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Coluna | Ana Paula Ramos

Risco iminente

Estamos constantemente expostos aos conflitos deste mundo, mas devemos ter a segurança de que em breve viveremos em paz com Cristo


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A verdadeira segurança é encontrada apenas em Jesus (Foto: Shutterstock)

Há pouco mais de um ano, eu estava dirigindo no bairro onde moramos, no Cairo, Egito, logo atrás de um caminhão do Exército cheio de soldados fardados e com armas empunhadas. Essa é uma cena que vemos com certa frequência pelas ruas e avenidas da cidade, especialmente em datas comemorativas, por questões de segurança.

Depois de mais de seis anos do retorno de nossa família ao Egito, naquela ocasião pensei: “Este é um típico dia que uma bomba pode explodir bem aqui, em uma avenida como essa.” Não pensei nisso por estar assustada. Foi algo que me veio à mente de forma natural ao olhar o cenário à minha volta, considerando que estávamos iniciando um dos principais feriados do ano do calendário Islâmico. Historicamente, muitos atentados ocorrem em datas comemorativas que remetem a lutas armadas do passado e celebrações religiosas. 

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Era um desses caminhões de campanha, verde escuro, com abertura na caçamba nas laterais e traseira semiaberta, em que você pode ver os soldados sentados com suas armas, observando as ruas enquanto o veículo está em movimento. Alguns deles estavam em pé, apoiando suas botinas na base da caçamba, posicionando-se de frente para os motoristas que vinham logo atrás, no caso eu, sozinha no carro. No olhar deles, mais um dia normal na rotina de um soldado. Nenhuma tensão aparente no ar. 

Desde que retornamos ao Egito, em 2017, lembro-me apenas de uma vez em que um pensamento semelhante passou pela minha mente. O fato é que nos sentimos muito mais seguros vivendo aqui do que onde vivíamos no Brasil. Muitas vezes mais seguros do que nos anos em que moramos na capital de São Paulo. 

Desafios reais

O Brasil tem níveis de criminalidade e índices de mortes que resultam dela que são mais altos do que nas zonas de guerra ativas no mundo. Nos acostumamos tanto com essa realidade que muitos dos crimes recorrentes não são nem mais “notícia”, por fazerem parte do cotidiano.

Até hoje somos perguntados se nos sentimos seguros vivendo aqui no Egito. “Qual é a sensação de viver na cidade que foi palco de uma revolução recente, que dividiu a história dessa nação milenar em antes e depois de janeiro de 2011?”. Com todas as imagens do terrorismo ligado ao mundo árabe amplamente difundidas na mídia, você pode imaginar que já ouvimos de tudo e muita coisa já passou pela nossa cabeça.

Historicamente, na maioria dos países, as datas comemorativas nacionais são palco para protestos e manifestações sociais pacíficas e violentas, de alguma forma relacionadas à ocasião. No Egito não é diferente. E desde a revolução de 2011, que causou muitas mortes e pânico geral na população, a segurança nas grandes cidades foi amplamente reforçada em todas as datas comemorativas do ano. O Exército vai às ruas equipado, mesmo sem rumores de manifestações. 

As igrejas cristãs de todo o país possuem seguranças do governo à entrada. Mesmo em uma congregação de 40 membros há uma guarita com guardas financiados pelo governo fazendo vigilância 24h. Eles estão lá para proteção a possíveis ataques de extremistas e para garantir o cumprimento das normas claras de conduta cristã no Egito. Igrejas cristãs são apenas para cristãos. Essa segurança também é reforçada nas datas comemorativas cristãs no país.

Quando olho para os níveis de violência que temos no Brasil em suas mais diversas formas - crimes hediondos e atrocidades que cansamos de acompanhar no noticiário, e penso nos últimos anos vivendo no Egito, agradeço por me sentir muito mais segura aqui, sem esquecer-me de que também estamos em uma cidade de grande porte com crimes e atrocidades. A verdade é que vivemos em um mundo deteriorado e guiado pelo mal.  

Como encontrar segurança e paz?

Minha vontade ao escrever este artigo foi para refletirmos um pouco sobre nossa condição de vida neste planeta, especialmente após os dois anos da pandemia de Covid-19. Vivemos muito mais próximos da morte do que antes desse período que marcou toda uma geração em nível mundial. E hoje termino de atualizar este texto com a notícia dos ataques do Hamas à Israel, que acaba de declarar guerra. 

Seja presenciando um assalto à mão armada em plena luz do dia pelas ruas de São Paulo, seja dirigindo atrás de um caminhão de guerra no Egito; seja vivendo num país em guerra, este mundo vive em risco iminente constante. E quando as coisas aparentemente começam a se acalmar, voltando ao seu estado “normal”, tenho a impressão de que Deus nos manda outros sinais de que o fim está cada vez mais próximo. Apesar de podermos celebrar muitas vitórias em meio ao caos vivido nesses últimos anos, sendo gratos e felizes pela proteção de Deus e pela vida, continua sendo anormal para mim dirigir atrás de um pelotão armado do Exército na rua de casa. 

Isso tudo precisa ter um fim. E o fim já está determinado. Falta pouco. Se você está vivo neste momento é porque Deus ainda quer continuar te transformando e te usando nos capítulos finais da história deste mundo. Assim como vivemos em risco iminente, a Salvação é garantida a todo o combatente do exército de Cristo. Essa é a segurança que temos, e ela nos traz a paz que excede todo o entendimento. 

Ana Paula Ramos

Ana Paula Ramos

Missão e Voluntariado

Até onde vão pessoas que se colocam nas mãos de Deus para servir na missão de pregar o evangelho.

Jornalista e escritora, foi voluntária no Egito entre 2014 e 2015, onde mora atualmente com seu esposo, Marcos Eduardo (Zulu), e suas filhas, Maria Eduarda e Anna Esther. É autora do livro Desafio nas Águas: Um resgate da história das lanchas médico-missionárias da Amazônia (CPB).