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Coluna | Adolfo Suárez

Cuidar das pessoas: a missão da Igreja - Parte 1

É nosso dever cuidar dos necessitados e sofredores, dos doentes, dos inferiores e rejeitados e daqueles que são pegos em flagrante pecado.


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cuidar-das-pessoasQual foi o plano original de Deus em relação à Igreja?

“Do princípio ao fim, a Bíblia manifesta interesse no propósito de Deus em criar um povo para Si, um povo que Lhe corresponderia com fé e obediência e que seria uma fonte de bênçãos para todos os povos. O chamado a Abraão, Isaque e Jacó se destinava a formar esse povo (Gênesis 17:1-8; 12:1-3; 15:1-6). Assim foi o chamado a Israel. Quando a nação israelita, porém, se [desviou] e procurou ser autossuficiente como Adão, Deus Se voltou para a criação de um remanescente (Isaías 37:31; Miquéias 2:12; 5:7,8; Sofonias 3:13), por meio de quem Seu propósito de redenção seria cumprido”.[1]

Como parte dos planos de Deus para Sua Igreja, esta deveria desempenhar algumas tarefas muito importantes, as quais garantiriam sua própria manutenção e o preparo de um povo para a vinda do Senhor Jesus Cristo. E “embora a Igreja não possa ser essencialmente definida em termos de suas funções, ainda assim as funções são importantes. A Igreja [...] não foi chamada a existir como um fim em si mesma, mas para cumprir o propósito de Deus, isto é, dar continuidade ao ministério do Senhor no mundo, fazer o que Ele faria se estivesse na Terra. [Por isso], a Igreja não apenas tem uma missão; a Igreja é uma missão”.[2]

Cuidar de todas as pessoas

De acordo com Mateus 25:34-36, a Igreja tem a missão de cuidar de todas as pessoas. E na igreja há todo tipo de gente; a Igreja precisa cuidar dessa variedade de pessoas. Quero mencionar alguns grupos específicos que merecem um cuidado especial da nossa parte.

(1) A Igreja precisa cuidar dos necessitados e dos sofredores

A igreja cristã do primeiro século é um bom modelo neste sentido. “Embora se reunisse para instrução e companheirismo, a igreja primitiva também sentia a responsabilidade de cuidar dos necessitados e dos sofredores. Jesus era conhecido por seu ministério de cura, chegando até mesmo a ressuscitar mortos. Ele esperava que Seus discípulos seguissem Seus passos (Mateus 10:5-8; Lucas 10:1-12, 17) e afirmou claramente que os atos de amor feitos em Seu nome serviriam no último dia para distinguir os crentes verdadeiros daqueles que fazem profissões de fé vazias (Mateus 25:31-46). Repetidas vezes também os apóstolos enfatizaram a importância do cristianismo prático (cf. Tiago 1:27; 2:1-7; 1João 3:15-17).[3]

Eu creio que a Igreja está levando a sério a missão de cuidar dos necessitados e dos sofredores. As diversas ações sociais que fazemos demonstram isso. Entretanto, precisamos continuar identificando os necessitados e os sofredores, para ajudá-los a superar seus desafios.

(2) A Igreja precisa cuidar dos doentes

Mais de 50 milhões de pessoas morrem anualmente no planeta. Segundo a Organização Mundial de Saúde, saber quantas pessoas morrem a cada ano e a causa destas fatalidades é fundamental para identificar problemas e implementar políticas públicas de saúde eficazes.[4]

Diante de tantas doenças e pessoas necessitadas de cuidados especiais, certamente a Igreja não pode e nem deve cruzar os braços. E da perspectiva institucional, a IASD tem feito muito bem a sua parte. Afinal, são pouco mais de 570 hospitais, clínicas, centros de saúde e orfanatos, além de 10 lanchas e aviões missionários.[5]

Todavia, o desafio é que cada membro da Igreja saiba lidar de modo apropriado com os doentes. Afinal, se Jesus é o nosso Modelo, então devemos agir como Ele agiu. E nas palavras de Ellen White, “Jesus dedicou mais tempo a curar os enfermos do que a pregar”.[6]

Como membros da Igreja, precisamos visitar e orar pelos enfermos, interceder por essas pessoas diante de Deus. Precisamos encorajar os enfermos a ponderar e discutir sua atitude em relação à doença e, no caso de uma doença grave, ponderar sua atitude em relação à morte. Precisamos agir como pastores, deixando que as pessoas falem de seus medos, apreensões, raivas e decepções. E mostrar-lhes que, acima de tudo, nosso Deus – nosso Supremo Médico – nos ama, e que está conosco em todas as circunstâncias.

