Adiante da honra vai a humildade
Como alcançar a virtude da humildade? Dicas práticas nesse artigo.
Os filósofos clássicos da antiguidade valorizavam muito o cultivo e a prática das “virtudes”, a qual é entendida como disposição firme e constante para a prática do bem. Virtude também se refere à boa qualidade moral, força moral, valor. Foram os filósofos do classicismo grego os quais começaram praticamente essa discussão a respeito das virtudes. Para eles, virtude era sinônimo de ética; a ética fundamentava-se na virtude.
O que é a humildade?
Humildade é a virtude que nos dá o sentimento de nossa fragilidade. Etimologicamente, humildade vem de húmus, palavra de origem latina que quer dizer “terra fértil, rica em nutrientes e preparada para receber a semente”. Desta maneira, humildade é a disposição de aprender, a fim de deixar brotar na vida a boa semente, em forma de bom comportamento e de obediência à verdade.
O mais conhecido verso sobre humildade talvez seja o de Filipenses 2:8. Aqui, o significado de humildade é “tornar baixo, abaixar-se, ausência de vaidade”. Podemos, então, dizer que o apóstolo Paulo usa o vocábulo humildade tendo o significado de “ausência do espírito de competição e de vanglória”.
Contrário ao que alguns pensam, a humildade é firme e segura. A humildade não condescende com a hipocrisia e não é sinônimo de pieguice. Calar-se diante do erro não é humildade, mas exasperar-se, mesmo estando certo, também não é humildade. Humildade não é esconder-se, esquivar-se, fugir. Atitude humilde é buscar justiça, com coragem, valentia e paciência.
Exemplo de humildade
Um dos mais impactantes exemplos bíblicos de humildade é o profeta Elias. O escritor batista Charles Swindoll define o profeta Elias como “um homem de heroísmo e humildade”. Na verdade, o profeta Elias é um misto de coragem, poder e humildade. A começar pelo seu nome. Na grafia hebraica de Elias temos as palavras “Deus” e “Jeová”, e o pronome pessoal “meu” no meio. De maneira que Elias significa “Meu Deus é Jeová”, ou “o Senhor é o meu Deus”. Que nome poderoso!
Imagine, então, quando Elias se apresenta diante do rei Acabe para dizer que não haveria chuva nos próximos anos; assim que ele entra em cena, seu próprio nome já faz sua apresentação: “Eu tenho um Deus. Seu nome é Jeová. Ele é o único a quem sirvo e diante de quem me prostro. Por isso, em nome do Deus vivo de Israel, não vai cair orvalho nem chuva durante os próximos anos, até que eu diga para cair orvalho e chuva de novo” (veja 1 Reis 17:1). Que palavras tremendas!
O povo de Israel estava vivendo durante mais de cinco décadas de descrença, assassinatos, idolatria, impiedade e declínio espiritual. De repente, da cidade de Tisbé, da região de Gileade, eis que Deus suscita um profeta.
Gileade era um lugar solitário; seus habitantes eram provavelmente rudes, pele queimada pelo sol, corpos musculosos e fortes. Não era um lugar de sofisticação, de leitura, de monografias ou diplomacia. Por causa disso, Elias não era um sujeito sofisticado. Ele não segue o protocolo, não marca audiência com o rei, não se intimida com os guardas fortemente armados, e não faz deferência diante da realeza. Simplesmente aparece do nada, e dá o seu recado: “Pessoal, com Baal ou sem ele, vocês não terão nada de chuva. E, sem chuva, vocês não terão colheita. E sem colheita, seu gado vai morrer. E sem o gado, vocês vão morrer. Acabou a festa! Fui!”.
Onde está a humildade de Elias? Ele faz, única e estritamente, a vontade de Deus. Lembre-se: Ao falar com o rei Acabe da maneira que o fez, Elias estava arriscando a própria vida; afinal, Acabe pertencia a uma família de assassinos e degoladores. De fato, Elias era corajosamente humilde. Corajoso por arriscar a vida, e humilde por se dispor a fazer a vontade de Deus a qualquer preço.
Elias também foi humilde ao aceitar ser treinado no riacho de Querite, onde a água e demais mordomias logo acabaram. A palavra Querite significa “cortar, colocar no tamanho certo”. Literalmente, Elias foi cortado da sociedade para que sua vida estivesse na medida certa a fim de cumprir a missão de Deus. Elias foi humilde ao aceitar o treinamento avançado em Sarepta. Sarepta deriva de um verbo hebraico que significa “fundir, refinar”. Em Sarepta Deus refinou ainda mais este profeta, e o preparou para o difícil desafio que ainda lhe esperava.
Foi em Querite e em Sarepta que Deus ensinou a Elias como se vive longe da badalação e da festa. Foi nesses lugares retirados, mediante a disciplina do silêncio e da solidão, que Elias aprendeu a andar humildemente diante de Deus: sem vaidade, sem orgulho, sem arrogância, mas em absoluta dependência.
Desenvolvendo humildade
Ser humilde, praticar a humildade – sem pieguice e falsa mansidão – é desafiador. O que fazer? Considere estas sugestões para desenvolver a humildade.
- Estudemos e reconheçamos a grandeza de Deus. Toda vez que entendemos e reconhecemos a grandeza de Deus, percebemos que somos pequenos demais para sermos orgulhosos ou arrogantes.
- Valorizemos o talento dos outros. Há gente talentosa, capaz, que muitas vezes faz parecer infantis nossas maiores habilidades. Portanto, qual a razão para nossa arrogância?
- Admitamos nossos fracassos. Somos seres humanos, e podemos falhar, e nisso não há vergonha nenhuma.
- Abandonemos a mentalidade de que o “eu” sempre tem que vir primeiro. Ou seja, desenvolvamos o hábito de pensar nas outras pessoas.
- Evitemos ficar contando vantagem. Não há necessidade de alardearmos nossas realizações. Se for o caso, deixemos que os outros façam nossa propaganda.
- Agradeçamos pelos elogios, mas não nos deslumbremos com a nossa capacidade. A fama e a pompa são ilusórias e traiçoeiras. Duram pouco e cobram muito.
- Fiquemos longe de gente que deseja dominar os outros. Quando convivemos demais com gente que ama o poder, corremos o risco de abandonarmos a humildade.
- Acima de tudo, oremos a Deus para desenvolver esta virtude.
Em síntese, humildade consiste em submeter nossa vontade à vontade de Deus. E isso pode ser duro, difícil. Pode ser doloroso. Pode contrariar nossos gostos, nossos desejos. Aprender a humildade é realmente um processo que dura a vida inteira. E ocorre, genuinamente, apenas pela graça de Deus.