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Coluna | Adolfo Suárez

Lições da vida de João Batista

Designado para uma missão especial, ele preparou o caminho para a chegada do Messias.


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João Batista batizou Jesus antes do inicio de seu ministério público (Foto: Reprodução / YouTube)

“Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos, para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados, graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz. O menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que havia de manifestar-se a Israel” (Lucas 1:76-80).

Em meus cultos diários, além de estudar a Bíblia e a lição da Escola Sabatina, também me aprofundo nos escritos de Ellen G. White. E foi nesse estudo detido, detalhado, minucioso, que eu me deparei com o décimo capítulo do Desejado de Todas as Nações, intitulado A Voz do Deserto. Fiquei impressionado com a personalidade e o caráter de João Batista. Por isso, quero partilhar com você algumas das características que encontrei na pessoa dele.

ELE ERA SANTO

João Batista foi chamado para ser o mensageiro de Jeová. Ele deveria “imprimir” nas pessoas uma “nova direção aos pensamentos”. Ele “devia impressioná-las com a santidade dos reclamos divinos”. Ora, se ele fora chamado para exercer uma obra de santidade, então ele próprio deveria ser santo. João Batista era um santo homem de Deus.

Como filhos de Deus, temos que ser santos. Sabe por quê? “Porque precisamos ser um templo para a presença de Deus”. Ser santo significa ser consagrado a Deus, dedicado a Deus, viver com uma conduta coerente com Deus, que nos convida a sermos santos. Nesse sentido, ser santo não é uma consecução, mas um estado: quando Deus me chama para uma obra, Ele me santifica; me escolhe; me separa; me dedica a Ele.

Você é santo(a)?

ELE ERA DISCIPLINADO

“Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e o amor do luxo e da ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais, e insensibilizando ao pecado”. As pessoas viviam como queriam, e quem quisesse ser diferente, quem quisesse viver a vontade de Deus, precisava dominar “os apetites e as paixões”. Para poder viver a expectativa de Deus, João Batista aprendeu a “dominar suas faculdades”. Dessa forma, ele foi capaz de se manter inabalável na sociedade, tão inabalável “como as rochas e montanhas do deserto”.

João Batista era disciplinado. Ele tinha um caráter firme, decidido, focado. Nada era capaz de distraí-lo da missão que tinha.

Como filhos e filhas de Deus, precisamos ser disciplinados: firmes, decididos, focados, inabaláveis como as rochas. Indisciplinado é alguém desorganizado, bagunçado, que não tem hora pra nada. Disciplinado é alguém organizado, metódico, sistemático.

Você é disciplinado(a)?

ELE ERA REFORMADOR

Diante da bagunça, da licenciosidade e da permissividade de seus dias, “João Batista devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época”.

Note que diante de uma sociedade desregrada, João Batista não fez campanha, projeto ou movimento; não fez cartaz, propaganda ou marketing. Ele era a campanha; ele era o projeto; ele era o movimento; sua vida era seu discurso. Antes mesmo de pregar o que as pessoas deveriam abandonar, ele já demonstrava em sua vida a mudança que deveria ocorrer. Antes mesmo de pregar como as pessoas deveriam viver, ele já demonstrava em sua vida o modo correto de vida.

Ser reformador significa mostrar na vida as mudanças que queremos que ocorram na igreja e na sociedade; ser reformador significa repreender os maus comportamentos com o poderoso sermão de uma vida pautada pela vontade de Deus.

Você é um(a) reformador(a)?

ELE ERA ESTUDIOSO

João Batista tinha um discurso poderoso, tanto na forma quanto no conteúdo. Sim, sua pregação tinha conteúdo sólido. E onde ele estudou? O que ele estudou?

(1) João Batista não estudou nas escolas de teologia da época porque estas não o ajudariam a se preparar para cumprir a missão que ele tinha; os professores de teologia dessas escolas não eram confiáveis;

(2) ele foi ao deserto, local literal e simbólico, que lembra isolamento e concentração;

(3) os temas que estudou foram: a natureza e o Deus da natureza.

Além disso, Ellen G. White ressalta que “João encontrou no deserto sua escola e santuário”. O que ele fazia no deserto? No deserto, “sozinho, no silêncio da noite, [João Batista] lia a promessa feita por Deus a Abraão, de uma semente tão inumerável como as estrelas. A luz da aurora, dourando as montanhas de Moabe, falava-lhe dAquele que havia de ser “como a luz da manhã quando sai o Sol, da manhã sem nuvens”.

João Batista tinha um deserto literal, e nele tinha uma experiência de intenso aprendizado. No deserto, João Batista bebia da fonte do conhecimento.

Você e eu precisamos ter nosso “deserto”, que seja nossa escola e nosso santuário; nossa escola para fortalecer nosso intelecto, e nosso santuário para fortalecer nossa fé. Você tem seu “deserto” de aprendizado? Pode ser seu escritório em casa, no trabalho ou algum outro lugar. Você precisa ter um local onde diariamente possa ler, estudar, aprofundar e escavar a verdade.

