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Coluna | Carlos Magalhães

Meu filho está viciado em jogos. O que faço agora?

Entenda como identificar e interpretar comportamentos, e como agir diante deles


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Pais também precisam conhecer o universo dos games para ajudar a orientar a escolha dos filhos (Foto: Shutterstock)

O crescimento no consumo de jogos eletrônicos tem despertado a preocupação de várias entidades e levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a classificar o vício em jogos eletrônicos como uma doença. Esse vício, assim como outros, causa prejuízos na vida do jogador e afeta toda a família.

Por isso, é importante que os pais saibam como proteger seu lar e a como lidar com essa situação, caso ela ocorra. Veja algumas respostas e sugestões práticas de como isso pode ser feito.

1. Videogames causam dependência ou vício?

Sim, os jogos podem causar dependência. O vício em jogos ou Internet Gaming Disorder (IGD) está na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) e foi anunciada oficialmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2019 para entrar em vigor em janeiro de 2022.

A IGD é definida como uma síndrome clinicamente reconhecível e significativa quando o padrão de comportamento do jogo for de tal natureza e intensidade que resulte em angústia acentuada ou em deficiência considerável no funcionamento pessoal, familiar, social, educacional ou ocupacional. A IGD é comparável à dependência de substâncias químicas. As pessoas com essa síndrome persistem nos jogos, independentemente dos efeitos prejudiciais.

Por isso, os parentes próximos precisam ficar atentos ao comportamento do jogador. Geralmente o viciado é alguém que gasta muitas horas diárias nessa atividade, recusa-se a fazer outras atividades, deixa de cuidar da higiene pessoal, prefere jogar a se alimentar, apresenta mudanças no comportamento (angústia, ansiedade) e quando não consegue jogar manifesta a síndrome de abstinência.

2. Como tratar o vício em jogos?

Para os viciados em jogos eletrônicos, a abstenção causa sofrimento e alguns sintomas, que podem ser diferentes para cada pessoa. Para algumas parece haver uma espécie de período de "desintoxicação" de 3 a 4 dias em que os sintomas são mais graves. Para outros, os sintomas de abstinência podem durar várias semanas ou meses. Com o abandono do jogo e por meio do desenvolvimento de um programa de recuperação, os efeitos desaparecem com o tempo.

É preciso algum período para o cérebro se recuperar do que o jogo excessivo, a privação de sono e o isolamento social fizeram a ele. De qualquer forma, leve a pessoa para uma avaliação psiquiátrica.

No tratamento para vício em jogos online, acima de tudo, é fundamental introduzir hábitos saudáveis na vida do paciente. Isso para que a pessoa possa desapegar da necessidade de recompensa e encontre essa gratificação em outra atividade. Incentivar a prática de exercícios físicos, uma alimentação saudável e, principalmente, relacionamentos em que haja afeto e confiança são as melhores formas de evitar recaídas no futuro.

Para saber mais sobre os possíveis tratamentos, clique aqui.

3. A violência praticada por jovens é influenciada pelos jogos?

A mídia, em geral, costuma associar as chacinas praticadas por jovens com o hábito de jogar. Isso ocorre sempre que uma investigação detecta jogos violentos nos computadores dos criminosos. Entretanto, não se pode provar cientificamente que o jogo produz o comportamento violento. A violência é algo mais complexo, pois envolve, também, aspectos econômicos, sociais, culturais, políticos, afetivos, espirituais, etc.

As pesquisas não indicam uma relação clara entre jogos e atitudes violentas. Alguns estudiosos concluem que isso é até possível, mas não para todas pessoas. O que se percebe é que as pessoas violentas são mais propensas a lidar com jogos violentos, mas isso não significa que todos que jogam títulos violentos têm comportamento violento. Um jogo pode deixar a criança mais agitada, mas esse efeito também tende a ser temporário.

Aqui vai uma sugestão: se você é pai ou mãe e tem visto seu filho jogando jogos violentos frequentemente, analise o comportamento dele antes e após o jogo. Veja se é sinal de que algo não vai bem ou se é uma questão de seguir a maioria, jogando o que outros amigos estão jogando. Converse e oriente.

4. Como os pais podem garantir o uso saudável dos jogos?

Os pais precisam ficar atentos e saber o que os filhos pequenos estão jogando. Questione seu filho se ele compreende o conteúdo do jogo, os aspectos ideológicos, as éticas de gênero, as questões morais, etc. Os pais também podem criar uma aproximação maior ao jogar com ele. É uma oportunidade de interagir e conhecer o que a criança está consumindo.

Quanto aos adolescentes, não é tão fácil monitorá-los. Conversar claramente e orientar é o melhor caminho. Também experimente interagir jogando com eles. Essa atividade abre oportunidade para a comunicação.

5. O vício e o papel dos pais

É bastante comum que crianças e adolescentes sintam prazer em jogar e, se deixados livres, gastarão uma enorme quantidade de tempo nessa atividade. O jogo desperta a sensação de prazer, principalmente quanto um desafio é conquistado ou vencido. Contudo, é o excesso da busca desse prazer que pode se tornar um vício.

Algumas crianças introvertidas e com pouca habilidade social se sentem mais atraídas pelos ambientes dos jogos. Nesses espaços virtuais de jogos on-line, elas conseguem se expressar e ser reconhecidas por suas habilidades como jogador. Algumas se tornam celebridades nesse universo digital dos games, enquanto no mundo real são ignoradas pelos pais e rejeitados pelos colegas de escola. Essas crianças, naturalmente, irão procurar viver o máximo de tempo possível no ambiente que melhor as acolhe e valoriza.

Não é minha intenção responsabilizar aos pais por todo vício em jogos eletrônicos, mas é preciso considerar a importância que o cuidado dos filhos tem nesse processo de evitar ou tratar o viciado. A estrutura familiar pode colaborar ou evitar muito desse problema.

Conclusão

Se uma criança gosta de jogar, isso não significa que ela tem propensão ou se tornará viciada. Existe uma série de fatores que pode incentivar ou evitar o vício. As famílias e escolas têm um importante papel nesse processo. É também necessário orientar e ensinar as crianças a consumir os novos produtos da tecnologia, além de criar regras e limites. Para isso, os próprios educadores também precisam ser treinados.

A tecnologia, e consequentemente os jogos eletrônicos, podem ser uma bênção quando usados de maneira sábia. Contudo, essa sabedoria não está presente na cultura da sociedade de forma geral. É necessário pedir a Deus discernimento para que o uso das invenções humanas não provoque a nossa própria destruição. “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tiago 1:5).

Carlos Magalhães

Carlos Magalhães

Igreja Conectada

Como levar a mensagem de Cristo ao maior número possível de pessoas usando a tecnologia digital

Graduado em Publicidade e Propaganda, é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e por anos atuou no segmento de e-Health. Tem se dedicado ao desenvolvimento de estratégias de evangelismo na internet há mais de 10 anos, e atualmente é o gerente de Marketing Digital da sede sul-americana da Igreja Adventista.