A única fonte de autoridade
Explicação sobre o conceito de Sola Scriptura e as implicações que tem na determinação de uma referência de autoridade suprema.
Sabemos que Martinho Lutero desenvolveu quatro princípios para interpretar as Escrituras; o primeiro deles foi Sola Scriptura, “apenas a Bíblia”. É claro que Lutero não inventou esse princípio bíblico, mas o aplicou poderosamente. Na verdade, Sola Scriptura, junto com Sola Fide (somente pela fé) e Sola Gratia (somente pela graça), tornou-se o grito de guerra da Reforma.1
Significado de Sola Scriptura
O princípio da Sola Scriptura se tornou tão poderoso que, quando falamos da autoridade das Escrituras, automaticamente pensamos no princípio da Sola Scriptura, que nos aponta para o fato de que não há outra fonte de autoridade além dela.2 Em outras palavras, o princípio reformador da Sola Scriptura significa que somente a Bíblia, sendo a Palavra inspirada de Deus, é a autoridade final e suficiente da Igreja.3
Por outro lado, a Sola Scriptura não significa que outras coisas não possam ser fonte de informação para a nossa teologia. Por exemplo, os reformadores citavam livremente teólogos do passado como guias de autoridade. Além disso, refletiam sobre a experiência e utilizavam a razão. A Sola Scriptura não exclui boas informações, mas estabelece que, quando temos que escolher, há apenas uma seleção que podemos fazer: somente a Bíblia é nossa autoridade final. Em especial, é a autoridade suprema, em contraste com a autoridade da Igreja com suas tradições.4
Em outras palavras, Sola Scriptura é o princípio teológico protestante de que a Bíblia é o padrão final em todos os julgamentos de fé e prática. E o que fazer com as tradições e costumes da Igreja, com os pronunciamentos dos oficiais da Igreja, com a lei civil, ou com qualquer outra fonte puramente humana, incluindo a razão humana? Todos eles devem ceder ao que a Bíblia diz claramente.5
O contexto da Sola Scriptura
A Sola Scriptura deve ser entendida no contexto histórico da Reforma Protestante. Naquela época, a igreja medieval apresentava, de forma explícita ou implícita, a superioridade da tradição eclesiástica como fundamento da autoridade. Por consciência, os reformadores não aceitaram isso e declararam oposição frontal. Entre outras coisas, eles rejeitaram a mariologia, o culto aos santos, o purgatório, as indulgências, porque esses ensinamentos não tinham suporte na revelação bíblica. Os reformadores entenderam que aceitar essas práticas estava destruindo o evangelho.
Para eles, toda e qualquer manifestação de autoridade – igreja, Estado, pais da igreja, etc. – não têm autoridade em si mesmos, muito menos autoridade divina; eles têm autoridade delegada, derivada e subordinada às Escrituras Sagradas.6 Assim, a Sola Scriptura reflete o princípio de que “somente a Bíblia têm autoridade para a doutrina cristã”.7 Desta forma, as tradições humanas, os ensinamentos de qualquer teólogo respeitado e as decisões da igreja devem ser julgados pela Palavra de Deus.8
Implicações
A Sola Scriptura envolve três aspectos essenciais da teologia bíblica e cristã: (1) a Bíblia é a única e infalível fonte de revelação divina que está disponível para os seres humanos; (2) a Bíblia sozinha é uma base teológica suficiente e totalmente confiável; e (3) a Bíblia é o padrão final e exclusivamente autorizado de interpretação teológica que sustenta e governa todos os outros.9
Isso significa que a Bíblia é nossa referência de autoridade suprema, é nossa referência teológica e é nossa referência de interpretação. Portanto, é nosso privilégio e dever estudá-la com dedicação, tempo e profundidade.
Referências
[1] Raoul Dederen, Handbook of Seventh-day Adventist Theology (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publishing Association, 2001), 89.
[2] Heber Campos, Eu Sou: Doutrina da Revelação Verbal (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2017), 77.
[3] Matthew Barrett, “O Cerne da Verdadeira Reforma,” in Teologia da Reforma, ed. Matthew Barrett (Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2017), 56.
[4] Michael Reeves & Tim Chester, Por que a Reforma ainda é Importante? (São Paulo, SP: Editora Fiel, 2017), 58.
[5] Daniel G. Reid, in Dictionary of Christianity in America (Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1990).
[6] R. J. Rushdoony & P. Andrew Sandlin, Infalibilidade e Interpretação, 2 ed. (Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018), 89.
[7] Douglas Mangum, The Lexham Glossary of Theology (Bellingham, WA: Lexham Press, 2014).
[8] John M. Frame, A Doutrina da Palavra de Deus (São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2013), 306.
[9] John C. Peckham, Canonical Theology: The Biblical Canon, Sola Scriptura, and Theological Method (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2016), 153.