Você é estudioso(a)?

ELE ERA SOCIÁVEL

Pelo que comentamos até aqui, pode parecer que João Batista era um alienado, um ermitão. Nada disso. Ellen White escreve que “A vida de João [Batista] não era [...] passada em ociosidade, em ascética tristeza, em isolamento egoísta. [Ele] ia de tempos a tempos misturar-se com os homens; e era sempre observador interessado do que se passava no mundo. De seu quieto retiro, vigiava o desdobrar dos acontecimentos. Com a iluminada visão facultada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens, a fim de saber como lhes chegar ao coração com a mensagem do Céu”.

João Batista tinha uma personalidade interessantíssima, que misturava estilo introvertido e extrovertido. Em sua introversão, passava longo tempo no deserto; em sua extroversão, se misturava com as pessoas.

A vida de João Batista, entre o deserto e as multidões, é um tremendo puxão de orelhas nas pessoas que pensam que a vida cristã se resume a morar nas montanhas, e de lá ficar criticando meio mundo. Preste atenção ao que Ellen G. White registrou: “Os que buscam esconder sua religião [...] ocultando-a dentro de muros de pedra, perdem valiosas oportunidades de fazer o bem. Por meio das relações sociais, o cristianismo se põe em contato com o mundo”.

A vida de João Batista, entre o deserto e as multidões, é uma tremenda inspiração.

Você é sociável?

ELE ERA SINGULAR

João Batista era singular, único. Mas sua singularidade, em vez de torná-lo alguém estranho, esquisito, o tornava alguém atrativo. Ellen G. White afirma que “o singular aspecto de João fazia a mente dos ouvintes reportar-se aos antigos videntes. Nas maneiras e no vestuário, assemelhava-se ao profeta Elias. Com o espírito e poder deste, denunciava a corrupção nacional, e repreendia os pecados dominantes. Suas palavras eram claras, incisivas, convincentes. Muitos acreditavam que fosse um dos profetas ressuscitado. Toda a nação se comoveu. Multidões afluíam ao deserto”.

Ser singular significa ser diferente, inigualável, incomparável. Nós não devemos ser mera cópia de outro. Nós somos especiais, não a ponto de sermos excêntricos, bizarros, mas a ponto de sermos ímpares e sui generis.

Você é singular?

ELE ERA UM PREGADOR ENTUSIASTA

João Batista era um pregador poderoso e entusiasta. Os antigos compreendiam a palavra entusiasmo como se referindo a alguém inspirado ou possuído pela presença de Deus. Assim, o entusiasta seria alguém que tinha Deus. E João Batista certamente tinha Deus. Ellen G. White escreve que ele falava palavras que tocavam fundo no coração das pessoas, e ao ouvi-lo, as multidões reagiam com convicção, a ponto de perguntarem: “E agora, que faremos?” E ele respondia: “Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira” (Lucas 3:10, 11). E advertia os publicanos contra a injustiça, e os soldados contra a violência.

Quando você pregar, faça-o com tal poder e entusiasmo que as pessoas sintam o desejo de se entregar a Deus e mudar de vida.

Você é um(a) pregador(a) entusiasta?

ELE ERA HUMILDE

João Batista adquiriu reconhecimento, fama, boa reputação. Mas ele sempre se manteve humilde. Isso é bem ilustrado por estas palavras de Mateus 3:11: “Eu batizo vocês com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de carregar as sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo”.

João Batista sabia quem ele era, mas também sabia quem não era. Ele era humilde. Humildade é a virtude que nos dá o sentimento de nossa fraqueza e limitações. Humildade é modéstia. Ser humilde é permitir que a vontade de Deus floresça em nossa vida. João Batista viveu assim. Nunca se considerou “a cereja do bolo”. E embora corajoso e decidido, se manteve humilde ao longo de seu ministério.

Você é humilde?

CONCLUSÃO

Eu quis partilhar com você algumas poucas características da pessoa de João Batista: Ele era santo, disciplinado, reformador, estudioso, sociável, singular, um pregador entusiasta, humilde.

Você consegue imaginar o efeito de alguém com essas características convivendo com outras pessoas?

O efeito será extraordinário, assim como foi a vida de João Batista. “Muitos deram ouvidos a suas instruções. Muitos sacrificaram tudo, a fim de obedecer. Multidões seguiam a esse novo mestre de um lugar para outro”.

Tudo o que eu escrevi pode ser resumido nesta frase: “Mais do que apenas impacto ou admiração, a vida de um verdadeiro cristão causa efeito transformador na vida das pessoas ao redor”.


Para compreender mais sobre a pessoa e ministério de João Batista, veja o vídeo a seguir:

Adolfo Suárez

Adolfo Suárez

Ouvindo a voz de Deus

Reflexões sobre teologia e dom profético

Teólogo e educador, é o atual reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e Diretor do Espírito de Profecia da DSA. Mestre e doutor em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Teologia, é autor de diversos livros, e membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.