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Coluna | Ana Paula Ramos

Precisa-se de missionários audaciosos e não aventureiros

Todo aquele que nasceu de novo como um discípulo de Cristo é um missionário


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aventura

Entre uma e outra conversa sobre missão e seus desafios, ouvimos com certa frequência: “fazer missão é a cara de vocês. Vocês são desbravadores, gostam de uma aventura.” Por um lado, ter desprendimento e a experiência que o Clube de Desbravadores oferece, realmente são pontos favoráveis para missionários e voluntários. Por outro lado, incomoda-me um pouco ouvir a parte do: “vocês são aventureiros, aí dá certo”, confesso.

[Deixando bem claro que ainda entendo e defendo que todo aquele que nasceu de novo como um discípulo de Cristo é um missionário. Estamos todos em missão! No entanto, destaco aqui àqueles que se preparam ou têm a missão como ocupação profissional de dedicação exclusiva.]

Ao ler o livro “Qual é a tua Obra?” de Mário Cortella, grifei alguns dos conceitos apresentados de forma muito clara e pertinente no contexto da liderança e da ética. A definição que o autor faz de uma pessoa audaciosa e aventureira, trouxe à tona esse incômodo, fazendo-me compreender melhor o porquê a ideia de ser um aventureiro em missão me deixa desconfortável.

Segundo Cortella, “Audacioso ou audaciosa é aquele ou aquela que planeja, organiza, estrutura e vai. Aventureiro ou aventureira é quem diz: ‘Vamos que vamos e veremos no que dá.’” E ele reforça. “Não confunda audácia com aventura. A mudança se faz com os audaciosos e não com os aventureiros.” (2015, página 47).  Faz sentido para você como fez para mim?

Além da falta de planejamento e preparo, o aventureiro geralmente tem como base as vantagens que terá em ser um missionário. Alguém que está em busca de novas experiências muito mais para enriquecer o currículo e conhecer novos lugares. Como ouvi um dia desses: “só vou para a próxima missão se for para conhecer outro país.” Não há dúvida que é possível cumprir a missão e fazer a diferença, ganhando experiência profissional e visitando lugares que você nunca esteve antes.

A ideia de dar um passo de fé sem ter todas as respostas como Abraão, apenas seguindo o chamado “vai para o lugar que eu ainda vou te mostrar”, pode confundir um pouco as pessoas na questão do planejamento e preparo. Considere a fé como parte do preparo, ela é um dos fundamentos da vida de um cristão.

Temos buscado desafiar e encorajar missionários audaciosos, que com certeza podem viver grandes “aventuras” não sendo considerados “aventureiros”, vamos dizer assim. Para os aventureiros, a ideia de missão é completamente limitada e logo perde o sentido. É como fogo de palha.

Se você começou nessa ideia de missão e voluntariado como um aventureiro, sem saber muito no que vai ou iria dar, preocupe-se, mas não desanime, de certa forma eu também já me questionei e me senti assim. O gosto pela aventura existe. O desejo de conhecer novas culturas e ter novas experiências também. Somos seres humanos. Ore e busque a audácia que você precisa para ser um verdadeiro missionário. Lembre-se de que a palha também é usada para iniciar grandes fogueiras que podem ser alimentadas continuamente para praticamente nunca se apagarem (a gente aprende isso como desbravador).

Como a seara é grande e os trabalhadores são poucos, precisamos de planejamento, organização, estrutura e atitude/fé. Nos próximos artigos, vamos falar um pouco mais desses tópicos, sugerindo alguns caminhos possíveis você cumprir a missão com audácia.

Referência Bibliográfica: (CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua Obra?, 24a Edição - Petrópolis, RJ: Vozes, 2015)

 

Ana Paula Ramos

Ana Paula Ramos

Missão e Voluntariado

Até onde vão pessoas que se colocam nas mãos de Deus para servir na missão de pregar o evangelho.

Jornalista e escritora, foi voluntária no Egito entre 2014 e 2015, onde mora atualmente com seu esposo, Marcos Eduardo (Zulu), e suas filhas, Maria Eduarda e Anna Esther. É autora do livro Desafio nas Águas: Um resgate da história das lanchas médico-missionárias da Amazônia (CPB).