humanos, somos limitados e não conseguimos prever e nos preparar para o que pode acontecer.
O cisne negro e o peru de Natal
Para entender melhor essa teoria, imagine um peru que tenha chegado no início do ano em uma fazenda e começa a ser muito bem tratado. Durante vários meses recebe boas porções diárias de ração, banhos frequentes, passeios no quintal, vitaminas, vacinas e todo tipo de cuidado. Em algum momento, o peru chega a se sentir parte da família por ser tão bem cuidado. Na visão limitada da ave, esse é o mundo ideal, sua vida e seu futuro. Até que chega a véspera do Natal e algo trágico e inesperado ocorre: Sua cabeça é separada do corpo. Como ele poderia imaginar que o fim seria tão trágico? Tudo parecia ir tão bem. Durante 360 dias sua vida sempre foi a mesma, mas bastou um único dia e um único evento para o mundo virar, literalmente, de cabeça para baixo.
O fenômeno do Cisne Negro ou, o impacto do altamente improvável, manifesta-se também em outra áreas da vida humana. Nas crises econômicas, nas catástrofes, nas guerras (quem poderia prever o atentado de 11 de setembro) e também nas novas tecnologias.
Cisne Negro na tecnologia
Algo não imaginado ocorreu nas casas e famílias durante as três ou quatro últimas décadas. Lembro que, na minha infância, tínhamos apenas três objetos eletrônicos em casa: uma TV (preto-branco), um rádio e um toca-discos ou “vitrola”. Quando hoje olho para as casas vejo mais dispositivos eletrônicos que moradores. São computadores, tablets, smartphones, video-games e etc.
Quem, em meados da década de 80, imaginava que a Internet dominaria nossas vidas e se tornaria quase que essencial para indústrias, escolas, hospitais, aeorportos, comércio, etc? O fato é que não estávamos (e ainda não estamos) preparados para lidar com esse tsunami tecnológico que surgiu tão rapidamente. Vivemos decádas depois da invenção dos celulares, mas ainda estamos aprendendo a utiliza-los sem prejudicar os relacionamentos ou causar acidentes no trânsito. E o pior de tudo é que o futuro será menos previsível e trará mudanças ainda maiores: casas e cidades inteligentes, sensores por todo lado, robôs com inteligência artificial, carros que dirigem sozinhos e por aí vai. As novas tecnologias surgem como uma espécie de Cisne Negro no sentido de que nascem e se multiplicam de uma forma tão assustadora que nos vemos despreparados para absorver tudo e usar da maneira mais apropriada.
“As fortes marés que formaram as tecnologias digitais nos últimos 30 anos continuarão a se expandir e, mais fortemente, nos próximos anos. Banir o inevitável pode afastar o fogo, mas não apagá-lo. Nosso primeiro impulso é lutar contra isso, mas o melhor que podemos fazer é aceitar o inevitável e procurar civilizar essas coisas. Essas tecnologias não irão parar. Por impulso, nós resistimos às novas tecnologias proibindo, negando ou dificultando o seu uso. A proibição é o melhor temporariamente, mas a longo prazo é contraprodutivo”.[2]
O Cisne Negro na Bíblia
A Bíblia descreve, em várias ocasiões, o aparecimento de Cisnes Negros. O dilúvio e a vinda de Cristo são apenas duas delas. Antes do dilúvio nunca havia chovido (Gênesis 2:5-6), assim, a maioria daquele tempo duvidava que pudesse ocorrer alguma inundação. A primeira vinda de Cristo, como humilde menino, também surpreendeu aqueles que esperavam uma aparição majestosa do Messias (Isaías 53:3, João 1:46). E, pelo que parece, a Sua segunda vinda causará efeito semelhante. A sua vinda nas nuvens e a destruição do planeta por fogo, será um Cisne Negro para muitas pessoas (I Tessalonicenses 5:2).
O interessante é que, se você observar bem, Deus sempre antecipou esses momentos de ruptura na história. Ele enviou profetas para advertir e anunciar os grandes acontecimentos que impactariam a humanidade. Aqueles que acreditaram não foram pegos de surpresa. “Certamente o SENHOR Soberano não faz coisa alguma sem revelar o seu plano aos seus servos, os profetas” Amós 3:7. “Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e prosperareis;” 2 Crônicas 20:20.
Com isso, concluímos que, aqueles que acreditam na palavra de Deus, não são surpreendidos por Cisnes Negros. Eles sabem que os Cisnes Negros aparecerão, mas se tranquilizam por saber que Deus estará cuidando deles. E isso é muito confortador.
O Cisne Negro na sua vida
Nem sempre o Cisne Negro é algo negativo. Ele também pode ser um ponto de virada, a oportunidade de um novo começo, um momento para amadurecer ou mudar de pensamento. É possível que você tenha tido ou terá algum Cisne Negro. Isso é algo que não conseguimos prever ou evitar. Mas, procure olhar esses momentos inesperados como oportunidades para fazer algo melhor ou diferente. A doença, o desemprego, a desilusão amorosa ou outro fato inesperado são experiências muito tristes, mas também podem ser bênçãos disfarçadas. De alguma forma, esse impacto negativo pode provocar uma mudança forçada ou impulsionar seu crescimento espiritual, moral e intelectual, que numa outra situação mais confortável, você teria evitado. Seja lá qual for o momento atual da sua vida, confie nAquele que pode te guiar em meio as águas incertas e inesperadas dos cisnes negros até o porto seguro.
Que seu novo ano seja muito feliz!
[1] TALEB, Nassim. A Lógica do Cisne Negro. Editora Best Seller. 2008.
[2] KELLY, Kevin. The Inevitable. Editora Viking. 2016.