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Coluna | Ana Paula Ramos

Pelo fim da missão em terceira pessoa

Uma reflexão bem interessante sobre a missão que ultrapassa as histórias e se torna prática na vida dos filhos


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Leo e Jessie Halliwell na Lancha Luzeiro, na região amazônica (Foto: Arquivo)

No mês de maio comemorei meu primeiro dia das mães tendo em meus braços nossa pequena Maria Eduarda com duas semanas de vida. Você pode imaginar quanta coisa tem mudado em nossa vida nos últimos dias. Nossa rotina e prioridades são quase que completamente diferentes. Tudo o que queremos é que ela cresça com saúde, em segurança e nos caminhos de Deus. Esse pequeno ser também tem me feito refletir bastante sobre missão.

Quando decidimos que viveríamos na África do Norte por um ano e meio como voluntários, tivemos uma boa conversa com nossos pais. Meu esposo sempre ouviu muito o conselho de seus pais e para esse momento não seria diferente. Ao falar com meu sogro sobre nossa decisão, ele ouviu algo assim: “mas precisa ser tão longe meu filho? Tenho certeza que eles podem encontrar alguém para realizar esse projeto lá. Você já realiza um bom trabalho aqui no Brasil.”

Meu esposo sempre gosta de mencionar esse diálogo por onde passamos ao falar sobre missão. Convicto da condução de Deus para o trabalho que realizamos, ele rebateu em seguida: “como assim pai? Não foi você que me deu os livros de grandes missionários para ler quando eu era menor? Não foi você que sempre leu histórias emocionantes de servos de Deus ao redor do mundo enfrentando os mais diferentes desafios? Agora, quando o seu filho quer servir e ser capaz de morrer por esse mesmo Deus aí a conversa muda. É melhor enviar outra pessoa.”

Um silêncio de poucos segundos se deu em seguida. Até que o senhor Roberto, homem simples, fiel e temente a Deus disse mansamente: “Você tem razão meu filho. Vá. E que Deus te abençoe muito.” Seria essa a sua reação também?

Todo o sábado na Igreja Adventista, durante a Escola Sabatina, ouvimos histórias emocionantes e inspiradoras de milagres e transformações de vidas por todo o mundo através da carta missionária. Os relatos vêm de diferentes países ao redor do mundo e de tempos em tempos até ouvimos algumas histórias da América do Sul, mais próximas de nós.

David Livingstone, Leo e Jessie Halliwell, Ana e Fernando Sthal, Mary Slessor são alguns dos grandes personagens cujas histórias emocionantes são contadas, recontadas e foram lidas por muitos de nós. No entanto, como pais e mães, estamos preparados para ver nossos filhos assumindo a posição que os filhos dos outros tomaram e ainda tomam ao redor do mundo em locais de grandes desafios e riscos?

A missão para muitos é inspiradora, mas apenas quando é contada em terceira pessoa. O que ele, ela ou eles fizeram. Somos uma nação com a maior força jovem e a maior “Igreja Adventista” no mundo, mas ainda temos muito mais histórias para ler do que para contar como verdadeiros missionários. Chegou o tempo (há quem diga que já passou da hora) de termos uma geração capaz de realmente viver e doar a vida como viveram e morreram aqueles que por aqui e por todo o mundo têm passado, porque ainda há muito trabalho a fazer. A seara é grande.

Como mãe, desejo ser usada por Deus para educar a Duda para “ir aonde Deus mandar”, como uma missionária “em primeira pessoa”. Que Ele me ajude a ter a coragem que tantos tiveram e o coração que preciso ter para ouvir a Sua voz e enfrentar os desafios que teremos pela frente em Seu nome.

Ana Paula Ramos

Ana Paula Ramos

Missão e Voluntariado

Até onde vão pessoas que se colocam nas mãos de Deus para servir na missão de pregar o evangelho.

Jornalista e escritora, foi voluntária no Egito entre 2014 e 2015, onde mora atualmente com seu esposo, Marcos Eduardo (Zulu), e suas filhas, Maria Eduarda e Anna Esther. É autora do livro Desafio nas Águas: Um resgate da história das lanchas médico-missionárias da Amazônia (CPB).