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Column | Para ser livre

Liberdade religiosa e ecumenismo

O direito à liberdade religiosa e as diferenças com o ecumenismo, desde uma perspectiva adventista.


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Ecumenismo é o movimento que promove a união entre denominações cristãs, sem alterar suas diferenças doutrinárias (Foto: Shutterstock)

O desconhecimento dos protocolos propostos pela liberdade religiosa para conduzir os relacionamentos com outras denominações cristãs e demais religiões tem levado muitas pessoas a olharem com reservas para essas ações. Isso gera a necessidade de conscientização permanente para evitar uma confusão muito comum: classificar qualquer aproximação com outros grupos religiosos como ecumenismo.

Por mais que os líderes dos movimentos de liberdade religiosa e os dirigentes das organizações ecumênicas atuem em campos distintos, com objetivos diferentes e poucos pontos em comum, como a busca pela paz mundial, a falta de clareza sobre essas diferenças desestimula o engajamento. Assim, muitos que poderiam apoiar a defesa da liberdade de religião e crença acabam se afastando.

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Pocisionamento da Igreja

O que a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) pensa a respeito do ecumenismo e como ela define a sua atuação junto às organizações que defendem essa bandeira? É exatamente esse o objeto de consideração do sexto Marco referencial adventista, “Liberdade Religiosa X Ecumenismo”, que se encontra no Manual Prático para Diretores de Liberdade Religiosa de Igreja Local, preparado pela sede sul-americana adventista, a Divisão Sul-Americana, que afirma:

“‘Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados’ (2 Pedro 1:12). Quando se estabelece contato com pessoas de outras confissões é, exclusivamente, para trabalhar em favor do direito à liberdade religiosa para todos e nunca para união doutrinaria.”

História do ecumenismo

Em um artigo intitulado O Movimento Ecumênico: História e Significado, publicado na revista Numen, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Zwinglio M. Dias sintetiza as diversas ênfases dadas ao longo do tempo para o uso da palavra "ecumenismo", derivada de "oikoumene", de origem grega. Ela tem sido utilizada com significados distintos para referir-se à geografia, cultura e política, sendo que, com este último sentido, é mencionada em 15 passagens do Novo Testamento.

Com conotação religiosa, a palavra "ecumenismo" apareceu de maneira mais enfática somente a partir do final do século XVII, conforme escreveu Julio de Santa Ana. Foi apenas em tempos mais recentes que uma organização ecumênica foi estabelecida: o Concílio Mundial de Igrejas (CMI), criado em 1948. Essa entidade se tornou a mais importante organização ecumênica do mundo e tem sua sede em Genebra, Suíça. Por ocasião da celebração dos seus 75 anos de fundação, em 2023, o CMI congregava 352 igrejas protestantes, ortodoxas, anglicanas e evangélicas, representando cerca de 580 milhões de cristãos em mais de 120 países.

Como parte das respostas que se pretende oferecer neste artigo, Ángel Manuel Rodríguez, respeitado teólogo adventista, afirmou: “O envolvimento adventista em conversas inter-religiosas nunca teve o propósito de buscar unidade com outros corpos eclesiásticos. Temos usado essas conversas como um meio de compartilhar nossa verdadeira identidade e missão com outros, e como um meio de eliminar mal-entendidos e preconceitos contra nós.”

Os adventistas e o ecumenismo

A IASD jamais renunciará ao seu senso de identidade e missão. Com convicção extraída das Sagradas Escrituras, os adventistas se definem como um movimento profético, de origem profética, missão profética e destino profético, sendo uma organização distinta no cenário religioso. A Igreja Adventista não se coloca em posição de superioridade em relação a outros grupos religiosos, cristãos e não cristãos, mas reafirma sua identidade distintiva.

Por essa razão, a IASD não é membro de nenhuma organização ecumênica. No entanto, seus representantes participam ocasionalmente de suas reuniões na condição de observadores. Rodríguez, no mesmo artigo, também mencionou que: “Os adventistas não se isolaram do mundo cristão e de sua busca pela unidade. Temos nos envolvido seletivamente em conversas com outras comunidades religiosas, não porque queremos buscar a unidade em seus termos, mas porque queremos nos dar a conhecer e, ao mesmo tempo, eliminar equívocos.”

