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Coluna | Carlos Nunes

A Igreja, o ministério e os crentes: uma empresa espiritual (1)

O ministério não funciona com os mesmos objetivos de uma empresa. Existe para salvar


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a-igreja-o-ministerio-e-os-crentes-uma-empresa-espiritual-1A Igreja Adventista do Sétimo Dia não é uma empresa. E nunca o será. Essa foi uma frase dita por alguém de posição e responsabilidade. De fato, não é. Em uma igreja, alguns verbos são conjugados – e substantivos usados - por absoluta necessidade organizacional, embora até mesmo o uso dessa expressão (necessidade organizacional) soe um tanto inadequado. Uma igreja “administra” programas espirituais e evangelísticos. Uma igreja “gere” recursos humanos e financeiros. Uma igreja mantém uma estrutura  dividida por departamentos para o bom andamento das “frentes de trabalho”. Uma igreja “contabiliza” resultados quantitativos e qualitativos em termos de pessoal e recursos materiais. Uma igreja, sobretudo, tem “alvos”.

Mas com as devidas licenças, repita-se: a igreja não é uma empresa. Especialmente por um detalhe: a igreja é uma agência ganhadora de almas e não uma agência gestora de fundos de investimentos financeiros cujo objetivo é o lucro material. As ferramentas importadas do “mundo” lá de fora servem apenas ao objetivo, e, esse, passa longe da lógica secular, seja ela pessoal, social, política ou econômica.

Acontece que gerir interesses espirituais dentro de uma estrutura administrativa secular tem se mostrado uma equação ainda distante de um resultado satisfatório. Empresas têm normas, diretrizes e cartilhas a serem seguidas. Passos que, se dados dentro de um cronograma, tendem a levar a bom termo. Igrejas também. Nas empresas, o bom resultado é o lucro. Nas igrejas, o bom resultado são pessoas sendo salvas e ingressando nas mesmas, como passaporte para o Reino.

Cada nova pessoa assimilada é mais uma a ser aproveitada na engrenagem da estrutura que mantém a igreja funcionando e atuando ativamente junto ao seu público-alvo: os “perdidos”. Isso porque o ingresso é praticamente uma intimação para uma função no Reino. Na linguagem espiritual: discipular. Na linguagem da política de gestão de Recursos Humanos: mentorear.

Nesse processo se acumulam erros e acertos. Na lógica empresarial, erros e acertos implicam em consequências nos âmbitos financeiro e pessoal. Se ocorrem erros, o resultado na esfera financeira é o prejuízo, déficit, balanço negativo, passivo financeiro. Se ocorrem erros na esfera pessoal, a consequência pode, infelizmente, chegar à demissão. Na estrutura eclesiástica, os erros que se acumulam, também geram perdas financeiras e pessoais. No entanto, nessa dimensão da vida, as perdas são, especialmente, em um terceiro nível: espiritual.

A saúde de uma empresa é atestada pelo comprometimento pessoal de seus colaboradores, que é diretamente proporcional ao resultado financeiro positivo que ela alcança. E a saúde de uma empresa espiritual? Bom, esta também é diagnosticada pelo mesmo grau de comprometimento de seus fiéis. E o seu comprometimento reflete diretamente, da mesma forma, no seu resultado financeiro. Membros comprometidos com a causa espiritual de uma igreja são doadores sistemáticos na forma de dízimos e ofertas.

Mas, e se no afã de aumentar o número de colaboradores, membros ou discípulos, seja lá o nome que se queira dar, a empresa espiritual atropelar sua cartilha em nome do resultado pessoal e material? Inevitavelmente a saúde da igreja ficará comprometida. Não será por essa razão que a empresa espiritual tem enfrentado seu maior desafio na atualidade? Se toda a cartilha fosse seguida o resultado seria exato? Colaboradores preparados, treinados, comprometidos e fiéis a um modelo resultam, na razão diretamente proporcional, em crescimento em qualidade e quantidade? Sim! Esse é o modelo ideal em uma situação ideal.

Acontece que, desde que o capítulo bíblico de Gênesis 3 teve de ser registrado, o ser humano e a empresa espiritual já não vivem o equilíbrio dessa equação. O modelo continua o ideal. E Cristo provou isso! Mas a situação segue cada vez mais distante do ideal... Aliás, é certo que Cristo foi o único capaz de solucionar uma equação irreconciliável: um modelo ideal aplicado a um mundo mau e desigual. Ainda assim, pagou com a morte! Só a morte de Deus, na pessoa de Cristo, serviria para reconciliar o modelo e a situação. E Ele era Deus. Mas foi o mesmo Cristo que nos assegurou que o seu sucesso nos permitiria alcançar o mesmo resultado. Com o seu modelo de empresa espiritual poderíamos alcançar um resultado final positivo. No próximo mês, seguem os argumentos com vistas a definir o alcance dos limites dessa empresa espiritual.

Carlos Nunes

Carlos Nunes

Ética Prática

Assuntos relacionados à ética sob o ponto de vista cristão e os dilemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano.

Teólogo, atualmente exerce seu ministério pastoral no Peru. Jornalista profissional há mais de 20 anos, foi repórter nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, e professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).