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Coluna | Carlos Magalhães

Os jogos eletrônicos e as crianças

Uma análise por meio de perguntas e respostas sobre a relação entre as crianças e o uso de jogos etetrônicos no contexto cristão.


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Os pequenos e os jogos se tonaram motivo de preocupação de pais em todo o mundo. Mas como agir? (Foto: Shutterstock)

Tenho atendido pais e mães preocupados com o tempo que seus filhos vêm gastando atualmente com os jogos digitais (videogames, smartphones, etc). Eles têm dúvidas se isso pode ser prejudicial e não sabem como ajudar aos filhos que parecem viciados.  Se você também vive o dilema de ter filhos ultra conectados, saiba que não está sozinho e esse artigo é para você. Nele tentarei responder algumas inquietações:

É seguro deixar as crianças e adolescentes jogarem?

Jogos tornam as crianças mais violentas?

Que cuidados ter na hora de escolher um jogo?

Realidade

O brasileiro está jogando cada vez mais. O Brasil não é o país com maior número de jogadores, mas está entre os quatro que mais gastam tempo nesse tipo de atividade.  As mulheres representam 49% dos jogadores brasileiros e a maioria nos games online. E se você pensava que isso é coisa de menino, saiba que homens com mais de 45 anos e mulheres com mais de 35 estão à frente dos mais jovens. Muitos gamers ocupam cargos de direção em empresas. [1]

Porém isso desperta questões na mente de pais, educadores e governantes: consumir games pode ser positivo ou negativo? Quais serão os impactos no trabalho ou na educação? Esse crescimento pode ser resultado de algum outro fator social?

Perguntas e Repostas

1. Videogame faz algum bem para as crianças?

Antigamente os pais viam os jogos apenas como entretenimento e, por conseguinte, perda de tempo. Hoje, ainda que alguns pais continuem desconfiados, muitos já entendem que os jogos podem se transformar em aprendizagem. Nos jogos as crianças podem aprender enquanto se divertem.

Os jogos ajudam a desenvolver habilidades cognitivas e trabalham vários aspectos emocionais. No jogo a criança é desafiada a atingir um objetivo. Para isso ela precisará usar a criatividade, estratégia, planejamento, paciência e perseverança. Em jogos coletivos, elas aprendem a colaboração e cooperação.

2. Os jogos podem deixar as crianças mais violentas?

Em sua tese de doutorado, Lynn Alves analisou a famosa associação entre jogos e comportamentos violentos. Ela descobriu que os jogos são uma oportunidade para os jovens trabalharem seus medos, desejos e frustrações. É como se eles realizassem essas emoções sem precisar correr riscos. E é por isso que os pais devem acompanhar de perto a relação de seus filhos com os jogos: ainda que não determinem comportamentos violentos, podem potencializar algo que já existe na criança. "Se a criança ou jovem apresenta um comportamento violento quando joga", orienta Lynn, "ela está sinalizando que algo não vai bem, e os pais devem investigar se aproximando do filho ou procurando um especialista."[2]

3. Os jogos provocam doenças emocionais?

Em 2015, um estudo realizado com adolescentes americanos revelou que o tempo gasto jogando está relacionado ao risco de depressão, ideação suicida e planejamento suicida.  Aqueles que usam mais de cinco horas por dia jogando possuem mais chance de adoecer emocionalmente e sofrer bullying, sendo as pessoas do sexo feminino mais suscetíveis a isso. Por outro lado, o mesmo estudo também descobriu que 1 hora ou menos de videogame diário pode potencialmente proteger contra a depressão quando se compara com aqueles que não jogam nenhum videogame[3].

Os adolescentes podem desenvolver doenças emocionais por vários motivos. Contudo, os jogos podem potencializar o problema quando são utilizados excessivamente. Jogar de forma moderada, 1 hora ou menos, segundo a pesquisa, pode ser positivo, em alguns casos.