Dessa forma, o autor afirma que embora os adventistas não devam se isolar das demais comunidades de fé, eles jamais buscarão a “unidade em seus termos”, referindo-se à sincretização doutrinária, uma tentativa de aceitar e reunir as doutrinas características dos afiliados das organizações ecumênicas.

Bert B. Beach, que por 15 anos (1980-1995) foi diretor de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa na sede mundial da IASD, fez importantes análises sobre a incompatibilidade dos adventistas com os ideais ecumênicos no artigo Os Adventistas do Sétimo Dia e o Movimento Ecumênico. Ele escreveu:

“Como os adventistas podem ter mais sucesso em cumprir o mandato profético? Nossa opinião é que a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode cumprir melhor seu mandato divino mantendo sua própria identidade e motivação, seu próprio sentimento de urgência e seus próprios métodos de trabalho.”

Contato sem união

Depois de abordar outros aspectos que também são irreconciliáveis com o adventismo, a conclusão do doutor Bert Beach foi: “A experiência tem ensinado que a melhor relação com os vários conselhos de igrejas (nacional, regional, mundial) é a de status de observador-consultor. Isso ajuda a Igreja a se manter informada e a entender as tendências e desenvolvimentos. Ajuda a conhecer os pensadores e líderes cristãos. Os adventistas têm a oportunidade de exercer uma presença e tornar conhecido o ponto de vista da Igreja. A adesão como membro não é aconselhável.”

John Graz, que também foi diretor de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa da sede mundial da IASD, no período 1995-2015, declarou no artigo O Ecumenismo e a Igreja Adventista:

“Os adventistas do sétimo dia não deveriam perder oportunidades de interagir com outras denominações e mostrar-lhes quem somos e onde estamos como comunidade que crê na Bíblia. Temos uma mensagem preciosa e única para compartilhar com o mundo, mesmo com outras denominações e grupos ecumênicos.”

Construindo pontes de evangelismo

A IASD mantém uma posição de respeito e relacionamento cordial com as organizações ecumênicas. Ainda assim, reconhece a existência de vários pontos divergentes na compreensão e prática de aspectos fundamentais que definem a essência de quem são os adventistas e sua posição no cenário religioso. Esses aspectos, apresentados parcialmente neste artigo, estão descritos no livro Declarações da Igreja, lançado pela Casa Publicadora Brasileira, editora oficial da IASD no Brasil. Ele fornece razões sólidas para que os adventistas não se filiem a nenhum organismo militante do ecumenismo.

Como mencionado, líderes adventistas participam ocasionalmente de reuniões ecumênicas na condição de observadores. Nessas ocasiões, aproveitam a oportunidade para interagir respeitosamente com outros grupos religiosos e, especialmente, para apresentar suas crenças e convicções, cumprindo a recomendação de Cristo de ser luz e sal no mundo.

Debruçar-se sobre este tema oferece-nos uma chance extraordinária de reafirmar a compreensão do papel distintivo do movimento adventista, e de entender a responsabilidade individual que cada crente pode desempenhar como construtor de pontes, demonstrando por meio de atitudes cordiais e respeitosas, mesmo para com aqueles que pensam e agem de forma diferente.

Essa posição certamente despertará o desejo de exercer algum papel significativo na promoção, proteção e defesa da liberdade religiosa para todos.  E você, caro leitor, aceita esse desafio?


Referências

Para ser livre

Para ser livre

Para ser livre

Uma compreensão adventista sobre o direito à liberdade de religião e crença

Helio Carnassale é teólogo, mestre em Ciência das Religião, e foi diretor do departamento de Liberdade Religiosa da sede sul-americana adventista. Heron Santana é jornalista e diretor do departamento de Comunicação e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista para os Estados da Bahia e Sergipe.