Notícias Adventistas

Coluna | Adolfo Suárez

A influência dos pais na identidade dos filhos

O papel dos pais na formação da identidade dos seus filhos é muito mais profunda do que se imagina. Leia o texto e saiba.


  • Compartilhar:

Foto: Shutterstock

A identidade dos filhos e filhas é influenciada por agentes internos – os lutos – que se referem às perdas definitivas de sua ligação com a infância. Mas não são apenas os agentes internos que influenciam a identidade dos filhos e filhas; há agentes externos muito importantes, dentre os quais os pais são altamente relevantes.

Os pais têm papel primordial na aquisição da identidade, pois “desde a mais tenra infância são as figuras que ajudam a configurar o mundo interno de cada pessoa, determinam grande parte de nossos modelos de vida e nos passam os ideais de cultura na qual nascemos e crescemos. Fica difícil se separar desse mundo interno constituído tão cedo na vida e que será o alicerce para futuros desenvolvimentos; sobre esse modelos se constrói a identidade”.

De modo que “quando os pais ou mães são ausentes, omissos, ou simplesmente não cumprem com suas responsabilidades sociofamiliares, vão esburacando o ego de seus filhos. Faltam, sim, para ajudar a completar essa estrutura fundamental que é a identidade.”[i] Todavia, os filhos muitas vezes não se identificam com os pais; pelo contrário, revoltam-se contra eles, rejeitando seu domínio, valores e orientações sobre particularidades da vida. Esta rejeição é necessária para “separar sua identidade da de seus pais e da necessidade desesperada de participar de um grupo social”.[ii]

Isso implica em afirmar que “a presença externa, concreta, dos pais, começa a ser desnecessária. Agora a separação destes não só é possível, como necessária. As figuras parentais estão internalizadas, incorporadas à personalidade do sujeito, e este pode começar seu processo de individualização... O adolescente tem que deixar de ser através dos pais para chegar a ser ele mesmo”.[iii] Ou seja, ele não pode simplesmente ser uma cópia dos pais; tem que ser ele próprio.

E, para conseguir isso, precisa de certo distanciamento, para finalmente ser ele mesmo. Isso, claro, pode assustar os pais, pois pode parecer que o filho ou filha, agora adolescente, não ama os pais e nem a família. Mas isso não é verdade. O distanciamento psíquico é apenas circunstancial e necessário e fará do adolescente um ser único, autêntico. E, enquanto isso ocorre, os pais devem demonstrar carinho, atenção e compreensão, assim como devem evitar “invadir” sua a privacidade. No momento certo o filho ou filha “voltará” aos pais.

As atitudes e a postura dos pais podem ajudar ou atrapalhar na formação da personalidade do filho ou filha, rumo à maturidade. Os pais exigentes e punitivos, mesmo sem querer ou saber, acabam formando filhos impulsivos e até agressivos, pelo fato de não trabalharem conceitos ou valores internalizados. Por sua vez, pais afetivos e compreensivos favorecem nos filhos a formação de uma personalidade sociável e autocontrolada.[iv]

A psicóloga Elizabeth Hurlock destaca o impacto dos pais nas diversas áreas da vida dos filhos: mental, social, moral e vocacional.[v] Sua saúde mental, por exemplo, é influenciada pela estrutura familiar, assim como pelo papel que ele ocupa nela. Dependendo de como os pais lidam com o primeiro filho, ele pode ser mais ou menos otimista e motivado e pode viver mais ou menos seguro, pelo temor de ser deslocado do espaço que ocupa ou pela tranquilidade de saber que, mesmo sendo o primeiro de dois ou três irmãos, tem espaço garantido na sua composição familiar.

No aspecto social, se o lar e os pais são bem ajustados, o filho ou filha tende a ser socialmente bem sucedido, tornando-se popular entre os amigos e mesmo entre os adultos. Dessa maneira, comunica-se melhor, evita a rebeldia social e valoriza o sentimento gregário.

