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Coluna | Carlos Nunes

Nada podemos contra a verdade

Em tempos de biografias autorizadas versus biografias não autorizadas, fico pensando se alguém se dispusesse a contar nossa história... Nossas relações sociais e sentimentais, nossa vida religiosa, acertos e erros no trato com nosso Deus e com nosso...


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Em tempos de biografias autorizadas versus biografias não autorizadas, fico pensando se alguém se dispusesse a contar nossa história... Nossas relações sociais e sentimentais, nossa vida religiosa, acertos e erros no trato com nosso Deus e com nosso semelhante. Certamente esse alguém teria de invadir, autorizado ou não, o recôndito de nossa vida, aquele espaço que só a nós pertence e que vai muito além das condutas sociais e espirituais politicamente corretas que expressamos no shopping, no escritório, no trânsito, na igreja... A pergunta é: Quem esse biógrafo encontraria?

À porta do coração de cada um de nós, bate um Cristo educado, querendo ser íntimo, participativo, conselheiro, companheiro... Esse Cristo foi biblicamente biografado por quatro escritores: Mateus, Marcos, Lucas e João. Fora os biógrafos extra-bíblicos. Os biógrafos não canônicos não pediram e nem poderiam pedir autorização a um biografado já morto... Mas o interessante é que os canônicos, isto é, os biógrafos bíblicos não só foram autorizados por Ele, se não que mesmo depois de morto Ele os “comissionou” a contar sua história. Na Nova Tradução Linguagem de Hoje (NTLH), seria como se Cristo dissesse: “Pode contar tudo! Não tenho nada a esconder”!

E quase tudo que pesa em favor da nossa própria educação, correção, repreensão e salvação do ponto de vista ético, social, moral e espiritual foi contado. No vácuo do pouco que é dito sobre a infância do menino Jesus, muita gente “viajou” relatando o que ninguém viu ou disse... Mas, como já foi dito logo acima: o que se contou é o que realmente importa para cada um de nós. O Cristo biografado não estava preocupado com a disputa entre os direitos de liberdade de expressão contra os de privacidade. Porque não havia nada a esconder! Tudo era publicável. Não havia em Cristo necessidade de mostrar o gravador e nem pedir um “off” (entrevista sem gravação ou identificação de fonte). N’Ele não havia área de sombra, ponto sem sinal, conexão travada ou qualquer outro impedimento.

O que não nos damos conta é que há muita gente cuja vida é um livro aberto, uma biografia autorizada pelas próprias circunstâncias que as rodeiam e ninguém se interessa em contar. Há tanta gente mergulhada em um caos social, psicológico e espiritual que merecia ter um novo capítulo escrito e que segue à margem dos que socialmente se aceitam e são aceitos. Reciprocidade viciada essa, não acham? Gente escrava das drogas lícitas e ilícitas que não consegue o resgate da autoestima. Gente submersa na escravidão da exclusão intelectual, material e sentimental.

Por outro lado, tantos bem-vestidos, cheirosos e “resolvidos” social e espiritualmente que, talvez, não resistissem ao ponto, nova linha, parágrafo da segunda página de sua biografia não autorizada... Aqueles cuja parte publicável de suas vidas não os exclui de nenhum espaço ou oportunidade no grande mosaico da vida em sociedade. Inevitável incluir aqui um trecho de Jobim e sua Vai levando: “Mesmo com todo o emblema, todo o problema, todo o sistema, toda a Ipanema, a gente vai levando, a gente vai levando... Mesmo com o nada feito, com a sala escura, com um nó no peito, com a cara dura, não tem mais jeito, a gente não tem cura... A gente vai levando, a gente vai levando”...

Esse ensaio, crônica da vida privada ou como queiram chamar é, sim, quase um brado de exaltação da verdade. Ah..., a verdade. Um texto da biografia de Paulo, o apóstolo bíblico, que muito me atrai, diz o seguinte: “Nada podemos contra a verdade, se não em favor da própria verdade”. Esse é o valor, esse é o sentido da existência, essa é a virtude. Alguém há de se “manifestar” um dia em favor da “verdade”. Sem máscaras, sem anonimato, sem vandalismos, sem pichações, sem apoios políticos ou partidários, sem segundas intenções... Mas eu já ia quase perdendo a linha, afinal de contas, o brado não é contra as manifestações se não que em favor da biografia da verdade... Uma verdade que na biografia autorizada de Cristo, é definida como Ele mesmo... O próprio biografado declarou: “Eu sou o caminho, a VERDADE e a vida”. Nada podemos contra a verdade, se não em favor da própria verdade!

Carlos Nunes

Carlos Nunes

Ética Prática

Assuntos relacionados à ética sob o ponto de vista cristão e os dilemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano.

Teólogo, atualmente exerce seu ministério pastoral no Peru. Jornalista profissional há mais de 20 anos, foi repórter nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, e professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).