Notícias Adventistas

Coluna | Adolfo Suárez

O perigo da cobiça

Tem você sido grato e grata a Deus pelas coisas que Ele tem lhe dado?


  • Compartilhar:
Aí repousa a loucura: querer mais do que se pode.

Aí repousa a loucura: querer mais do que se pode.

O maior sonho do camponês era possuir muitas terras. Não podendo conseguir do patrão tudo quanto desejava, procura outro senhor, que lhe diz que, com o dinheiro que tem, pode receber toda a extensão de terra em volta da qual ele seja capaz de andar até ao pôr-do-sol. O camponês concorda imediatamente, e o dono das terras coloca seu boné sobre um torrão e lhe diz: “Caminhe até onde quiser, e volte até este boné antes do sol se pôr, e toda a terra que seus pés pisarem lhe pertencerá”.

O camponês caminha deslumbrado. Logo adiante vê um pedaço de terra muito boa, ótima para plantar milho. Mais adiante descobre um pedaço excelente para o cultivo de batatinhas. À frente encontra outro magnífico lote de terra ótimo para laranjas, e outro mais, e outro ainda, e mais um...

Para abranger tudo aquilo tem que correr, e ele corre muito. Cansado, conclui que já tem o suficiente, e nota com apreensão que o sol está bem perto do horizonte e o boné ainda fora de vista. Acelera os passos, mas tem os pés feridos e sangrentos; dói-lhe a cabeça, os pulmões estão no limite do esforço, o coração bate como contra as costelas. Redobra o sacrifício e finalmente avista o boné. Está exausto, todos os nervos tensos, a cabeça parece explodir, e seus olhos mal enxergam. Mas os ouvidos latejantes percebem os aplausos de algumas pessoas, e com esforço sobre-humano estende a mão para o boné. Mas antes de alcançá-lo cai exausto, desmaiado. O sol se põe e ele está esticado no chão, morto.1

Que sujeito infeliz! Tinha tudo para se dar bem na vida. Mas suas ambições foram maiores do que as suas necessidades, e sua euforia foi maior do que o bom senso. Assim, não desfrutou do que tanto sonhou e nem aproveitou o que tinha.

O desejo desmedido, o querer ter as coisas, não tem limites, porque é algo que está na imaginação da pessoa. Todavia, embora os desejos sejam ilimitados, a capacidade de possui-las é limitada, finita. Aí repousa a loucura de querer mais do que se pode. Por isso, Deus nos adverte: “Não cobicem a casa do próximo, nem sua esposa, seu escravo, sua escrava, seu boi ou jumento. Não ponham o coração em nada que pertence ao próximo”. Êxodo 20:17 (A Mensagem).

O que é a cobiça?

Conta-se que um repórter perguntou ao magnata Nelson Rockefeller: “Quanto dinheiro é necessário para ser feliz?”. O ricaço respondeu com naturalidade: “Um pouco mais”.2 É isso. Cobiçar significa colocar nossa devoção em coisas – dinheiro, sucesso, fama – e transformá-las no centro de nossa existência, crendo que são o fundamento sobre o qual construímos a felicidade. Para o cobiçoso, as coisas se tornam mais importantes do que as pessoas e suas necessidades.3 O cobiçoso nunca está satisfeito; para ele, o muito é ainda pouco. Enfim: A cobiça é o amor fora de proporção, fora de equilíbrio e fora de lugar.

Mas atenção, não nos enganemos: a cobiça não é, essencialmente, uma questão de pobreza e riqueza. Cobiçar é um vício e pecado tanto do rico quanto do pobre, de quem mora numa casa simples ou num condomínio de luxo. Sabe por quê? Porque cobiçar é a insatisfação doentia e constante com o que se tem, seja muito ou seja pouco. É o desejo desmedido de avançar mais, querer mais, procurar mais, almejar mais, planejar mais, a ponto de sacrificar tudo e todos para ter o que se quer. A pessoa tem uma bicicleta, mas obcecadamente quer um carro. E quando tem um carro, obcecadamente quer uma mansão. E quando possui a mansão, obcecadamente quer um jatinho e um helicóptero. Na cobiça o problema não é ter muito ou ter pouco; o problema é a constante insatisfação com o que se tem, o que provoca um senso de constante infelicidade.

Nós cobiçamos quando reclamamos constantemente das coisas que não temos. Cobiçamos quando menosprezamos ingratamente as coisas que temos. Cobiçamos quando não temos prazer no sucesso do nosso próximo, e quando desejamos algo de alguém.

O conselho divino

O apóstolo Paulo nos aconselha: “Não se deixem dominar pelo amor ao dinheiro e fiquem satisfeitos com o que vocês têm, pois Deus disse: “Eu nunca os deixarei e jamais os abandonarei”. Hebreus 13:5. Esse verso de Hebreus nos leva a afirmar, sem medo de errar, que a cobiça e o descontentamento são problemas teológicos: cobiçar é duvidar da capacidade de Deus de nos sustentar; cobiçar é duvidar de que Deus, ao Seu tempo e ao Seu modo, nos dará o que precisamos, mas nem sempre nos dará o que desejamos.

Sabe qual é o melhor remédio contra a cobiça? Gratidão. É isso mesmo. Uma pessoa grata tende a desfrutar do que já conquistou, fica feliz com o que já recebeu. Uma pessoa grata entende que o que realmente importa não é o quanto se tem, mas o que se faz com o que se tem, e qual o estado de espírito com o que se tem.

Tem você sido grato e grata a Deus pelas coisas que Ele tem lhe dado? Tem você sido grato a Deus por seu salário ou pelo lucro de seus negócios? Tem você sido grato aos seus pais pelos presentes recebidos, pela mesada, e pelo dinheiro que paga sua mensalidade da Escola ou da Faculdade?

Referências:
1 Texto atribuído ao escritor russo Leon Tolstoi.
2 Michael Horton. A Lei da Perfeita Liberdade, p. 212.
3 Loron Wade. Os Dez Mandamentos, p. 93.

Adolfo Suárez

Adolfo Suárez

Ouvindo a voz de Deus

Reflexões sobre teologia e dom profético

Teólogo e educador, é o atual reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e Diretor do Espírito de Profecia da DSA. Mestre e doutor em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Teologia, é autor de diversos livros, e membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.