(3) A Igreja precisa cuidar dos excluído, dos inferiores e dos rejeitados

Jesus Cristo foi capaz de alcançar a todos. Ele se relacionou com ricos e pobres, letrados e incultos, mulheres e homens. Ele anunciou e abriu o Reino para todos, mas – não há como negar – Jesus tinha uma simpatia especial com aqueles que a sociedade rejeitava.

À luz de Lucas 15:1-10, aprendemos que os rejeitados, os excluídos, eram recebidos por Jesus, e, além disso, Ele fazia refeições com eles, dando a mais clara demonstração de aceitação e proximidade. Jesus se importava com os rejeitados, e tinha algo importante a lhes dizer. Ao sentir que Jesus Cristo os acolhia, essas pessoas apreciavam ouvir Seus ensinamentos. A atitude de Cristo demonstrava a clara intenção de trazê-los para perto de Deus. Afinal, o Reino é para todos os que desejam participar dele, em atitude de humildade e arrependimento.

(4) A Igreja precisa cuidar dos que são pegos em flagrante pecado

Há nos registros do Evangelho vários momentos espetaculares. Mas há um em especial que demonstra a capacidade acolhedora e perdoadora de Jesus Cristo. A narrativa está em João 8:1-1. Não havia tempo a perder. Havia várias pessoas acusando numa mulher os erros que elas próprios carregavam. Como diz Ellen G. White, “ali, traçados perante eles, achavam-se os criminosos segredos de sua própria vida”.[7] Que conteúdo cruel! Alguma coisa deveria ser feita!

Primeiramente, Jesus vai com calma, e isso esfria os ânimos dos assassinos em potencial. A seguir, Jesus escreve no chão. Ninguém esperava que o Mestre escrevesse no chão; todos esperavam um discurso. Mas Jesus começa Sua aula no chão. Ninguém esperava se ver retratado nos exemplos contundentes da escrita na areia. Foi uma atitude criativa e fenomenal! Transformou a acusada, mas também transformou o coração e mãos dos acusadores. Depois dessa aula escrita no chão, as pedras ficaram pesadas demais, e a consciência explodiu em culpa.

Nesta narrativa impressionante, Jesus ensina Sua igreja a como lidar com quem está em flagrante pecado:

  • Busquemos toda a verdade a fim de não sermos injustos com as pessoas.
  • Sejamos sensíveis e carinhosos com quem peca.
  • Não olhemos apenas para um elemento, mas para o quadro todo.
  • Desafiemos a consciência do acusado e dos acusadores.

Cuidar de todas as pessoas; esta é uma tarefa primordial da Igreja nos tempos atuais. E sendo que a Igreja somos nós, é nosso dever cuidar dos necessitados e sofredores, dos doentes, dos inferiores e rejeitados e daqueles que são pegos em flagrante pecado. Cristo fez isso. E devemos imitá-lo.

 

[1] Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 599-600.

[2] Tratado de Teologia, p. 610.

[3] Tratado de Teologia, p. 611.

[4] Jéssica Soares. “9 doenças que mais matam no mundo”.  In http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/9-doencas-que-mais-matam-no-mundo.

[5] “Summary of Statistics as of December 31”, 2011. http://www.adventist.org/information/statistics/article/go/0/seventh-day-adventist-world-church-statistics-2011.

[6] Ellen G. White. A Ciência do Bom Viver. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000, p. 19.

[7] Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações. 22a edição.Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 461.

Adolfo Suárez

Adolfo Suárez

Ouvindo a voz de Deus

Reflexões sobre teologia e dom profético

Teólogo e educador, é o atual reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e Diretor do Espírito de Profecia da DSA. Mestre e doutor em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Teologia, é autor de diversos livros, e membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.