Quanto ao aspecto moral, um lar equilibrado e maduro é ambiente propício para o desenvolvimento de um filho ou filha de bom comportamento, com padrões firmes de caráter. Por outro lado, filhos que cresceram em lares psicologicamente desajustados, caracterizam-se por demonstrarem mau comportamento intencional, assim como atos de agressividade e delinquência.

Na questão vocacional, o fato de o filho ou filha conviver num lar equilibrado e participativo lhe permite desenvolver atitudes de cooperação e senso de utilidade. Isso se transforma em cuidado pela escolha profissional e amor pelo exercício do trabalho escolhido.

Os tipos de pais

Os pais assumem diversas posturas ou características ao educar seus filhos, e nem sempre têm consciência disso. Nesse caso, podem ser: negligentes, permissivos, autoritários e participativos.[vi]

Os pais negligentes oferecem aos filhos poucas regras e limites, assim como dão pouco afeto e se envolvem pouco nas atividades e na vida deles. Passam a impressão de que há coisas mais importantes do que educar os filhos; eles pensam que os outros (escola, igreja, os próprios filhos, etc.) deveriam fazer isso. E quais os resultados disso? Os filhos de pais negligentes tendem a cultivar as seguintes percepções:

“Eu não tenho valor, e por isso ninguém cuida de mim”.

“Se ninguém cuida de mim, então nada vale a pena, nada tem importância”.

“Se meus pais não se importam comigo, certamente nada há pelo que valha a pena se importar”.

O grande problema causado por pais negligentes é que seus filhos também negligenciam seus relacionamentos, tornando-se descuidados ou agressivos com as pessoas. Em muitos casos, filhos de pais negligentes pensam que a dor do outro não importa; ou seja, não importa o problema do colega ou amigo. Não faz sentido a dor do outro, pois não faz sentido a própria dor. Em síntese: “Filhos abandonados tendem a se abandonar”.

Dito em outras palavras, “filhos de pais negligentes tendem a negligenciar a si mesmos. Eles crescem com uma sensação de terem pouco valor e com alguma frequência aprendem a ferir a si mesmos, seja com notas baixas, doenças ou mau comportamento. É a única forma de receberem algum cuidado”.[vii]

Assim como os negligentes, os pais permissivos oferecem poucas regras e limites aos filhos; mas, diferentemente daqueles, dão bastante afeto aos filhos e se envolvem muito nas atividades. Isto, por si, pode parecer algo bastante positivo, e de fato é. Mas infelizmente não é só positivo. Ocorre que pais permissivos acabam demonstrando outra forma de negligência: embora afetivos, eles são irresponsáveis e pouco participativos quando se trata de chamar a atenção dos filhos, ou quando se trata deixar que os filhos sofram as consequências de suas escolhas. Os pais estão sempre prontos a super proteger os filhos. Isso provoca o sentimento de fragilidade no filho, dando-lhe a impressão de que ele não tem condição de enfrentar nada sozinho: papai e mamãe sempre tem que agir. Isso deixa os filhos inseguros, tristes, provocando uma incômoda baixa auto estima.

Os pais autoritários “oferecem muitas regras e limites, mas pouco afeto e pouco envolvimento na vida dos filhos”.[viii] Podemos caracterizar estes pais como mandões, autocráticos e – algumas vezes – ditatoriais. Pais autoritários “acham que sabem de tudo e que sua experiência e papel os autoriza a não precisar dialogar, negociar ou validar o outro [...] Querem impor seu desejo aos filhos”.[ix] Por terem pouca disposição paro o diálogo, estes pais pouco conhecem seus filhos, os quais crescem sem sonhos ou interesses pessoais.

Por serem severos, exigentes demais, estes pais podem desenvolver filhos perfeccionistas, sempre insatisfeitos consigo mesmos: seus erros, suas falhas comuns; ao mesmo tempo, esses filhos podem ser intolerantes com os outros.

