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Coluna | Adolfo Suárez

Conduzindo os filhos nos caminhos de Deus

Há um papel para a disciplina no desenvolvimento da vida dos filhos


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Foto: Shutterstock

No ano de 1954, a educadora Dorothy Law Nolte escreveu um poema que se tornaria um grande clássico. O poema é intitulado “As Crianças Aprendem o que Vivenciam”. Vale a pena sua leitura:

Se as crianças vivem ouvindo críticas, aprendem a condenar.

Se convivem com a hostilidade, aprendem a brigar.

Se as crianças vivem com medo, aprendem a ser medrosas.

Se as crianças convivem com a pena, aprendem a ter pena de si mesmas.

Se vivem sendo ridicularizadas, aprendem a ser tímidas.

Se convivem com a inveja, aprendem a invejar.

Se vivem com vergonha, aprendem a sentir culpa.

Se vivem sendo incentivadas, aprendem a ter confiança em si mesmas.

Se as crianças vivenciam a tolerância, aprendem a ser pacientes.

Se vivenciam os elogios, aprendem a apreciar.

Se vivenciam a aceitação, aprendem a amar.

Se vivenciam a aprovação, aprendem a gostar de si mesmas.

Se vivenciam o reconhecimento, aprendem que é bom ter um objetivo.

Se as crianças vivem partilhando, aprendem o que é generosidade.

Se convivem com a equidade, aprendem o que é justiça.

Se convivem com a bondade e a consideração, aprendem o que é respeito.

Se as crianças vivem com segurança, aprendem a ter confiança em si mesmas e naqueles que as cercam.

Cada frase deste poema sintetiza grandes verdades. Entretanto, séculos antes de Dorothy, a Bíblia já comentava sobre a importância do que as crianças vivem e sobre a importância de cuidar com o rumo, com o caminho pelo qual nós, pais, as conduzimos. O Provérbio 22: 6 diz: “Eduque a criança no que caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele (versão NVI)”.

Dois princípios

No coração deste provérbio, escondem-se dois princípios perenes da educação familiar: (1) é necessário que pais e mães conscientes liderem a educação de seus filhos e filhas; (2) é necessário que pais e mães eduquem seus filhos e filhas da maneira correta.

  1. Educação familiar consciente

Ana, mãe de Samuel, parece haver compreendido a real dimensão de seu papel materno quando, falando ao sacerdote Eli a respeito de sua alegria pelo nascimento de seu filho, fez a seguinte afirmação: “Eu pedi esta criança a Deus, o Senhor, e ele me deu o que pedi” (1 Samuel 1:27. NVI). Belíssimas palavras que sugerem dois conceitos. Em primeiro lugar, os filhos são uma dádiva de Deus. Sim, os filhos são herança do Senhor. Em última instância, nossos filhos não são nossos; são presentes de Deus para nós. Portanto, devemos cuidar deles com carinho e empenho, pois pertencem ao Senhor.

Em segundo lugar, é necessário compreender que o mesmo Deus que nos ouve quando lhe pedimos um filho, é o Deus que nos acompanha no processo de conduzir a criança no caminho da vida eterna. Um pai e mãe sinceros e bem intencionados – que fazem a vontade de Deus – sempre podem contar com a resposta divina às suas petições. Na caminhada da maternidade e da paternidade, haverá momentos para clamar a Deus em favor dos filhos. Nessas horas, há uma certeza: Deus ouve e responde a oração dos pais e das mães.

  1. Educação familiar correta

Por outro lado, o processo educacional dos filhos deve ser conduzido da maneira correta. Neste sentido, o apóstolo Paulo orienta que os filhos devem ser criados “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4, segunda parte, versão ARA). A afirmação paulina esclarece que a vida familiar não é um circo e nem um piquenique, e tampouco, uma colônia de férias. Na família cristã nem sempre é tudo festa, gargalhadas e brincadeiras. Na vida familiar deve haver disciplina e admoestação.

Este é um aviso aos pais sobre a seriedade da paternidade e da maternidade, mas é também um recado indireto aos filhos sobre o que devem esperar de seus pais. É verdade que os filhos devem esperar que seus pais os protejam, os auxiliem, que sejam sempre presentes e demonstrem carinho e compreensão. Mas é, também, verdade que os filhos devem esperar que seus pais sejam firmes, rígidos, e que não deixem pra lá as coisas erradas que os filhos cometem. Uma família segundo o coração de Deus é um misto de cuidado e proteção, juntamente com disciplina e admoestação. Porque se na família não houver esses dois componentes, os resultados serão desastrosos.

O apóstolo Paulo fala de disciplina e de admoestação. Qual o significado dessas duas palavras? A palavra disciplina neste contexto, na Bíblia, tem dois significados. O primeiro se refere à punição ou castigo. Nas sociedades antigas, em Roma por exemplo, o pater (o pai) tinha direito de propriedade sobre os filhos, podendo vende-los como escravos, deserda-lo, açoita-los, lança-los na prisão, ou até mata-los quando fossem adultos. A legislação judaica, por sua vez, autorizava a morte do filho desobediente. O outro significado ou sentido para disciplina é educação, referindo-se aos elementos que favorecem o desenvolvimento mental, moral e do caráter da criança. Provavelmente esta seja a ênfase do apóstolo Paulo.

O significado de admoestação é instrução e advertência. Com essa palavra, entende-se que os pais têm o dever de ensinar seus filhos nos caminhos do Senhor, e tem a obrigação de chamar a atenção deles quando estiverem fazendo algo errado. Ou seja, os pais não devem negligenciar seu papel de chamar a atenção de seus filhos. Parece que, de modo geral, infelizmente o modelo de família, na atualidade, abriu mão de seu papel preventivo e corretivo. Crianças, juvenis e adolescentes costumam exercer tremenda influência no ambiente familiar. E no desejo de não serem ou parecerem chatos, alguns pais e mães deixam que os filhos cultivem e desenvolvam comportamentos que deformam o caráter.

Todavia, ser bom pai e mãe implica, muitas vezes, em ser ou parecer chato. Igualmente, construir um lar sólido, estabelecer um lar nos caminhos de Deus, colocar a família em primeiro lugar, tem um custo com o qual nem todos podem ou querem arcar. Ser bom pai e mãe pode implicar em menos dinheiro, menos fama, menos projeção social, menos luxo, e às vezes menos projeção profissional. E pode até ser que os pais irresponsáveis olhem com desdém àqueles pais e mães que são verdadeiramente pais e mães. Nessas horas, seria bom lembrar um ditado que define muito bem por que priorizar a família vale a pena: “Nenhum sucesso na vida compensa o fracasso do lar”.

Segundo o coração de Deus

Uma família segundo o coração de Deus deve ser um ambiente de aceitação, de valorização, de afeto. Ao mesmo tempo, deve ser um ambiente onde haja orientações adequadas, com disciplina correta. Uma família segundo o coração de Deus é um misto de cuidado e proteção, juntamente com disciplina e admoestação. Porque se na família não houver esses componentes, os resultados serão nefastos e colocarão em risco a eternidade de todos os membros do lar.

Pais e mães têm a responsabilidade de educar seus filhos de modo consciente e de modo correto. Isso não é nada fácil. Mas, pela graça de Deus, podemos encontrar orientação em Sua Palavra. Tem você buscado essas orientações?

Adolfo Suárez

Adolfo Suárez

Ouvindo a voz de Deus

Reflexões sobre teologia e dom profético

Teólogo e educador, é o atual reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e Diretor do Espírito de Profecia da DSA. Mestre e doutor em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Teologia, é autor de diversos livros, e membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.