4. Os videogames estão relacionados à obesidade?

As pesquisas geralmente apontam dois riscos relacionados aos jogos e à obesidade infantil: o sedentarismo e as publicidades. Crianças que passam muito tempo jogando, consequentemente não se exercitam e isso pode provocar várias doenças, entre elas a obesidade. A publicidade, como outro fator, aparece na forma banners e anúncios de fastfood e outros alimentos nocivos presentes nos sites, vídeos e apps de jogos.

5. Como saber se um jogo é bom para os filhos?

O universo dos jogos é muito vasto. Se você quer avaliar se um jogo é bom, pesquise sobre ele no Youtube e tire suas conclusões. Digite o nome do jogo e a palavra “gameplay”. Leia os comentários de outros jogadores ou pesquise em fóruns e sites de game.

Observe, também, a classificação indicativa do jogo (idade mínima), a história do jogo, a narrativa, jogabilidade, as cenas e o conteúdo. O mais importante nem sempre é a qualidade gráfica, mas o que vai ficar na cabeça da criança depois que o jogo acabar. Avalie se seu filho já possui maturidade para lidar com os sentimentos e emoções que o jogo pode gerar.

6. Videogames e religião: jogar é pecado?

A relação dos jogos com a moralidade e espiritualidade é bem discutida nos meios religiosos. Geralmente a principal preocupação dos pais religiosos é saber se o jogo pode influenciar espiritualmente seus filhos resultando na incredulidade, em comportamentos negativos e no afastamento das crenças.

As principais críticas religiosas relacionadas a alguns tipos de jogos são: (1) é viciante; (2) é sentimental, ou sensacional, erótico, profano, ou vulgar;  (3) é escapista, fazendo com que o jogador volte a um mundo de sonho e seja menos capaz de lidar com os problemas da vida cotidiana; (4) pode ser impróprio para o estudo sério e a vida devocional;  (5) É um desperdício de tempo e sem valor.

Esse aparente conflito exige a reflexão em alguns pontos. O que vai determinar se um jogo é bom ou ruim para espiritualidade é (1) o jogador e (2) o próprio jogo. Pessoas diferentes reagem de forma diferente a um mesmo jogo. Enquanto para uma criança um jogo pode ser negativo ou positivo, para outra ele pode não causar o mesmo efeito. Contudo, alguns jogos são inadequados para pessoas preocupadas ou não com a sua espiritualidade e precisam ser evitados, mas isso não significa que todos os jogos sejam ruins.

Como mencionado anteriormente, o tempo também é um fator importante para a espiritualidade. Os pais que concordam em deixar os filhos jogar precisam regular o tempo que a criança gasta nessa atividade a fim de que não perca o interesse por outras atividades, incluindo as espirituais.

Conclusão

Chegamos à conclusão de que nem todo jogo é prejudicial, mas também nem todo jogo é benéfico. Por experiência pessoal e como pai de adolescentes posso dizer que, na prática, não é fácil controlar o que os filhos jogam. Sei que preciso sacrificar algumas atividades pessoais para ter mais tempo com eles e criar outras atividades prazerosas que os afaste dos games.  Porém, o que considero mais importante é reforçar os valores cristãos na mente deles.  Nossos filhos têm sido os alvos de uma batalha. Eles são impactados diariamente por mensagens midiáticas direcionadas a suas mentes. Nesse momento, o conselho inspirado é a nossa maior defesa:

“Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar” (Deuteronômio 6:6-7).


Referências

[1] https://www.comscore.com/Insights/Presentations-and-Whitepapers/2020/O-mercado-de-Games-no-digital

[2] Aperte o Play.  https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/vidaeestilo/aperte-o-play-1.355753.html?

[3] Differences by Sex in Association of Mental Health With Video Gaming or Other Nonacademic Computer Use Among US Adolescents. https://www.cdc.gov/pcd/issues/2017/17_0151.htm

Carlos Magalhães

Carlos Magalhães

Igreja Conectada

Como levar a mensagem de Cristo ao maior número possível de pessoas usando a tecnologia digital

Graduado em Publicidade e Propaganda, é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e por anos atuou no segmento de e-Health. Tem se dedicado ao desenvolvimento de estratégias de evangelismo na internet há mais de 10 anos, e atualmente é o gerente de Marketing Digital da sede sul-americana da Igreja Adventista.