Pais ideais

Os pais ideais são os pais participativos: “impõem regras e limites, mas também dão muito afeto e se envolvem diretamente na vida dos filhos”.[x] E como é possível ser um pai e mãe ideais? Provavelmente o segredo esteja no diálogo. Fundamentados num diálogo maduro, estes pais explicam aos filhos o por que das decisões tomadas. São firmes e claros nas explicações, e ao mesmo tempo demonstram importar-se com os filhos, pois não consideram perda de tempo dedicar minutos ou mesmo horas à exposição de razões aos filhos.

Esta atitude demonstra que os pais participativos não confiam em que a sorte vai determinar a felicidade presente e futura da família. Não. Eles assumem o leme do lar como verdadeiros capitães, e estão dispostos a encarar os desafios, contanto que possam singrar seguros os mares da educação familiar.

Estas são algumas características de pais participativos:

Pais participativos não ficam negociando notas dos filhos na escola; conversam com os professores, sim; mas em lugar de apenas exigir postura diferenciada da escola, exigem que seus filhos levem o estudo a sério. E apontam o melhor caminho para isso ocorrer.

Pais participativos não apenas dizem aos filhos que isto ou aquilo está errado; eles vão além; eles dizem qual o comportamento esperado, focando a postura correta, e não ressaltando a postura errada.

Pais participativos são amorosos e afetivos e, ao mesmo tempo, firmes e que disciplinam. Eles levam a sério o texto bíblico de Efésios 6:4, onde o apóstolo Paulo apresenta as responsabilidades dos pais para com os filhos.

Paternidade e maternidade: sagrado desafio

Efésios 6:4 afirma: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os da disciplina e na admoestação do Senhor”. Se por um lado a primeira parte do verso deixa claro que não devemos ser opressivos, abusivos e descuidados com os nossos filhos, a segunda parte do verso esclarece que a vida familiar não é um circo e nem um piquenique, e tampouco uma colônia de férias. Na família cristã não é tudo festa, gargalhadas e brincadeiras. Na vida familiar deve haver disciplina e admoestação.

A segunda parte do versículo citado acima é um aviso aos pais sobre a seriedade da paternidade e da maternidade, mas é também um recado indireto aos filhos sobre o que devem esperar de seus pais. É verdade que os filhos devem esperar que seus pais os protejam, os auxiliem, que sejam sempre presentes, demonstrando carinho e compreensão. Mas é também verdade que os filhos devem esperar que seus pais sejam firmes, rígidos, e que não deixem pra lá as coisas erradas que os filhos cometem. Uma família segundo o coração de Deus é um misto de cuidado e proteção, juntamente com disciplina e admoestação. Porque se na família não houver esses dois componentes, os resultados serão de tristeza aqui na Terra, com efeitos irreparáveis para a eternidade.

 

[i] Mauricio Knobel. Orientação Familiar, p. 144.

[ii] Dinah Martins de Souza Campos. Psicologia da adolescência: Normalidade e Psicopatologia, p. 89.

[iii] Arminda Aberastury e Mauricio Knobel. Adolescência normal, p. 36 e 66.

[iv] Elizabeth B. Hurlock. Desenvolvimento do adolescente. Tradução de Auriphebo Berrance Simões. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1979, p. 498.

[v] Ibidem, p. 468 a 473.

[vi] Adaptado de Leo Fraiman. Meu filho chegou à adolescência, e agora? São Paulo: Integrare Editora, 2011, p. 38-44.

[vii] Ibidem, p. 39.

[viii] Ibidem, p. 54.

[ix] Ibidem, p. 56.

[x] Ibidem, p. 63.

Adolfo Suárez

Adolfo Suárez

Ouvindo a voz de Deus

Reflexões sobre teologia e dom profético

Teólogo e educador, é o atual reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e Diretor do Espírito de Profecia da DSA. Mestre e doutor em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Teologia, é autor de diversos livros, e membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.