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Coluna | Carlos Nunes

Cruz, a lava-jato de Cristo

O poder da cruz é um exemplo muito forte para a nossa experiência cristã. Esse artigo fala disso.


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cruzO impacto das denúncias, conduções coercitivas, manipulações midiáticas, protestos nas ruas e outros interesses escusos por trás do ex-presidente Lula e da Operação Lava-Jato segue reverberando nas redes e fora das redes com uma veemência incrível! Trata-se de um ícone da história política brasileira e, isso, nem os mais acérrimos inimigos do seu espectro político podem negar. E é também por isso que suscita tamanho desejo por vê-lo defenestrado, atrás das grades, como um expurgo, dizem, do estelionato eleitoral que teria praticado contra essa nação que nele confiou. A Igreja Adventista é apartidária, mas seus membros e pastores não! Eles têm liberdade de opinião, crença e escolha política para bem ou mal no que tange a consequências que todos, indistintamente, colhemos nesse processo.

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Todavia, nesse espaco meu tema não é expor meu posicionamento, se não o que sugere a Bíblia sobre o assunto do momento. E o que vou fazer é um exercício de lógica espiritual, que talvez mereca sua consideração/avaliação. Portanto, nao se apresse em atribuir paralelos entre Cristo e Lula para além do proposto aqui, sob pena de alguém dizer que Lula é o Cristo moderno sofrendo e padecendo perseguição. Para bem ou mal, vamos longe disso, que fique bem claro…

Se vamos aos exemplos bíblicos, teríamos de citar José e Daniel, clássicos modelos de homens que, imersos no centro do poder, não venderam suas convicções e abriram todos os seus sigilos e contas para bem de seu patrimônio ético e espiritual. E mesmo os mais incautos ante sua responsabilidade espiritual e política, como Ezequias, abriram seus tesouros sem medo de escutas, fiscos ou operacoes de limpeza pública.

O ponto é ver que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, subemteu-se ao mais injusto escrutínio de que se tem notícia! Teve a vida devassada por investigadores nada convencionais e que, por certo, temiam o “projeto de poder” de um galileu sem estirpe. O ponto é perceber que projetos de poder não podem ser derrubados porque ao homem custa muito caro e nisso não vai nenhuma segunda intenção, porque custa mesmo! Às vezes, a honestidade, como no caso de alguns que a história registra haver vendido seus valores. Outras vezes, uma história de lutas, sofrimentos e conquistas que nao se deseja perder. Por isso, muitos de nós, mesmo na Igreja, criamos nossas redes auto-protetivas para permanecer onde chegamos.

A experiência de Cristo

Que medo tinha Cristo? Que seus discursos fossem gravados? Que seu extrato bancário parasse em mãos estranhas? Que seus bens fossem fruto de alguma troca de favores ilegais? Lembro de uma vez em que, entrevistando a um empresário articulador e financiador de um partido político, que por saber por meio de suas redes que nossa investigação jornalística ia bater à sua porta, acabou permitindo o encontro. Como não era uma “entrevista”, mas um confronto, o cidadão sacou seu gravador e o pôs ostensivo sobre a mesa dizendo ser sua garantia contra minha escritura. Queria intimidar-me. De pronto, saquei o meu gravador e o pus ao lado do dele, igualmente ostensivo!

Cristo abriu todos os seus sigilos porque o que dEle se sabia já estava declarado em escritura pública lavrada com o sangue que Ele mesmo verteria no final, naquela cruz! Cristo não temeu artimanhas, conluios, facções políticas. E olha que no seu tempo nao era uma disputa entre partido de oposição e situação. Naqueles dias, era Ele e seus 12 contra fariseus, saduceus, romanos, sacerdotes, doutores da lei e mais a turba insandecida que, no final, somou suas vozes ao plano de morte tracado pelos mafiosos de então. O ponto é perceber que ícones não temem! Abrem seus livros, revelam seus sigilos sejam eles bancários, fiscais, telefônicos e patrimoniais porque como ele mesmo disse: “Não há nesse país, alma mais honesta do que eu”! E, eu parafraseando meu expresidente, digo que Cristo declarou em tinta vermelha: “sede perfeito, como perfeito é o vosso Deus”! Cristo foi, é e sempre será o que d´Ele se escreveu, o que d´Ele se viu em vida e o que d´Ele se verá na eternidade.

Antes que alguém diga que a religião é o ópio do povo ou que esses crentes vivem no mundo de Poliana, eu reafirmo as palavras do próprio Jesus em João 7: 16,17: “O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se falo por mim mesmo”. O homem não é o que ele diz ser, mas o que os seus atos mostram. A palavra pode conduzir, mas o exemplo arrasta.

Carlos Nunes

Carlos Nunes

Ética Prática

Assuntos relacionados à ética sob o ponto de vista cristão e os dilemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano.

Teólogo, atualmente exerce seu ministério pastoral no Peru. Jornalista profissional há mais de 20 anos, foi repórter nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, e professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).